21 de dez. de 2014

Sobre a saúde: pare a propaganda e o cale o discurso, o povo está doente!!! (*)

Você já visitou um Posto de Saúde em Parnaíba? Falo de visita mesmo, conhecer as instalações, os profissionais que ali trabalham e os procedimentos adotados. Não me refiro àquela(s) vez(es) que você precisou ir ou acompanhar alguém em caso de doença. Talvez se conhecêssemos melhor poderíamos tomar providências, a começar por reclamar e denunciar o serviço que é prestado em caráter precário.
Por justiça, destaco aqui alguns casos onde é flagrante a abnegada força de vontade e compromisso de profissionais que fazem da sua labuta um verdadeiro sacerdócio. Conheço médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde, entre outros técnicos e agentes administrativos, que merecem todo o reconhecimento pela forma como atuam e até superam as deficiências estruturais, a falta de equipamentos e medicamentos  que convivem no dia-a-dia. Verdadeiros heróis anônimos que não são reconhecidos pelo poder público.
O Sistema Único de Saúde compreende uma gama de serviços públicos na área de atenção e assistência à saúde da população, por meio de uma rede de serviços financiados pelos três níveis de gestão.
Em Parnaíba, até 2010, estava a esfera municipal responsável pela gestão das ações de Atenção Básica da Saúde, de Vigilância em Saúde, de Saúde Mental, de Orientação e Apoio Sorológico, de Ambulatório Especializado, de Assistência Farmacêutica e de Administração do Serviço Móvel de Urgência – SAMU.
A gestão local do SUS, exercida pela Secretaria Municipal de Saúde, buscou gerir também os recursos financeiros da média e alta complexidade (Assistência Hospitalar e Ambulatorial), através da adesão ao Pacto pela Saúde, que corresponde à efetiva municipalização da saúde.
Hoje, Parnaíba tem a Gestão Plena do Sistema de Saúde. Mas, o que isso quer dizer? Você sabe quais os benefícios disso na vida das pessoas? A Gestão Plena foi declarada há quatro anos e muito festejada (http://www.proparnaiba.com/noticias/parna-ba-agora-passa-a-ser-gest-o-plena-em-sa-de.html).
Os recursos financeiros aumentaram sem, contudo melhorar os serviços.
À época o então vice-prefeito Florentino Neto afirmava que “a motivação para que o Município assumisse a gestão de tão complexa engrenagem de serviços e dificuldades financeiras é a responsabilidade de cumprir sua missão na permanente construção do SUS, pois os princípios e as diretrizes do Sistema levam a assunção desta responsabilidade pela gestão municipal. Outro aspecto levado em consideração pela municipalidade é a vontade de empreender um maior nível de controle financeiro e de qualidade dos serviços prestados”. Muita propaganda e discurso fácil!!! Pouco mudou. A realidade é outra, é caótica.
Senão vejamos: causa indignação o sofrimento das pessoas mais pobres que precisam recorrer ao sistema municipal de saúde. O descaso vai desde o primeiro contato, que é a tentativa de marcação de uma consulta. Em vários postos é preciso chegar na madrugada para tentar um atendimento. Quando consegue, falta médico, falta medicamento, falta respeito...!
A Constituição Federal/88 estabelece no art. 196 que: "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação".
Esse direito não é (re)conhecido. Muitos sofrem sem diagnóstico. Muitos são levados a uma espera de meses até o dia que o sistema pode atendê-los. Muitos morrem sem o devido atendimento.
Quem precisa de atendimento especializado sofre mais ainda, apesar de, a partir de 2011, o município contar com o “Centro de Especialidades em Saúde-(CES) Dr. Odival Resende”. Mais propaganda (http://www.proparnaiba.com/redacao/2011/08/16/parna-ba-ganha-centro-com-diversas-especialidades-m-dicas.html).
O diagnóstico não é bom e tende a piorar. Números do IBGE mostram que a participação dos gastos em saúde está aumentando no orçamento das famílias e que seu custo sobe mais que a inflação. Com a demanda em expansão, por causa da elevação da renda e do envelhecimento da população, e a oferta sendo só remendada, o prognóstico é de mais problemas no futuro.
Duas terapias estão sendo recomendadas. De um lado, o "mais médicos": importa profissionais que melhoram temporariamente a situação em algumas localidades. Do outro, a briga por "mais verbas para a saúde": como é um poço sem fundo, há falhas que só mais dinheiro não corrige.
É o velho modelo de olhar apenas para o curto prazo, sem efetivamente resolver os problemas. É obvio que "mais médicos" e "mais verbas para a saúde" aliviam os problemas imediatos, mas não curam. A causa da doença é a miopia e o remédio é uma política consistente e sustentável para o setor. 


(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

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