23 de set. de 2014

Presidente do BNB diz que não tem como saber de onde saiu R$ 180 mil

Em uma ligação telefônica com o 180, o presidente do Banco do Nordeste (BNB), Nelson Antônio de Souza, disse que iria mandar averiguar a veracidade da informação da coluna do jornalista Cláudio Humberto, e que sendo verdadeira, iria mandar apurar de qual empresa de tecnologia da informática teria saído os R$ 180 mil. Duas horas depois sua assessoria ligou dizendo que não tinha como fazer isso.

O valor, R$ 180 mil, foi apreendido com o motorista do candidato ao governo do estado Wellington Dias (PT), José Martinho, encontrado no banco traseiro de um Pálio Weekend, quando o funcionário do Senado vinha de Brasília com destino ao interior do Piauí.

O presidente do banco retornou a ligação do 180 às 10h30 desta manhã de segunda-feira (22) para tratar sobre o assunto. Nelson Antônio de Souza disse que ainda não tinha conhecimento da publicação na coluna do jornalista Cláudio Humberto.

A nota sustenta que o Ministério Público Federal da Bahia já saberia a origem do dinheiro apreendido, “uma empresa de tecnologia da informação contratada pelo Banco do Nordeste”.

“FUI INDICADO PELO MINISTRO DA FAZENDA”
Nelson Antônio de Souza falou que a indicação dele para presidência do Banco do Nordeste teria partido do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, e não do senador Wellington Dias.

O presidente do BNB é natural de Parnaíba. “Mas o Piauí nem sabia da minha indicação quando ela ocorreu. O indicado do Wellington lá é o Luiz Carlos Everton de Farias [diretor de Administração de Ativos de Terceiros do BNB]”, acrescentou. Ao entrar no banco, em 2012, Nelson Antônio de Souza ficou à frente da Diretoria Administrativa e de Tecnologia de Informação (TI), conforme cartão de visita.
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UMA INDICAÇÃO DE NELSON TEVE O DEDO DO SENADOR W.DIAS
Embora o presidente do Banco do Nordeste tenha dito que o responsável pela sua indicação foi o Ministro da Fazenda, o histórico de possíveis nomeações de Nelson Antônio de Souza possui o DNA de petistas piauienses, inclusive, o do senador W. Dias.

Uma lista secreta divulgada em 2011 pela Revista Época, vazada de dentro do Palácio do Planalto, traz uma informação preciosa quando da indicação do atual gestor do BNB para o cargo de vice-presidente da Caixa Econômica Federal.

O responsável pela indicação era a “bancada federal do PT Piauí”. E quem era a bancada federal do PT do Piauí à época no Congresso Nacional? O senador Wellington Dias e os deputados federais Assis Carvalho e Jesus Rodrigues.

Por telefone, o deputado federal Jesus Rodrigues (PT) disse que realmente nesta época a bancada federal “pleiteou esse cargo para o Nelson [no início do governo Dilma Rousseff], mas não deu certo. Depois ele ocupou uma diretoria no banco do Nordeste e com a saída do antigo presidente [Ary Joel Lanzarin] ele acabou por assumir. Agora se o Wellington Dias tem participação nessa indicação para presidente eu não sei lhe dizer não”, falou.

Como mesmo disse Nelson Antônio de Souza, por telefone ao 180, “eu entrei no Banco do Nordeste em 2012”, daí ocupou a Diretoria Administrativa e de TI e ocupou a presidência do BNB de forma interina até ser efetivado de fato presidente da instituição.

EX-PRESIDENTE DO BNB PEDIU A CABEÇA DE INDICADO DE W.DIAS
Antes de se afastar da presidência do BNB, Ary Joel Lanzarin havia pedido a cabeça do afilhado político de W. Dias, Luiz Carlos Everton de Farias, suspeito de envolvimento num rombo de 1,2 bilhão dentro do banco, segundo investigações da Polícia Federal.

Coincidentemente, Everton saiu do inquérito da PF, e logo depois Ary Joel Lanzarin foi afastado da presidência do banco e substituído por Nelson Antônio de Souza. A retirada de Luiz Carlos Everton de Farias do inquérito da PF fez com que o Ministério Público Federal do Ceará recorresse da decisão.

“EU RETORNO”
O presidente do Banco garantiu ao telefone que retornaria a ligação novamente, após tomar ciência do que estava acontecendo, já que ele estava chegando ao banco. Realmente, como ex diretor de Administração e de Tecnologia da Informação e como atual presidente da Instituição tem tudo para saber de qual empresa saiu esse dinheiro, caso confirmada a veracidade da informação publicada pela coluna do jornalista Cláudio Humberto.

A dúvida é saber se ele vai querer ajudar nas investigações a princípio.

PRESIDENTE NÃO RETORNOU A LIGAÇÃO
Duas horas depois, o assessor de imprensa do Banco, Nilton Almeida, a pedido do presidente do BNB, retornou a ligação. O objetivo, segundo ele, era pedir “como amigo, colega de profissão, para que você [o jornalista] chegasse a um consenso comigo de que não tem como o banco levantar essa informação”, disse, pedindo off da conversa.

Falou que conversaria até “com o Hélder” [Eugênio], diretor geral do 180, para explicar isso. No entanto, frisou que não estava “querendo atrapalhar” o trabalho do jornalista de apurar rigorosamente todas as informações. A diretoria geral do 180, por sua vez, não se envolve em apurações jornalísticas, cabendo ao repórter apurar e à editoria chefe divulgar.

POR QUE O OFF FOI NEGADO
O pedido de reserva da conversa foi negado pelo fato de Nilton Almeida ter ligado a pedido de um presidente de uma Instituição que foi lançada em meio a um caso envolvendo a apreensão de R$ 180 mil de origem ainda desconhecida. O 180 também não pode concordar que o banco não tenha como levantar de qual empresa de TI pode ter saído essa quantia. O atual presidente do Banco foi diretor de Tecnologia do BNB. E como atual presidente da instituição pode muito bem tentar tomar pé da situação, através de sua assessoria jurídica, pedindo informações ao Ministério Público Federal da Bahia, de onde supostamente saiu a informação para a coluna do jornalista Cláudio Humberto. Antecipando-se a uma crise institucional e junto aos acionistas.

BANCO APELA PARA OS “ACIONISTAS”
O assessor do presidente também alertou para o 180 que levasse em consideração os acionistas, o majoritário governo federal e os “milhares de outros acionistas minoritários do banco”, antes de dar vazão a essas publicações “indevidas”. Uma forma artesanal de se preocupar com os acionistas, pessoas jurídica e físicas ao qual o banco deveria zelar.

“Mas nesse caso a preocupação com os acionistas não deveria vir do banco, que deveria ver o que está acontecendo e dar uma explicação sobre isso?”. Risos do assessor do outro lado. “Como é que a gente vai dar satisfação de um negócio que é gasoso. Se não temos informação exata, precisa. Eu peço sua ajuda neste caso aí”, suplicou, chamando à “racionalidade”. “O presidente está aí do seu lado?”, pergunto. “Não, não está”, responde.

Segundo o assessor, o presidente que garantiu que iria retornar a ligação, participou de um café da manhã e logo depois teve que ir a um outro compromisso. “Ele então me ligou e pediu para ligar para você, Rômulo”, disse Nilton Almeida.

NOVA PROMESSA DE RETORNO
O assessor ficou de novamente ligar informando quais empresas de informática prestam serviço para o banco. Após questionando de quanto tempo precisava para levantar essas informações disse que iria conversar com o responsável pela área.

EXPEDIENTE ESTRANHO
Não é usual o Banco do Nordeste se posicionar a não ser se for através de uma nota oficial sobre supostos fatos nada republicanos que os rodeiam.

Logo depois de negado o off, o assessor de imprensa pediu que desconsiderasse algumas partes da conversa que teve com esse jornalista e os pedidos do 180 fossem encaminhados formalmente.

“Mas eu não tenho o que pedir. O que queria saber era se o banco iria tomar alguma providência”. Pelo visto, não.

“A não ser que a Polícia Federal ou Ministério Público nos solicite alguma coisa”, disse o assessor Nilton Almeida.
Repórter: Rômulo Rocha
Publicado Por: Apoliana Oliveira

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