Esgoto jogado no Rio Parnaíba. (Imagem: Denílson Freitas) |
Resultados de pesquisa iniciada em 2013 pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) revelam a possibilidade de aplicação de medidas visando a despoluição de águas contaminadas por metais pesados e agroquímicos.
A pesquisa fornece também elementos que levam à descoberta de antibióticos eficazes contra bactérias resistentes à ação de remédios atualmente. No que se refere à despoluição de águas contaminadas, o estudo mapeia a diversidade de microrganismos ao longo do curso do Rio Tietê, no estado de São Paulo.
Coordenada pelo professor Welington Luiz de Araújo, do Departamento de Microbiologia do ICB, a pesquisa mostrou a capacidade do rio em recuperar-se mesmo depois de trechos muito poluídos. Algumas bactérias e fungos reagem contra os poluentes e fazem com que a água volte a ter boa qualidade, podendo ser usada para nadar e até pescar.
A proposta de Araújo é usar esses microrganismos na água poluída, antes que ela seja escoada para o rio. A nova técnica de tratamento poderá ser reaplicada, evitando não só a poluição do Tietê, mas também de outros rios. "A nascente do Rio Tietê, em Salesópolis, na Grande São Paulo, apresenta diversidade [de microrganismos] que é alterada nas áreas mais poluídas, próximas da capital”, disse Araújo.
“No entanto, essa diversidade encontrada no início do curso do Tietê se restabelece cerca de 150 quilômetros adiante, na região de Piracicaba, e se mantém até a foz, no Rio Paraná. Isso demonstra que o rio possui capacidade de se recuperar após sofrer os efeitos da poluição.”
Nas áreas mais poluídas, os pesquisadores identificaram espécies de bactérias resistentes a metais pesados. “Pesquisas mais detalhadas poderão levar à utilização dessas bactérias em processos de remediação de áreas contaminadas”, disse o professor. “A ideia não é jogar essas bactérias de volta no rio, mas usá-las em estações de tratamento de esgoto em etapas anteriores à chegada dessa água ao curso do rio”, explica.
Araújo destaca a importância de outra linha da pesquisa, aquela que identifica bactérias que degradam agroquímicos, “já que na parte anterior à Grande São Paulo há um cinturão verde, com grande quantidade de produtores rurais”.
Além do controle da poluição, o projeto pode beneficiar a área médica, de acordo com o pesquisador. Ele explica que a quantidade de bactérias e fungos no Rio Tietê é muito grande e a tendência é que haja uma competição entre eles a fim de sobreviverem. Com isso, eles produzem moléculas de defesa, que podem funcionar como antibióticos e antifúngicos em pessoas e animais.
O grupo trabalha agora identificando o potencial de cura dessas moléculas de defesa. É preciso saber, ao longo da pesquisa, a eficácia das moléculas no combate a doenças que se manifestam resistentes à ação de antibióticos.
No entanto, ele alerta para a realização de testes até a fabricação de um novo medicamento. “Alguns grupos, que podem apresentar propriedades antimicrobianas, poderão ser usados na produção de antibióticos, mas, para isso, as moléculas devem ser caracterizadas num processo que pode levar entre 10 anos e 15 anos, até que o fármaco seja testado clinicamente e disponibilizado no mercado”.
Agência Brasil
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