Essa derrota eleitoral
do Aécio Neves pra Dilma Rousseff no domingo dia 26 e valendo pela decisão do
segundo turno das eleições presidenciais me lembra de quando a gente era
pequeno lá em casa. Na maioria das casas se dormia em rede. Na maioria é até
força de expressão porque naquele tempo se falar de cama em casa de gente pobre
era mesmo que falar hoje em copo de vidro nos Morros da Mariana ou no Labino.
Rede de pano listrado, vermelho, azul ou verde, comprado geralmente no final do
ano ou dependendo do cuidado do dono, quando durava menos tempo. E naquele
tempo menino urinava na rede.
Quem não urinava na
rede podia ser considerado mais adulto e não corria o risco de passar vergonha
na frente dos colegas de brincadeiras ou na escola ao ser apelidado de mijão.
Dependendo desta particularidade a rede podia ter maior ou menor duração.
Naquele tempo nem existia esse negócio de validade vencida, direito do
consumidor, Procon, serviço de atendimento ao cliente. A rede rasgou, estava
rasgada e pronto. Troca de rede era coisa feito se assumir uma cadeira no
parlamento ou a troca da guarda da rainha da Inglaterra. Era coisa solene, com
direito a festa e tudo mais. Depois era dormir naquela coisa novinha em folha e
cheirosa, por enquanto.
Mas voltando ao assunto
das compras de redes novas me lembro das dificuldades de meu pai pra dar
sustento a um monte de meninos e meninas, todos em tempo de escola e de
cuidados. Um calçado pra um nesse mês, um corte de pano pra uma das meninas no
outro mês e assim a coisa foi indo até nós, cada um, tomar conta de suas
contas. Mas isso já foi quase hoje depois que ganhamos asas e saímos pelo
mundo. Rede era coisa de quando sobrava algum troco mais avultado. Era, me
lembro, tecido tipo lona que papai comprava vários metros na loja do velho e
elegante Antonio Thomaz da Costa, ali na rua Almirante Gervásio Sampaio e onde
hoje é o Armazém Mesquita.
E lembro como todo
homem que teve uma infância maravilhosa, as brincadeiras que a gente inventava.
Essa coisa de entrar um magote de crianças dentre de uma rede só e sem achar
que a corda poderia aguentar todo aquele peso. Num triscar de nada, num piscar
e esfregar de olho e quando a molecagem está grossa a queda vinha assim em
fração de segundos. Mais que de repente chegava a polícia de casa, mamãe,
municiada com cinturão ou a palmatória e acabava de vez com aquela brincadeira
besta, cheia de achamento de graça fora de hora e que corria risco de acabar num
braço ou cabeça quebrada e ainda rasgar a rede comprada de pouco.
Mais engraçado era
quando a gente sozinho, todo pachola, se fingindo de elegante só porque havia
ganhado uma rede nova se esquecia da segurança e abusava no balanço. Nem saber
se ia acabar em choro. Era questão de segundos e lá estava todo mundo no chão e
com a cara mais limpa tentando explicação pra o ocorrido. Hoje imagino essa
situação ocorrendo com Aécio Neves. Deixou muita gente entrar na rede. Entrou
tanta gente que acabou comprometendo a segurança. Foi uma questão de segundos e
lá estava ele e seus colegas no chão. A corda quebrou, acho.
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