Por:Pádua Marques(*)
Nessa semana me chega por um jornal da capital Teresina, uma entrevista com o superintendente da Polícia Rodoviária Federal no Piauí, Alexandre Cruz, onde fala sobre a atuação dos policiais piauienses na Copa do Mundo, entre 12 de Junho e 17 de Julho, considerado um dos maiores eventos esportivos do mundo e que reúne, como o próprio nome diz, representações de quase todos os continentes. Desde o Bom Princípio, aqui na fronteira com Parnaíba até o Caixa-pregos, lá perto do Deus Me Livre, de Picos pra uma banda.
Mas independente da brincadeira inicial e de quem esteja chegando pra este grande evento, o que me chamou a atenção foi o superintendente dizer que o Piauí deve enviar nada mais nada menos que 350 policiais pra atuação na segurança nas cidades-sedes. Somente a Polícia Rodoviária Federal está enviando 75 dos seus agentes e inspetores e mais quatro dos seus melhores cães. Um dos cães vai inclusive ser treinado pra farejar explosivos. E segundo Alexandre Cruz, este cão só sabia até então meter o nariz aonde tinha entorpecentes. Certamente foi recrutado entre a fauna do interior aonde os de sua espécie são exímios caçadores de tatus ou de preás.
E a coisa não ficou somente na declaração. Este pessoal já embarca pra seus lugares de atuação ainda na primeira quinzena deste mês. Pra Brasília já seguiram delegados e agentes da Polícia Federal pra junto aos de outros estados formarem contingente maior que muitos exércitos armados de muitos países. Os policiais rodoviários federais piauienses vão trabalhar em Fortaleza, Natal, Recife e Manaus. Só voltam pra o Piauí quando a Copa do Mundo acabar e o último torcedor tenha chegado são e salvo em casa.
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E aí eu fico aqui neste canto de mundo observando o Piauí, um dos estados mais ricos e com maior cobertura policial do Brasil mandar pra um evento de mês inteiro um contingente de seus policiais pra que junto a outros de outros estados fiquem fazendo a segurança das estradas e das delegações, turistas e até de chefes de estado que vêm assistir aos jogos. O Piauí que tem e faz inveja a muita gente, que tem uma malha viária mais parecendo um tapete negro com bordas douradas, do rico salão amarelo do sultão Fadul Al Abbe, manda de mão beijada seus já poucos policiais rodoviários pra uma Copa do Mundo lá no Brasil.
E me vem à recordação de ter viajado muitos anos atrás em ônibus da Itapemirim cortando caminho pelo meio do mato e saltando por cima de cobra e desviando de tocos e jumentos, vindo de São Paulo ou do Rio de Janeiro e tentando alcançar a Parnaíba, que fica no mapa do Brasil lá na cabeça da vaca. E depois de às vezes até metade de um dia não ter dado decara com um posto da Polícia Rodoviária Federal que no caso de uma necessidade extrema nos pudesse ajudar no aperreio.
E me lembro daquelas travessias, que aos olhos de hoje eram uma aventura de doido e que por Deus eu juro nunca mais repetiria, que mais pareciam filmes das grandes cruzadas e das expedições na África e no Oriente Médio. Era todo mundo dentro de um ônibus do tamanho da van 28, aquela que vem lá do Alto de Santa Maria, entrando de mata a dentro sem saber que um dia haveria de ver de novo a casa da mamãe Mina. E só a coragem de enfrentar aquela terra deserta e um dia chegar a Parnaíba. Era coisa mais parecida com os desertos do Afeganistão, do Irã ou do Iraque, do finado Sadam Hussein.
Naquele deserto, naquele inferno escaldante, aonde o cão havia assado castanha e deixado o caco esfriando nas proximidades de Picos, o ônibus corria léguas e mais léguas e não se via um posto da PRF. Se ocorresse um acidente de monta nós tava era lascados naquele meio de mundo. E só mato e depois aquele fio de asfalto, aquelas léguas de estrada mais compridas que as das línguas das fofoqueiras da rua Madeira Brandão! E agora a coisa mudou e o Piauí, acho, tem até policial rodoviário federal de sobra pra mandar pra Copa do Mundo. Tá podendo o sultanato!E me sai este batalhão de policiais rodoviários federais daqui do Piauí levando até cachorro que mete o focinho em tudo que é buraco e descobre aonde os bandidos e os terroristas escondem armas pra fazer o que não presta. E aí eu fico aqui no meu canto assuntando, feito meu amigo Nenê Calixto, lá na sua casa do Buriti dos Lopes, como é pequena a abóbora celeste. Piauí terra querida. Policiais rodoviários, voluntários ou não, pra fazer segurança em Copa do Mundo deixando nossas já péssimas rodovias sem um guarda que seja. Retirar 75 policiais rodoviários federais, equipamentos e até cães farejadores pra engrossar contingente com outros estados da Federação pra evento de Copa do Mundo? Como dizia mãe Mina, mal empregado.
(*)Pádua Marques é escritor e jornalista
Mas independente da brincadeira inicial e de quem esteja chegando pra este grande evento, o que me chamou a atenção foi o superintendente dizer que o Piauí deve enviar nada mais nada menos que 350 policiais pra atuação na segurança nas cidades-sedes. Somente a Polícia Rodoviária Federal está enviando 75 dos seus agentes e inspetores e mais quatro dos seus melhores cães. Um dos cães vai inclusive ser treinado pra farejar explosivos. E segundo Alexandre Cruz, este cão só sabia até então meter o nariz aonde tinha entorpecentes. Certamente foi recrutado entre a fauna do interior aonde os de sua espécie são exímios caçadores de tatus ou de preás.
E me vem à recordação de ter viajado muitos anos atrás em ônibus da Itapemirim cortando caminho pelo meio do mato e saltando por cima de cobra e desviando de tocos e jumentos, vindo de São Paulo ou do Rio de Janeiro e tentando alcançar a Parnaíba, que fica no mapa do Brasil lá na cabeça da vaca. E depois de às vezes até metade de um dia não ter dado decara com um posto da Polícia Rodoviária Federal que no caso de uma necessidade extrema nos pudesse ajudar no aperreio.
E me lembro daquelas travessias, que aos olhos de hoje eram uma aventura de doido e que por Deus eu juro nunca mais repetiria, que mais pareciam filmes das grandes cruzadas e das expedições na África e no Oriente Médio. Era todo mundo dentro de um ônibus do tamanho da van 28, aquela que vem lá do Alto de Santa Maria, entrando de mata a dentro sem saber que um dia haveria de ver de novo a casa da mamãe Mina. E só a coragem de enfrentar aquela terra deserta e um dia chegar a Parnaíba. Era coisa mais parecida com os desertos do Afeganistão, do Irã ou do Iraque, do finado Sadam Hussein.
Naquele deserto, naquele inferno escaldante, aonde o cão havia assado castanha e deixado o caco esfriando nas proximidades de Picos, o ônibus corria léguas e mais léguas e não se via um posto da PRF. Se ocorresse um acidente de monta nós tava era lascados naquele meio de mundo. E só mato e depois aquele fio de asfalto, aquelas léguas de estrada mais compridas que as das línguas das fofoqueiras da rua Madeira Brandão! E agora a coisa mudou e o Piauí, acho, tem até policial rodoviário federal de sobra pra mandar pra Copa do Mundo. Tá podendo o sultanato!E me sai este batalhão de policiais rodoviários federais daqui do Piauí levando até cachorro que mete o focinho em tudo que é buraco e descobre aonde os bandidos e os terroristas escondem armas pra fazer o que não presta. E aí eu fico aqui no meu canto assuntando, feito meu amigo Nenê Calixto, lá na sua casa do Buriti dos Lopes, como é pequena a abóbora celeste. Piauí terra querida. Policiais rodoviários, voluntários ou não, pra fazer segurança em Copa do Mundo deixando nossas já péssimas rodovias sem um guarda que seja. Retirar 75 policiais rodoviários federais, equipamentos e até cães farejadores pra engrossar contingente com outros estados da Federação pra evento de Copa do Mundo? Como dizia mãe Mina, mal empregado.
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