18 de dez. de 2014

A riqueza do PIB e a pobreza de espírito!!!


(*)Por: Fernando Gomes

A imprensa estadual noticiou que o município de Parnaíba obteve o maior crescimento do PIB no país. O fato foi festejado pela atual administração como uma obra do governo. O prefeito celebrou, deu entrevistas. Foi aquela festa! Para agradar o chefe, foi um “compartilhar” intenso nas redes sociais sobre matéria que diz ser a Parnaíba a nova “Filadélfia”, sem esquecer o detalhe: graças aos gestores de agora!
É verdade que avançamos economicamente na última década. Porém não foi um fato isolado do contexto nacional. Cidades antes menores que Parnaíba, mas de igual potencial seguiram na mesma balada e superaram-nos: Petrolina, Sobral, Mossoró. O que será que fizeram por lá? Devíamos aprender...
O crescimento do PIB se deu, notadamente impulsionado pelos investimentos privados de empresas que ampliaram suas atividades, outras novas que aqui se instalaram, pela expansão do Campus Universitário, explosão da construção civil construção civil, muito menos pela ação governamental local.
A partir daqui vamos entender a festa. Temos mesmo o que comemorar ou seria prudente cuidar da nossa gente? Faz o governo municipal o que se propôs a fazer ou o que se esperava que fizesse?!!!
PIB é a sigla para Produto Interno Bruto, e representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, durante um período determinado. O PIB é um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia, e tem o objetivo principal de mensurar a atividade econômica de uma região. É um pouquinho complicado, mas vamos tentar entender.
Recorremos ao Prof.  Dr. Ladislau Dowbor da PUC/SP, formado em economia política (Suíça); Doutor em Ciências Econômicas (Varsóvia, Polônia), consultor da ONU, “o PIB é uma cifra que, tecnicamente, ajuda a medir a velocidade que a máquina gira, mas não diz o que ela produz, com que custos ambientais e nem para quem”.
Para ele “o tamanho do PIB só revela o montante do dinheiro usado e não a qualidade desse uso”. Para entender: quando são jogados pneus, carcaças de fogão e todo tipo de lixo pela cidade e isso obriga a prefeitura a contratar uma empresa de limpeza urbana, isso aumenta o PIB. Quando aumenta a criminalidade, mais gente compra grades, cadeados e contrata gente que apita na rua, isso está aumentando o PIB. Quando se melhora o nível de saúde da população e crianças adoecem menos, compram-se menos medicamentos e há menos hospitalização, ocorre redução no PIB. Logo, o PIB não mede resultado, mede a intensidade de uso dos recursos e as pessoas pensam que o PIB é bom porque o associam ao emprego.
O PIB não é indicador de riqueza, inclusive ele não mede sequer a riqueza. Porque para medir riqueza, se mede patrimônio. Nosso PIB não mede os US$ 520 bilhões de fortunas brasileiras em paraísos fiscais e não mede inclusive, a concentração do patrimônio, de quem controla a terra, de quem é dono de qual parte do país, por exemplo.
Colocando mais carros e mais motos nas ruas de Parnaíba, onde o trânsito dá sinais de uma cidade em breve paralisada (não há planejamento em engenharia de tráfego), gastando mais gasolina aumenta o PIB, mas não está melhorando a situação das pessoas. Quando apenas se mede quantos carros e motos foram vendidos e quanto dinheiro circulou durante o ano e não o estoque, tem-se o Produto Interno Bruto.
Quando se investe em saúde preventiva e ajuda com que as pessoas não fiquem doentes, não se aumenta PIB, ao contrário. A Pastoral da Criança, por exemplo, é responsável por 50% da queda da mortalidade infantil no país e isso não aumenta PIB, o que aumenta PIB é a compra de remédios, contratar ambulância e serviços hospitalares. Na realidade, o PIB é uma cifra que, tecnicamente, ajuda a medir a velocidade que a máquina gira, mas não diz o que ela produz, com que custos ambientais e nem para quem.
Dowbor nos lembra que outros países, inclusive os europeus, estão usando indicadores para medir  desenvolvimento que não se baseiam apenas na quantidade de dinheiro, mas na qualidade de vida que os gastos proporcionam, “uma espécie de Índice de Felicidade Bruta”. Estamos nós num paraíso?!
Não contesto o crescimento do PIB em nossa cidade. Firulas à parte, deveria o governo municipal fazer o seu dever de casa. Olhem ao redor das avenidas São Sebastião e Pinheiro Machado. Saiam delas. É preciso conhecer, para tanto tem que ir lá. Qual a última vez que vocês (da gestão municipal) foram ao Chafariz? Lá falta água para beber, a estrada está esburacada, o Posto de Saúde foi fechado ainda na administração anterior. E o Parque Zé Estevão? Esse sim é o retrato do abandono, da ausência plena do poder público..., estes rápidos casos exemplificam a miséria em que vive a maioria dos parnaibanos.
Finalizando, neste município de destacado PIB, quais os investimentos no desenvolvimento do nosso capital social? Qual o padrão do atendimento dos nossos serviços públicos municipais? Qual a política pública em atividade que zela pelo cidadão? Dever-se-ia era ter mais espírito público e decência!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

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