É fato histórico que
Parnaíba já ocupou uma posição de destaque na economia regional e até nacional.
A vocação mercantil da cidade começou a se delinear ainda no século XVIII, com
a criação do gado e particularmente no fortalecimento da atividade de
beneficiamento da carne bovina em forma de charque para ser exportada,
posteriormente aquecida pelo extrativismo.
O incremento da navegação
fluvial a partir de 1859 contribuiu para consolidar a economia parnaibana, em particular
com a instalação de empresas nacionais e estrangeiras de importação e
exportação, que davam fôlego às atividades mercantis na cidade.
A cera de carnaúba teve
lugar de destaque entre os produtos de exportação piauiense. Por volta de 1907, ocorrem as primeiras
vendas ao exterior. Ganhando impulso a partir de 1910, tornando-se a Alemanha
seu principal mercado. Em 1937, o valor da produção dos principais produtos do
extrativismo vegetal dava ao Piauí a terceira posição entre todos os estados,
passando para o segundo lugar em 1938 e, para o primeiro, de 1942 até 1947. A
cidade de Parnaíba consolida-se, então, como principal entreposto comercial do
Piauí e como importante centro do comércio internacional, graças ao espírito
empreendedor dos comerciantes estimulados, certamente por ter a oportunidade do
contato com o “resto do mundo”.
Neste período também se registrava
uma gestão pública apática, omissa e coronelista. Faltava apoio governamental
para melhorar a infraestrutura de transportes (navegação, porto e estrada de
ferro). Nada que difere do contexto atual: a economia aquecida pela iniciativa
privada e os governos timidamente cumprindo o seu papel. Só num aspecto mostram
competência: ao se apropriarem do momento como protagonistas...
Em 14 de janeiro de 1917
foi fundada a Associação Comercial de Parnaíba (ACP) que, frente às omissões
dos poderes públicos, imbuída pelo pensamento empresarial e progressista,
investia principalmente em estradas e educação. Neste mesmo ano o Banco do
Brasil instalou aqui a sua 23ª agência.
A partir de 1950 observou-se a decadência da cidade no
período pós-guerra em virtude da desvalorização dos produtos que eram
exportados, gerando falências e migrações para a capital Teresina e Sudeste do
Brasil. Inicia uma crise sem precedentes na história da cidade. E o poder
público, o que fez?!
Hoje, onde se ancora a posição política e econômica da
Parnaíba? No
turismo? Na agricultura irrigada (DITALPI)? Na produção da bacia leiteira? Na
construção civil? Como polo educacional? Todos esses segmentos da economia
poderiam ser a mola propulsora do desenvolvimento regional, no entanto quais
investimentos públicos estão sendo feitos para incentivar tais atividades? Qual
é hoje a vocação econômica da Parnaíba? Qual a estratégia do poder público
local para impulsionar e integrar tais atividades?
“A cidade que mais cresce no nordeste” vive o “vôo
da galinha”, embalado pela farta distribuição de renda ofertada pelos programas
sociais do governo federal, pela disputa por cargos comissionados ofertados
pelos governos municipal e estadual, subempregos temporários da construção
civil e uma representação política pouco afeita à boa prática moral e ética. Vivemos
um falso discurso desenvolvimentista...
Qual é mesmo a agenda de
desenvolvimento econômico em curso? O Perímetro Irrigado
Tabuleiros Litorâneos do Piauí - DITALPI é um empreendimento que precisa ser
pensado como uma das maiores oportunidades de desenvolvimento local, integrado
e sustentável. Está
produzindo apenas 10% da sua capacidade irrigada, ainda assim é um dos maiores
geradores de emprego e renda da cidade. A conclusão da 2ª etapa se arrasta há anos e as
obras estão paralisadas. O projeto totaliza mais de 8 mil hectares para irrigar.
O turismo pensado em
Parnaíba se resume a uma festa de réveillon na Pedra do Sal e alguns outros
“arranjos” de programação ao longo do ano. Nossa praia está abandonada, sua estrutura
inapropriada.
A nossa bacia leiteira já foi mais expressiva, ainda é
forte graças à determinação dos produtores. É outra potencialidade produtiva.
Vive uma crise pela falta de apoio à atividade. A Cooperativa Delta, um dos
símbolos passa por dificuldades econômicas. Falta uma política pública para o
setor primário como um todo.
A partir da ampliação dos cursos da UFPI e a instalação
de outras faculdades particulares a cidade vai ganhando contornos de polo
educacional. A presença estudantil e de novos profissionais exigidos pelo setor
aquece a economia. Mas tudo isso vem ocorrendo alheio a um planejamento
governamental. A única presença da prefeitura é nos discursos em que se
apropria dos fatos como a grande impulsionadora do setor.
Mas
qual o papel da Prefeitura de Parnaíba nisso tudo? É preciso planejar. E
realizar! A atuação do governo tem que ser no plano estratégico, buscando sempre
a eficiência e a equidade, dois conceitos fundamentais para a promoção do
crescimento e desenvolvimento econômico.
O
governo deveria centrar suas atividades ligando-as à ideia de desenvolvimento
humano e à equação de elementos que promovam o bem-estar e a qualidade de vida
das pessoas e organizações ligadas por interesses comuns. Nesse sentido, ganham
relevância conceitos como cidadania, cultura local, participação social e
desenvolvimento socioeconômico e ambiental. Elementos que passam distante da gestão.
A gestão parece mergulhada num vazio como aquele que “pula do trapézio sem
rede”.
(*)
Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.
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