Tudo começou quando fui contratada para ficar na bilheteria, lá pelo começo do ano. Eu via todo mundo entrando admirado, procurando espaço debaixo da lona colorida e com um algodão doce na mão, prontos para o espetáculo, sem nada saber desse novo circo. Curiosa e dedicada, fiquei poucas semanas recebendo ingresso para os shows circenses.
Mudei de função e virei a moça do alto falante. Redigia uma chamada que pudesse atrair o maior público que eu conseguisse. Quanto mais gente chegava, mais confiante eu me tornava e minha entonação melhorava – consegui até superar minha gagueira.
Mas antes de dá continuidade à história, devo confessar uma coisa: o circo que eu trabalhava era diferente. Aqueles andarilhos que ofereciam carinho e magia uns aos outros – e ao público, caíram nas estradas desse Brasil com uma proposta diferente. Os malabares eram feitos com palavras, o palhaço, poetisava e os animais brincavam entre si em cima do palco. O ápice das apresentações diárias era descobrir mais da vida a cada olhar transverso.
Quando passei a ajudar na montagem das apresentações de 2014, fui nomeada de produtora do circo pelos mais descontraídos. Estar comandando tudo que ia ao palco, permanecer disposta a substituir alguém que poderia faltar, improvisar... Fazer tudo ao vivo era sempre muito difícil. No fim, completamente esgotada, havia em mim só diversão e felicidade de dever cumprido, ao lado daquelas que me ensinavam mais do que eu poderia imaginar.
Nessas trocas constantes de função, aprendendo um pouco mais de tudo a cada dia, tive que substituir o palhaço, numa noite dessas. Na ocasião, nosso palhaço estava aos prantos dentro de seu trailer, louco, rouco e desabando em choro. Em crise, gritava aos quatro ventos: cansei de ser pouco!
Tomei café, engoli o ar poético e subi no palco. E vi que eu nunca mais queria descer. A cada verso, uma emoção nova! Como era lindo o circo dali de cima. As luzes, os sorrisos da plateia, os improvisos. Desde aquele dia, resolvi me juntar ao palhaço de vez. A cada apresentação, eu incrementava novidades. As mais recentes foram acrobacias poéticas inseridas entre a falta de fôlego do meu amigo de palco. Quanta magia!
Andarilhando por muitas cidades, morros, becos e ruínas; mudando de função, mas nunca deixando de acompanhar meu amigo palhaço no riso das palavras versadas no palco, fui atingida por outra descoberta: o prazer do voo livre. Aquele simples mesmo, de bater asas, respirar o vento e sentir os pés deixando de tocar o chão. Não sei ao certo quando isso aconteceu, mas fui um tiro certeiro em meu coração. Foi aí que quis realizar mais uma vontade, curiosa e dedicada que sou: ser passarinho!
Ah, mas esse desejo hei de realizar ao final do ciclo desse circo. Antes que vocês se assustem, não quero asas para fugir da minha trupe que me ajudou a crescer neste ano que se passou. Quero asas para que minha poesia atinja outros ares e leve para tantas outras pessoas o prazer que sinto por ter conhecido cada um desse grupo em 2014.
Por: Aldenora Cavalcante/O Dia
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