25 de mai. de 2015

Qual a vocação econômica da Parnaíba? (*)


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É fato histórico que Parnaíba já ocupou uma posição de destaque na economia regional e até nacional. A vocação mercantil da cidade começou a se delinear ainda no século XVIII, com a criação do gado e particularmente no fortalecimento da atividade de beneficiamento da carne bovina em forma de charque para ser exportada, posteriormente aquecida pelo extrativismo.
O incremento da navegação fluvial a partir de 1859 contribuiu para consolidar a economia parnaibana, em particular com a instalação de empresas nacionais e estrangeiras de importação e exportação, que davam fôlego às atividades mercantis na cidade.
A cera de carnaúba teve lugar de destaque entre os produtos de exportação piauiense.  Por volta de 1907, ocorrem as primeiras vendas ao exterior. Ganhando impulso a partir de 1910, tornando-se a Alemanha seu principal mercado. Em 1937, o valor da produção dos principais produtos do extrativismo vegetal dava ao Piauí a terceira posição entre todos os estados, passando para o segundo lugar em 1938 e, para o primeiro, de 1942 até 1947. A cidade de Parnaíba consolida-se, então, como principal entreposto comercial do Piauí e como importante centro do comércio internacional, graças ao espírito empreendedor dos comerciantes estimulados, certamente por ter a oportunidade do contato com o “resto do mundo”.
Neste período também se registrava uma gestão pública apática, omissa e coronelista. Faltava apoio governamental para melhorar a infraestrutura de transportes (navegação, porto e estrada de ferro). Nada que difere do contexto atual: a economia aquecida pela iniciativa privada e os governos timidamente cumprindo o seu papel. Só num aspecto mostram competência: ao se apropriarem do momento como protagonistas...
Em 14 de janeiro de 1917 foi fundada a Associação Comercial de Parnaíba (ACP) que, frente às omissões dos poderes públicos, imbuída pelo pensamento empresarial e progressista, investia principalmente em estradas e educação. Neste mesmo ano o Banco do Brasil instalou aqui a sua 23ª agência.
A partir de 1950 observou-se a decadência da cidade no período pós-guerra em virtude da desvalorização dos produtos que eram exportados, gerando falências e migrações para a capital Teresina e Sudeste do Brasil. Inicia uma crise sem precedentes na história da cidade. E o poder público, o que fez?!
Hoje, onde se ancora a posição política e econômica da Parnaíba? No turismo? Na agricultura irrigada (DITALPI)? Na produção da bacia leiteira? Na construção civil? Como polo educacional? Todos esses segmentos da economia poderiam ser a mola propulsora do desenvolvimento regional, no entanto quais investimentos públicos estão sendo feitos para incentivar tais atividades? Qual é hoje a vocação econômica da Parnaíba? Qual a estratégia do poder público local para impulsionar e integrar tais atividades?
 “A cidade que mais cresce no nordeste” vive o “vôo da galinha”, embalado pela farta distribuição de renda ofertada pelos programas sociais do governo federal, pela disputa por cargos comissionados ofertados pelos governos municipal e estadual, subempregos temporários da construção civil e uma representação política pouco afeita à boa prática moral e ética. Vivemos um falso discurso desenvolvimentista...
Qual é mesmo a agenda de desenvolvimento econômico em curso? O Perímetro Irrigado Tabuleiros Litorâneos do Piauí - DITALPI é um empreendimento que precisa ser pensado como uma das maiores oportunidades de desenvolvimento local, integrado e sustentável. Está produzindo apenas 10% da sua capacidade irrigada, ainda assim é um dos maiores geradores de emprego e renda da cidade. A conclusão da 2ª etapa se arrasta há anos e as obras estão paralisadas. O projeto totaliza mais de 8 mil hectares para irrigar.
O turismo pensado em Parnaíba se resume a uma festa de réveillon na Pedra do Sal e alguns outros “arranjos” de programação ao longo do ano. Nossa praia está abandonada, sua estrutura inapropriada.
A nossa bacia leiteira já foi mais expressiva, ainda é forte graças à determinação dos produtores. É outra potencialidade produtiva. Vive uma crise pela falta de apoio à atividade. A Cooperativa Delta, um dos símbolos passa por dificuldades econômicas. Falta uma política pública para o setor primário como um todo.
A partir da ampliação dos cursos da UFPI e a instalação de outras faculdades particulares a cidade vai ganhando contornos de polo educacional. A presença estudantil e de novos profissionais exigidos pelo setor aquece a economia. Mas tudo isso vem ocorrendo alheio a um planejamento governamental. A única presença da prefeitura é nos discursos em que se apropria dos fatos como a grande impulsionadora do setor.
Mas qual o papel da Prefeitura de Parnaíba nisso tudo? É preciso planejar. E realizar! A atuação do governo tem que ser no plano estratégico, buscando sempre a eficiência e a equidade, dois conceitos fundamentais para a promoção do crescimento e desenvolvimento econômico.
O governo deveria centrar suas atividades ligando-as à ideia de desenvolvimento humano e à equação de elementos que promovam o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas e organizações ligadas por interesses comuns. Nesse sentido, ganham relevância conceitos como cidadania, cultura local, participação social e desenvolvimento socioeconômico e ambiental. Elementos que passam distante da gestão. A gestão parece mergulhada num vazio como aquele que “pula do trapézio sem rede”.

(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

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