16 de jun. de 2015

FOLHA DE SÃO PAULO: Grupo usou facões e lanternas para achar as vítimas de estupro no Piauí

Um grupo de moradores, a maioria jovens, foi responsável por encontrar as quatro meninas de Castelo do Piauí (184 km de Teresina) desacordadas e muito feridas, após sofrerem estupro coletivo e serem jogadas de um precipício de oito metros.
Eles alegam que houve descaso da polícia, que nega.
O caso parece roteiro de filme. Na tarde de 27 de maio, quatro adolescentes entre 15 e 17 anos saem com duas motos dos pais para fazer fotos em um morro com vista panorâmica da cidade.
Ao mesmo tempo, policiais se preparam para uma ronda perto do morro, a 1,5 km do centro da cidade de 18 mil habitantes, à procura de um acusado de assaltar a gerente de um posto, dias antes.
Eles haviam recebido a informação de que Adão José de Sousa, 40, que já havia cumprido pena em São Paulo por roubo e homicídio, estava escondido no local. Ao se aproximarem do morro, avistam duas motos estacionadas. Dizem que subiram o morro, mas não encontraram ninguém. Colocam as motos sob uma camionete e as levam à delegacia.
Lá, um parente de uma das vítimas reconhece uma das motos e alerta a família da menina. Logo os pais das outras garotas são avisados sobre o desaparecimento delas, tal qual amigos e vizinhos.
Foto: Fábio Braga/Folha PressFoto: Fábio Braga/Folha Press
MOBILIZAÇÃO
Começa uma mobilização. De início, suspeitam de sequestro. Uma rádio local transmite o caso ao vivo. Um grupo vai para a delegacia, mas, segundo a versão dos moradores, só havia um policial à paisana, que, de acordo com eles, disse nada poder fazer –por estar só.
Castelo do Piauí está sem delegado desde o início do ano. Só há um policial militar e um policial civil a cada turno diário. A delegacia é um cubículo de duas salas. Foi então que, armados de lanternas e facões, amigos das meninas subiram o morro, mesmo sem ajuda policial.
O repórter da Folha refez o caminho com dois desses rapazes. São cerca de dez minutos, o caminho é íngreme e há pedras soltas. "Primeiro avistamos um short no chão, depois um sutiã pendurado na árvore";, conta I., 17.
Franklin, 22, vasculha o local e vai até a beira do precipício, aponta a lanterna para baixo e vê as meninas no chão. "Pensei que estavam mortas."; Desceu os oito metros segurando na vegetação.
As garotas estavam ainda amordaçadas com suas próprias roupas. Ao se aproximar delas, percebeu que uma estava consciente. "Para, pelo amor de Deus";, disse a menina, pensando se tratar ainda dos seus estupradores. Ao saber que estava nas mãos de amigos, chorou, agradecida.
Foto: Fábio Braga/Folha PressFoto: Fábio Braga/Folha Press
As demais continuavam desacordadas, mas respirando. "Cortei panos e cordas que estavam no pescoço delas. Tiramos nossas camisetas para cobri-las. Também proibi que tirassem fotos delas. Cheguei a quebrar o celular de um dos caras."
Edison Lima, coordenador da Polícia Civil local, diz que a população ajudou, mas não houve omissão da polícia. "Foi um trabalho conjunto", diz. Segundo ele, mais de 80 policiais da região foram deslocados para o município.
Para Jorge Feitosa, pai de Danyelle, 16, que morreu no vítima dos ferimentos do estupro coletivo, os policiais falharam. "Se tivessem vasculhado a área direito, quando encontraram as motos, eles [os criminosos] teriam fugido e, talvez, não teriam tido tempo de fazer o que fizeram."
Adão José Silva Souza e os adolescentes I.V.I., 15, J.S.R., 16, B.F.O.,15, e G.V.S., 17, estão detidos em Teresina. O maior, apontado por um dos menores como mentor do crime, nega o envolvimento.
Os quatro adolescentes confessaram o crime no dia em que foram apreendidos, mas três deles passaram a negar o estupro. Dois dizem que foram espancados. Por fotos, as meninas violentadas reconheceram os menores.
Fonte: com informações da Folha de São Paulo
Publicado Por: Fábio Carvalho

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