Em relação ao mal-estar criado pelo governo brasileiro ao convocar o embaixador em Israel para dar explicações sobre o conflito Israel e Palestinos, na Faixa de Gaza – atitude que em linguagem diplomática significa reprovação e represália a Israel, sendo que a ação extrema culmina com o corte de relações entre os países – serviu para que o Brasil fosse reduzido a sua verdadeira dimensão no âmbito das relações internacionais, ou seja, nada!
Utilizando magistralmente a linguagem metafórica e a ironia, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores de Israel apresentou o Brasil a quem realmente ele é, de modo que visse se dissipar a imagem auto-enganosa que o país e o governo populista de plantão faz questão de forjar de si mesmo. Segundo Ygar Palmor, “o Brasil é um gigante econômico, mas um anão diplomático!”
Observem o contraste de proporções e a ironia implicada na frase, pois a mesma relação aplica-se ao arremate com o qual o porta-voz israelita finalizou a reação contra a atitude intempestiva do Brasil. Ao justificar a convocação do embaixador, o governo alegou a desproporcionalidade do ataque militar israelense à Gaza, em virtude da superioridade bélica de Israel. Foi a deixa para que Igar Palmor lapidasse uma pérola: “Desproporcional é a seleção brasileira (gigante dos gramados, detentora de cinco copas do mundo) perder de 7 X 1 para a Alemanha, na semi-final da Copa de 2014!”
Os brasileiros em geral não apreciam a matemática, talvez por isso a dificuldade de lidar com grandezas e proporções, o governo que está aí há doze anos não seria a exceção, portanto! Não esqueçam que o seu mentor assumidamente não gosta de ler, logo, de estudar, pois uma coisa supõe a outra.
Assim – provavelmente ele não conheça esses dados – o porta-voz judeu poderia lembrar ao Brasil que como o país tem em média 50.000 mortos por homicídio/ano (alguns dados recentes apontam 60.000), dividindo-se por 365, chega-se a aproximadamente 136,9 mortes por homicídio/dia. Nesse conflito que ora se desenvolve com os palestinos em Gaza, desde o início, em 8 de julho, hoje, 31, portanto depois de 23 dias de guerra, é que se atingiu 1.435 palestinos mortos, contra 59 israelenses. Isso dá uma média de 62,3 palestinos mortos/dia. Não esqueçam que eles estão em guerra! E no Brasil?! No mesmo período, 23 dias, devem ter morrido 3.148,7 vítimas de homicídio. E o Brasil (pelo menos que eu saiba) não está em estado de guerra declarada (se bem que eu acho que há uma guerra sim, pelas ruas do país, dos criminosos contra os cidadãos, reflitam sobre o número de homicídios)!
Bom, mas para o governo brasileiro essas relações de grandeza e proporcionalidade não haverão de ser nada! Israel é que está errado por, pasmem... proteger os seus cidadãos! O governo brasileiro ficaria satisfeito se o número de cidadãos israelenses mortos fosse um pouco mais, um pouco menos, igual ao dos palestinos mortos.
Infelizmente, para a frustração do governo brasileiro, que mal disfarça seu anti-semitismo ideológico, Israel cumpre seu dever constitucional e sagrado de defender a vida dos seus cidadãos, reagindo a um grupo terrorista que tiraniza a Faixa de Gaza, trazendo miséria para pessoas que querem viver em paz e os expondo à morte, ao provocarem permanentemente Israel lançando mísseis enviados por estados, também terroristas e párias internacionais, como o Irã. O mesmo não pode ser dito do Brasil, ao contrário, os cidadãos brasileiros estão expostos e são vítimas dos criminosos (mais uma vez, reflitam sobre o eloquente número de 50.000 mortos, que utilizei para basear os cálculos feitos aqui)!
O assustador é quando a dificuldade de avaliar grandezas e proporções é cinicamente desprezada pelas universidades, principalmente nos cursos de ciências sociais, ciências sociais aplicadas e humanidades em geral. Geralmente o desprezo é veiculado sob a acusação de positivismo contra aqueles que são estudiosos e usam cálculos.
Vejam os pontos de vista defendidos por um juiz de direito no programa Na Moral (24/7), apresentado por Pedro Bial, na Globo, e avaliem a hipocrisia que encobre sua ignorância quanto às grandezas e proporções. Segundo ele o Brasil tem uma população carcerária enorme, mais ou menos 500.000 presidiários. E daí! Se o país tem 200 milhões de habitantes o número de 500 mil presidiários representa 0,25% da população brasileira, é portanto um percentual irrisório. Os Estados Unidos, com uns 350 milhões de habitantes, têm uns 2 milhões de presidiários, o que perfaz 0,57% da população, e não se conhece americano achando que tem gente encarcerado demais! É como jabuticaba, isso só existe no Brasil! Se um sujeito é um criminoso, tem de estar preso e acabou. Não cabe ao estado, igrejas ou ONGs ressocializá-lo, principalmente com o dinheiro dos impostos, pagos pelos contribuintes, contra os quais ele perpetrou seus crimes.
Mas, a ingenuidade ignorante do magistrado, provavelmente propiciada pela falta de intimidade com grandezas e proporções, torna-se perversa quando ele se admira de que 50% dos crimes cometidos pelos presos foram praticados contra o patrimônio. Como o roubo de aparelhos celulares, e entona a voz de modo condescendente quanto a isso! Eis então o que eu reputo como uma avaliação perversa!
O que é um celular para um magistrado?! Quanto ele representa como custo de aquisição e manutenção (pré ou pós-pago) em relação ao seu salário? Provavelmente um percentual ínfimo, se compararmos com o mesmo custo de aquisição e manutenção em relação ao salário de um trabalhador brasileiro que recebe o salário-mínimo. A dor, o prejuízo monetário, de ter o aparelho celular roubado para este último é proporcionalmente muito maior do que aquela sentida pelo juiz.
O que me deixa estarrecido vai além da tipificação do patrimônio roubado, se foi um celular ou não, um automóvel, uma moto ou uma casa! Mas sim a falta de respeito e o descaso para com o trabalho despendido por milhões de brasileiros que gastam milhões de horas de suas vidas para adquirirem honestamente os seus bens, para depois serem vilipendiados ao tê-los subtraídos por criminosos, que em número são insignificantes e que como tal deveriam ser julgados, por sua insignificância humana.
Grandezas e proporcionalidades são algo no qual os brasileiros deveriam pensar com mais cuidado, para descobrirem como elas estão imbricadas nas suas vidas e no mundo, o seu desconhecimento por parte daqueles que tomam decisões que afetam destinos criam um campo fértil para a iniquidade.
Professor Doutor Geral Filho (UFPI)
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