3 de out. de 2014

A viúva tá emprestando dinheiro a juro


Por: Pádua Marques (*)
No apagar das lamparinas e no ajuntar do cisco pela menina na hora de varrida da casa o Governo Federal publica na edição de segunda-feira dia 29 a ampliação do prazo máximo de pagamento de empréstimos consignados, esses com desconto em folha, pra aposentados do INSS. A quantidade de prestações mensais saltou, feito veado correndo com medo de tiro, dos 60 meses, o equivalente a cinco anos, para 72 meses, ou seja, seis anos.
Esta medida altamente e escancaradamente eleitoreira foi uma recomendação de um tal de Conselho Nacional da Previdência Social e passa a valer a partir de 1° de outubro. Atualmente as taxas no mercado são de 2,14% ao mês para empréstimos e 3,06% para o pagamento de cartão de crédito. O valor da renda comprometida do aposentado ou pensionista não pode passar dos 30%. O Governo Federal mascarando o período atual e se valendo de um tudo em quanto, feito quem não sabe nadar no meio de um maremoto, empurra milhões de pobres velhinhos na fila da agiotagem oficial.
O Governo Federal não se emenda mesmo. Está sabendo que este negócio de empréstimo consignado pra aposentado ou pensionista é uma caixa de fuxico. Ele mesmo, sabe e tem as estatísticas mostrando, que muita gente que abre empresa pra tratar sobre este tipo de serviço acaba dando no pé e deixando os coitadinhos no desespero. Coisa de ficar coçando a cabeça e com as mãos nas cadeiras, feito um açucareiro. Têm aquelas empresas idôneas. Poucas, mas têm. A própria Ouvidoria da Previdência aponta que este tipo de queixa é a de maior volume.
E me lembro que aqui nesta Parnaíba havia muito agiota que emprestava dinheiro a juro pra aposentados. Os coitadinhos saiam do posto da Previdência, ali naquele prédio da cabeça da ponte Simplício Dias e iam direto bater na porta deles se humilhando por um dinheiro mais avultado. Depois iam gastar com alguma besteira, uma despesa, nas casas de comércio do hoje centro comercial. Levavam pra casa o rebotalho, o sobejo, a lavagem dos patos do que havia nos mercados. E o agiota ficava com o carnê preso dentro de um cofre. Dessa forma o pobre do aposentado ficava com seu documento retido e sendo chantageado.
Era um escravo, um refém desses bandidos que cobravam um juro mais alto que a Apolo Onze. Nem podiam reclamar e não havia ninguém que lhes escutasse porque a lei aqui não chegava E muita gente desta minha geração, se puxar pela memória, vai se lembrar quem eram os que se aproveitando da miséria e ignorância daqueles homens humildes lhes tiravam o sono e o sossego e o sono e o direito de usufruir do seu dinheiro. E assim foi durante muitos e muitos anos até que, ninguém sabe quem foi, um filho de Deus denunciou esta quadrilha. E foi um tal de Polícia Federal vir e acabar com a mamata. Eu não sei se eles depois de muito tempo voltaram com outro endereço e chefe de bando.

Mas voltando ao assunto dos empréstimos consignados pra aposentados e pensionistas ocorre lembrar agora a situação de milhões de aposentados e pensionistas brasileiros que hoje com seu pouco dinheiro, com o que sobra, sustentam filhas, netos, bisnetos, parentes e aderentes. É um celular pra uma neta aqui, uma moto pro neto andar fazendo cavalo de pau mais na frente. E se sobrar alguma pontinha acabam pagando os remédios comprados fiados ou quando muito, um plano funerário, que é o que lhes reserva certamente a vida miserável que levam.
E ainda tem um financiamento pra outra neta comprar material de reforma de casa, uma geladeira ou fogão pra uma filha mais acolá e até ajudando no pagamento da pensão alimentícia de outro filho ou neto vagabundo ou metido a valente e que emprenhou a namorada. E por aí vai. No fim, pra ele sobra nada e muita dor de cabeça.
Agora o próprio Governo Federal, numa medida eleitoreira, na última puxada de balde, vira uma viúva emprestando dinheiro a juro. Promete os mais baixos e mais tempo pra o resgate da dívida. Dentro de mais alguns dias há de se ver as centenas e centenas de pobres aposentados e pensionistas fazendo empréstimo consignado. Muitos e muitos estão com idade avançada. Nem sabem se acabam de pagar aquilo que pouco haverão de usufruir dentro de casa.
E vendo eles nas filas dos bancos recebendo o pouco que sobrou do benefício dá uma pena, um aperto no coração e um nó na garganta. Dá uma pena ver estes homens, que mal podem andar sendo arrastados pelos corredores das agências calçados com uma chinela japonesa, dessas bem baratas e compradas nas lojas de um real. Agora o agiota é o governo. Pra quem eles vão agora reclamar?
(*) Pádua Marques é escritor e jornalista

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