Tenho observado nesta e
noutras campanhas eleitorais passadas uma mania dos políticos e candidatos
quando prometem fazer isso ou aquilo lembrarem apenas da capital do estado como
se toda a população desse estado morasse nela e no interior fosse habitado
apenas por bicho bruto, calango, macaco, jacaré, preá, nambu e outros mais que,
segundo a lenda, foram acolhidos na Arca de Noé sem qualquer distinção de raça,
credo ou orientação sexual às vésperas daquele dilúvio terrível. Dilúvio que
segundo consta nas escrituras inundou desde os campos de Marizeira até ao que é
hoje a Barra do Longá passando pelos Araioses.
No caso do Piauí eles nem se constrangem quando
prometem tudo e mais um pouco pra Teresina. Ficam a desenhar nos seus discursos
uma montanha de promessas com uma direção unicamente urbana. Trens, metrôs,
anéis viários, delegacias especializadas, viaturas, bibliotecas, salas de aulas
com ar condicionado, hospitais e pronto socorros, ciclovias e outros tantos
equipamentos que pela estrutura apenas devem e podem servir à população da
capital. E o interior vai ficando em época de campanha eleitoral sempre
esquecido como se lá o homem, o eleitor não tivesse necessidade destes e de
outros benefícios. O homem do interior tem características especiais e precisa
ser mais bem assistido.
Pro interior eles
prometem, quando muito, uma estradinha aqui, uma pontezinha de madeira ou até
de concreto acola, mas que pelo tamanho mal dá pra passar uma carroça puxada
por um burro e carregada com uma mudança de pobre. Dessas que o coitado do
caboclo leva tudo e mais aquilo que sobrou. Pro interior eles prometem também,
quando muito, uma escola pra os filhos dos caboclos, mas professor que é bom,
os governantes mandam uns elementos desmotivados e que na primeira dificuldade abandonam
o emprego. Aí os barrigudinhos, filhos dos caboclos, que tiveram um dia a
esperança de deixarem de ser analfabetos voltam pra casa de orelhas baixas.
E assim o interior dos
estados no Brasil, quando a questão é a promessa de campanha eleitoral. Vão
ficando na mesma. Vivendo de promessas pequenas, engolindo migalhas. E os
prefeitos sendo cobrados pelo eleitor na porta das suas casas ou quando mal
chegam à entrada da prefeitura vem uma ruma de gente lhe cobrar a promessa dada
pelo governador durante a caminhada e agora eleito. Eu comparo essa falta de
atenção dos governadores brasileiros em relação ao interior, feito igual aquela
dona de casa desleixada que só vive na porta da rua dando sentido a quem passa,
ouvindo conversa de vizinho e dando palpite naquilo que não é e nunca foi de
sua ossada. Cuida somente da fachada e se esquece do fundo.
E aquela dona de casa
fica a manhã inteiras na porta da rua dando definição em tudo o que se passa.
Ouvindo e dizendo e se esquece do quintal no fundo de casa, sem cuidado, o mato
entrando pela porta da cozinha. Nem se incomoda com o miserável de um cachorro
pulguento que late o dia e a noite inteira e ela não tem coragem de ir até lá
onde está aquele miserável pra colocar um pouco de água ou o pregado da
panela. Interior precisa de estradas.
Certamente que sim. Interior precisa de escolas. Mais ainda e quanto mais,
melhor. Interior precisa de energia elétrica. Interior precisa de hospital. Essa
necessidade mais ainda. É extrema. Não pode esperar. Aqui fica essa minha
observação ao futuro governador do Piauí.
O interior precisa
urgente de cuidados. O interior precisa de cuidados especiais porque vive e
sempre vai viver uma situação especial. O interior precisa ser visto como uma
região onde mora gente. Gente que trabalha e produz. Gente que tem filhos.
Gente que tem filhos que precisam de escolas, de hospitais e de incentivo
profissional. Cuidados com sua gente, seus problemas. Sua infinita e duradoura
capacidade de fornecer alimentos pras cidades.
Se o governador não
coloca equipamentos de infraestrutura na mão e pra uso da população da zona
rural, essa população rural certamente vem buscar estes equipamentos e serviços
na capital e daí a situação decorrente todo mundo sabe onde vai dar. Não existe
um estado forte com seu interior vivendo na calamidade e na pobreza. Nunca me
conformei com a definição de alguns antropólogos de que temos gente no Brasil
vivendo na pobreza absoluta.
Prefiro acreditar
noutra corrente que acredita na pobreza residual, aquela decorrente da
diferença de atenção e abertura de oportunidades respeitando as diferenças de
cada grupo. E lembro que os dois mais
expressivos candidatos, o atual governador, Zé Filho, do PMDB é do interior.
Wellington Dias, do PT, é do interior. Os dois certamente pela experiência
pessoal e política de representatividade sabem das necessidades da população do
interior do Piauí. Sabem que um interior pobre, desassistido, distante das ações
e das atenções do governo estadual vai
sempre puxar pra baixo qualquer tentativa de desenvolvimento.
Por Pádua Marques
Escritor e Jornalista
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