Por: Pádua Marques (*)
No meu tempo de menino, quando menino brincava e aprendia muita coisa interessante na rua, havia muita gente com falta de juízo. E esses homens ou mulheres que em muitos de nós metiam medo ou repulsa, fossem já velhos ou jovens, a gente chamava de doidos. Hoje tem menos. Mesmo porque àquela época eram poucas as ações do governo com seus programas de assistência à saúde mental e à pobreza. Se pobre passava baixo imagine quem era as duas coisas juntas, pobre e doido. Existia uma segregação muito forte.
E eu lembro de um dia desses da infância eu estar na beira da praia e vi um homem maltrapilho e com sinais de demência que se punha a rebolar pedras no rumo da água como se quisesse alcançar alguém que se afastava ou que lhe havia causado algum dano. Começou rebolando das pequenas depois passou pras maiores e agora já estava naquelas birrudas, as grandonas, as de calçamento e até bandas de tijolos. E enquanto ia rebolando pedras ele ia desferindo no inimigo da sua loucura toda sorte de nomes feios. E de tanto eu ver aquele doido rebolando pedras na direção do mar fiquei intrigado.
E fiquei cá comigo olhando aquele doido jogando pedra no mar. Passou o dia inteiro naquela arrumação besta. Criei coragem e fui tomando chegada mais pra perto pra ver até onde ele teria sustança no braço e paciência pra aguentar aquele sol a pino, coisa de ferver miolo. Fui puxando conversa, mas tomando cuidado pra meter o pé na carreira caso a situação não fosse a meu favor. E me veio a ideia de perguntar pra aquele doido a causa de estar ali no meio do tempo rebolando pedra no rumo de dentro d’água. E ele me disse que estava tentando assustar o cavalo de Dom Sebastião, rei português e que havia se perdido na batalha de Alcácer Qibir, na África.
"Porto" de Luiz Correia
E aí me alembra outra passagem de tempos de menino quando em roda de histórias à noite, antes de tomar o caminho da rede alguém disse que o Japão ficava debaixo do chão. E que se a gente largasse a cavar dia e noite haverá um dia de chegar lá. E que era terra farta e de gente boa e rica. Então eu fico cá comigo ouvindo estas histórias se repetindo de que o governador Zé Filho quer retomar as conversações sobre as obras do porto de Amarração em Luiz Correia, aqui perto. E nessa semana agora mais essa de Valdecir Cavalcante, da Federação do Comércio do Piauí estar levando ao governador um projeto já pronto sobre este mesmo assunto.
Então eu fico cá comigo vendo e ouvindo esses políticos e presidentes de entidades de classe do Piauí gastando energia e o pouco tino que têm com esta história repetida de porto quando já foram tantas e tantas as tentativas e não se avançou uma braça. E ficam feito, desculpem vocês a comparação, aquele doido jogando pedra no rumo do mar. E todos ainda se lembram do rompante de Wilson Martins quando governador e que chegou a dar data horário da atracação do primeiro navio. Todos sabem no que deu a ladainha. E essa conversa repetida de porto mais parece aquele barulho de lata na goteira. Agora vai começar tudo de novo. As mesmas promessas, as mesmas iniciativas e os mesmos arroubos de valentia, tão típicos de políticos em época de campanha eleitoral. Eu nem vou, assim como dizia meu amigo cearense Mongol lá pelos ido de 1975 em Fortaleza, se referindo à sua máquina de escrever, gastar o couro da cabeça dos dedos mais uma vez com esta história sem fim. Desculpem vocês de novo e mais uma vez pela franqueza, mas eu sou de ver o Piauí ainda por um bom tempo, quando se falar em portos brasileiros ter lá suas limitações.
"Porto" de Luiz Correia
Acho muito difícil nesta atual situação brasileira o governo, por mais fantasioso e demagogo que seja abrir a burra pra se construir um porto ainda se baseando em cima de projeções muito, mas muito remotas de desenvolvimento. E mais ainda sem oferecer condições de retorno dos investimentos. E mais ainda sabendo que outras tentativas se frustraram e deram um enorme prejuízo ao Governo. Nem vou repetir na lembrança de vocês o que aconteceu com o dinheiro. Eu até me penitencio se estiver errado. Vou pro caroço de milho e pra palmatória. Mas não vou ficar feito aquele doido jogando pedra no mar pra ver se acerto o cavalo de Dom Sebastião.
(*)Pádua Marques é escritor e jornalista
EDIÇÃO: BERNARDO SILVA
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