8 de jun. de 2015

Medalha, hipocrisia e oportunidade: o que precisa a juventude?! (*)



O atleta Lucas Gualberto Gomes do Nascimento de 17 anos sagrou-se campeão na categoria juvenil meio pesado da faixa azul durante o Campeonato Mundial de Jiu-jítsu no mês passado em Long Beach, Califórnia, Estados Unidos. Ele é o primeiro lutador do Piauí a conseguir este feito. É uma das revelações do projeto “Lutando pelo Futuro” financiado pela Prefeitura de Parnaíba. Parabéns ao Lucas e ao projeto!
O Lucas não chegou aonde chegou do nada: isso é obra de muito esforço!
Durante o evento de homenagem ao jovem campeão, o prefeito Florentino Neto (PT) prometeu construir um centro de artes marciais para o município visando criar a estrutura necessária de preparação esportiva para os atletas. A manifestação inequívoca de apoio precisa sair desses momentos festivos.
A abordagem do prefeito sobre os fatos não é feita pela ótica da normalidade, daquilo que é a rotina do cotidiano, mas da exceção. Espera-se mais da municipalidade e do seu gestor. Não o discurso por ocasião de um resultado que é mais mérito pessoal e da determinação do Capitão Heleno Maia, coordenador do projeto, que propriamente do prefeito que tenta capitalizar dividendos políticos do importante momento.
Não há discurso mais fácil do que repetir “vamos apoiar nossos jovens”. Nada mais é preciso depois dessa sentença mágica: seu autor é automaticamente visto como um ser nobre, sensível, um humanista. Quem pode ser contra uma política pública para a juventude? Porém o debate sério e honesto deve ser qualificado: qual política? Quem paga? Que modelo? E esse modelo atual que temos?
O projeto “Lutando pelo Futuro” é um exemplo bem sucedido do que se pode chamar de inclusão social. Conheço e reconheço o seu valor, mas sei as quantas duras penas ele se mantém. Jovens carentes e suas famílias fazem enormes sacrifícios e até campanha para comprar o kimono (farda-equipamento).
Se se quer mesmo criar condições para oportunizar nossa juventude a ter uma vida mais saudável poderia a prefeitura cuidar das quadras poliesportivas, criando um calendário de eventos comunitários; aparelhar melhor e apoiar as ações dos Centros de Referência de Assistência Social, os CRAS’s; ofertar uma educação de melhor qualidade; combater o avanço das drogas e investir no tratamento de dependentes, etc.
As políticas de inclusão de jovens devem ter maior abrangência e ir fundo na oferta de serviços que ajudem a mitigar carências materiais e de acesso às oportunidades. Há ritos de passagem que não estão acontecendo, a sociedade e o poder público não oferecem as necessárias oportunidades para que os jovens ascendam ao mundo adulto com dignidade. Esse é um quadro real da Parnaíba: os jovens estão largados!
Igual que o “Lutando pelo Futuro” teve o projeto “Navegar” que também foi um marco na administração Paulo Eudes, mas que simplesmente se deixou de apoiar. Há, inclusive, denúncias graves de irregularidades na condução do mesmo. Dele saíram campeões e novos cidadãos. Não tem segredo: os jovens precisam é de oportunidade. Quantos campeões estão adormecidos pelos guetos da cidade?
O esporte aliado à educação é uma poderosa arma na área da proteção social e resgate de crianças e jovens em situação de risco, pois crescem com mais saúde; relacionam-se melhor com a sociedade; têm um rendimento melhor na escola; e consequentemente se afastam do mundo do crime e das drogas. O somatório destas características proporciona a formação de um cidadão que muito será útil para o progresso da cidade.
Os estudos nas mais diferentes modalidades apontam para os benefícios da iniciação esportiva, bem como para os riscos, se afastada de uma base pedagógica.  A ONU observou que o esporte, mesmo que tenha como princípio o desenvolvimento físico e da saúde, serve também para a aquisição de valores necessários para coesão social e mundial. Esporte vai muito além das disputas dentro dos estádios e ginásios. Cada vez mais cresce a sua importância como ferramenta de inclusão social.
Desenvolver o cidadão através de práticas esportivas é um método que dá certo. Afinal, não é de hoje que se escuta falar de crianças e adolescentes que mudaram suas vidas e tornaram-se verdadeiramente cidadãos de “bem”, após participar de projetos sociais.
Entende-se que o esporte, como instrumento pedagógico, precisa se integrar às finalidades gerais da educação, de desenvolvimento das individualidades, de formação para a cidadania e de orientação para a prática social. A educação através da escrita, da leitura, da sala de aula, da arte, etc. tem essa capacidade de formar aquele que participa da vida política, econômica e social de sua comunidade e, consequentemente, de sua cidade. É neste ponto que entendemos o papel decisivo do esporte, juntamente com a educação, na busca por princípios e valores sociais, morais e éticos.
Cabe ao poder público investir e comprometer-se seriamente com estas áreas e ao mesmo tempo aperfeiçoar a interface existente entre esporte e educação como elementos básicos para a melhoria da qualidade de vida da sociedade como um todo. Afinal é bom tirar uma foto ao lado de um jovem campeão!


(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.       

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