Por esses dias a mídia tem dado amplo espaço ao
hilário comportamento do Senador Elmano Férrer, o “véin trabaiador”, que teve sua indicação publicamente ignorada para a direção no Piauí do
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Inconformado chegou a
usar palavras pouco usuais para um senador, afirmou que ia para oposição e que
lá ia "botar pra quebrar".
Na
mesma condição, o Secretário Estadual de Segurança Pública, deputado federal Fábio
Abreu, encontra dificuldades para emplacar um nome – Francisco Robério Batista, professor do Estado
do Maranhão e, coincidentemente, seu cunhado - na direção da Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM).
Nos
dois casos os motivos são óbvios: a falta de prestígio político da bancada
piauiense. Mas isso tem uma razão de ser: a micropolítica que eles fazem. Eles
e os outros da nossa bancada. Usando uma explicação do jornalista Bernardo
Silva: “são uns pobres coitados que se
contentam em viver debaixo da mesa comendo migalhas que sobram do banquete que
é servido aos demais Estados do Nordeste”.
Eis a razão de serem
desmoralizados a toda hora pelo governo federal: nossos deputados e senadores
vivem dizendo amém à presidente e não discutem ideias, nem projetos para o
nosso Piauí. Esses homens e mulheres foram
eleitos com um discurso de “renovação, seriedade e compromisso”, mas revelam
não ter uma posição ideológica clara, nem pacto ético com as causas que afligem
nossa população.
Esta
mentalidade é que empobrece nosso estado. O Piauí não é pobre, está pobre! E, a
raiz da nossa pobreza está na forma de gerenciamento dos recursos públicos por esta
casta política que ao longo do curso da história se apropriou dos bens do povo
como algo privado, beneficiando somente a sua rede de sustentação política em
detrimento da gestão que deve promover o bem estar social. Vem de longe essa
“coisa”...
Estar
próximo do Executivo é uma estratégia inteligente e que pode resultar em
benefícios à coletividade. Desde que a motivação de apoiar o governo seja pela
concordância com bandeiras que melhore a vida das pessoas. Porém não é essa a
constatação. Pra nossa bancada, ser governo é sinônimo de ter espaço de
indicação de algum cargo público. Historicamente, a presidência da república
sabendo disso, controla tudo. Mantém a base de sustentação com a moeda de troca
que em muito agrada nossos parlamentares: cargos! Isso lhes basta!
Isso faz revelar outro aspecto interessante da atual
classe dirigente e que merece destaque é o “amor à família” que se manifesta em
diversas fases e formas. Exemplos mais comuns: indicação para cargos no governo
e apresentação de membros do núcleo familiar mais próximo para concorrer a
cargos eletivos aumentando o espaço de poder conquistado ou sucedendo o
mandatário (esposa e filho, preferencialmente).
O posicionamento da nossa representação política em
relação ao governo federal nos envergonha. Isso dito da bancada federal também
se aplica na mesma proporção aos níveis estadual e municipal, ressalvado
raríssimas exceções. Pois o fato que caracteriza de maneira mais realista os
governos contemporâneos não é a clássica divisão tripartite dos poderes, mas
sim a divisão do processo político em dois grandes atores coletivos: governo
e oposição. E novamente vale às três esferas de poder. O Legislativo tem
sido uma espécie de “extensão de secretaria”, fazendo o que convém e interessa
ao Executivo.
O que caracteriza o tamanho e a força de um
fenômeno recorrente na vida republicana do país: o “governismo”. Ser governista
traz vantagens óbvias, como a ocupação de cargos comissionados, garantindo
o controle de verbas e políticas públicas as mais variadas. O controle de
tais recursos, por sua vez, pode ser revertido em votos e, assim,
promover o crescimento do partido, do político. Com isso,
consegue negociar mais cargos e mais recursos, e, às vezes, até conquistar
a posição de seu maior interesse. Portanto, ser governista pode significar
a entrada num “ciclo virtuoso”.
O meu desejo era
escrever sobre outras coisas que não o desalento pela dilapidação do capital
ético da representação política do país, do estado e da cidade. O que está
faltando e sempre faltou é uma elite dirigente com compromisso com a coisa
pública, capaz de fazer na Parnaíba, no Piauí e no Brasil o que precisa ser
feito: aplicar corretamente os recursos públicos com investimentos em capital
humano.
Nas três esferas de
poder passamos por uma “entressafra” de líderes políticos, onde os
velhos caciques mofaram mergulhados na corrupção. Os novos que se apresentaram utilizaram
um falso discurso. A realidade é a falta de compromisso com a missão do mandato
onde utilizam a mesma prática viciada e corrupta, embora às vezes lançando mão
de mecanismos sofisticados de escamotear a malandragem.
Chega! Política não é profissão! Quem não pode estar a
serviço da sociedade cumprindo fielmente honrosa missão confiada pelo sufrágio
universal que se envergonhe e abdique do cargo. Senão, cuide o próprio eleitor
de eliminar os oportunistas e aproveitadores na próxima eleição.
Disse o filósofo Ludwig Feuerbach: “Os homens esqueceram-se do poder que
realmente tinham e depositaram em figuras quase que imaginárias ou totalmente
imaginárias e eis a razão da alienação porque a maioria do povo passa hoje”.
O povo tem o poder, mas não tem consciência disso! É hora de acordar!!!
(*)
Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.
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