6 de set. de 2014

A mania de se cuidar somente da sala de visitas.

Tenho observado nesta e noutras campanhas eleitorais passadas uma mania dos políticos e candidatos quando prometem fazer isso ou aquilo lembrarem apenas da capital do estado como se toda a população desse estado morasse nela e no interior fosse habitado apenas por bicho bruto, calango, macaco, jacaré, preá, nambu e outros mais que, segundo a lenda, foram acolhidos na Arca de Noé sem qualquer distinção de raça, credo ou orientação sexual às vésperas daquele dilúvio terrível. Dilúvio que segundo consta nas escrituras inundou desde os campos de Marizeira até ao que é hoje a Barra do Longá passando pelos Araioses.
 No caso do Piauí eles nem se constrangem quando prometem tudo e mais um pouco pra Teresina. Ficam a desenhar nos seus discursos uma montanha de promessas com uma direção unicamente urbana. Trens, metrôs, anéis viários, delegacias especializadas, viaturas, bibliotecas, salas de aulas com ar condicionado, hospitais e pronto socorros, ciclovias e outros tantos equipamentos que pela estrutura apenas devem e podem servir à população da capital. E o interior vai ficando em época de campanha eleitoral sempre esquecido como se lá o homem, o eleitor não tivesse necessidade destes e de outros benefícios. O homem do interior tem características especiais e precisa ser mais bem assistido.
Pro interior eles prometem, quando muito, uma estradinha aqui, uma pontezinha de madeira ou até de concreto acola, mas que pelo tamanho mal dá pra passar uma carroça puxada por um burro e carregada com uma mudança de pobre. Dessas que o coitado do caboclo leva tudo e mais aquilo que sobrou. Pro interior eles prometem também, quando muito, uma escola pra os filhos dos caboclos, mas professor que é bom, os governantes mandam uns elementos desmotivados e que na primeira dificuldade abandonam o emprego. Aí os barrigudinhos, filhos dos caboclos, que tiveram um dia a esperança de deixarem de ser analfabetos voltam pra casa de orelhas baixas.
E assim o interior dos estados no Brasil, quando a questão é a promessa de campanha eleitoral. Vão ficando na mesma. Vivendo de promessas pequenas, engolindo migalhas. E os prefeitos sendo cobrados pelo eleitor na porta das suas casas ou quando mal chegam à entrada da prefeitura vem uma ruma de gente lhe cobrar a promessa dada pelo governador durante a caminhada e agora eleito. Eu comparo essa falta de atenção dos governadores brasileiros em relação ao interior, feito igual aquela dona de casa desleixada que só vive na porta da rua dando sentido a quem passa, ouvindo conversa de vizinho e dando palpite naquilo que não é e nunca foi de sua ossada. Cuida somente da fachada e se esquece do fundo.
E aquela dona de casa fica a manhã inteiras na porta da rua dando definição em tudo o que se passa. Ouvindo e dizendo e se esquece do quintal no fundo de casa, sem cuidado, o mato entrando pela porta da cozinha. Nem se incomoda com o miserável de um cachorro pulguento que late o dia e a noite inteira e ela não tem coragem de ir até lá onde está aquele miserável pra colocar um pouco de água ou o pregado da panela.  Interior precisa de estradas. Certamente que sim. Interior precisa de escolas. Mais ainda e quanto mais, melhor. Interior precisa de energia elétrica. Interior precisa de hospital. Essa necessidade mais ainda. É extrema. Não pode esperar. Aqui fica essa minha observação ao futuro governador do Piauí.
O interior precisa urgente de cuidados. O interior precisa de cuidados especiais porque vive e sempre vai viver uma situação especial. O interior precisa ser visto como uma região onde mora gente. Gente que trabalha e produz. Gente que tem filhos. Gente que tem filhos que precisam de escolas, de hospitais e de incentivo profissional. Cuidados com sua gente, seus problemas. Sua infinita e duradoura capacidade de fornecer alimentos pras cidades.
Se o governador não coloca equipamentos de infraestrutura na mão e pra uso da população da zona rural, essa população rural certamente vem buscar estes equipamentos e serviços na capital e daí a situação decorrente todo mundo sabe onde vai dar. Não existe um estado forte com seu interior vivendo na calamidade e na pobreza. Nunca me conformei com a definição de alguns antropólogos de que temos gente no Brasil vivendo na pobreza absoluta.

Prefiro acreditar noutra corrente que acredita na pobreza residual, aquela decorrente da diferença de atenção e abertura de oportunidades respeitando as diferenças de cada grupo.  E lembro que os dois mais expressivos candidatos, o atual governador, Zé Filho, do PMDB é do interior. Wellington Dias, do PT, é do interior. Os dois certamente pela experiência pessoal e política de representatividade sabem das necessidades da população do interior do Piauí. Sabem que um interior pobre, desassistido, distante das ações e das atenções do governo estadual  vai sempre puxar pra baixo qualquer tentativa de desenvolvimento.

Por Pádua Marques
Escritor e Jornalista 

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