Por:Pádua Marques(*)
São Paulo, a maior cidade do Brasil e toda sua região metropolitana estão sofrendo nos couros o que os nordestinos já até se acostumaram e até nem acham mais graça, a falta d’água e o risco de um racionamento por conta da baixa no nível dos reservatórios do Sistema Cantareira. Este sistema acumulado chegou abaixo dos 11% no final do mês passado e já agora alcançou 10,9%. E ao que parece os paulistas ainda vão amargar um período de escassez porque a última chuva se deu no final de Abril quando caíram algumas gotas nos reservatórios.
A SABESP, a companhia de lá e que corresponde à nossa AGESPISA, está realizando obras de emergência desde Março com a esperança de conseguir água. Os executivos têm é visto urso engravatado para conseguir que o chamado volume “morto”, aquele que fica abaixo do nível das comportas e que na linguagem de caboclo quer dizer, no fundo do pote. Mas todo esse esforço e linha de recursos devem custar cerca de 80 milhões de reais com capacidade pra dar água aos paulistanos somente por quatro meses e deve ser usado já entre julho e agosto.
Nessa altura do desespero dos paulistanos sem uma gota de água pra lavar um copo ou uma calça jeans além da conta a gente fica se perguntando o que foi que aconteceu pra que esta situação chegasse a esse ponto. Cálculos bem precisos, inclusive de gente da USP apontam que o que ainda tem na quartinha da Cantareira só aguenta até setembro e que com o uso desse volume morto o abastecimento em toda a região metropolitana dá até pra, como se faz quando se está nadando e se dá um mergulho, colocar a cabeça fora d’agua e passar a mão na cara.
O governador Alckmin, com aquele sotaque de gente metida, nascida e criada na região de Ribeirão Preto, todo puxando nos erres, acaba de dizer pros já amedrontados paulistanos que eles terão um aumento na tarifa de água caso insistam em continuar lavando o carro na calçada aos finais de semana enquanto esperam o jogo do Corinthians. Nessa altura até aquela refeição do final de semana fica comprometida porque não tem mais de onde tirar água pra lavar os trens da cozinha. E assim os paulistanos estão passando pelo calvário de que padecem os nordestinos há séculos. Por isso que nunca é bom ficar mangando da miséria dos outros.
E me ocorre nessa segunda-feira, 12 de Maio, assistir a uma sessão da Câmara Municipal e prestar atenção pra um requerimento da presidente Neta Castelo Branco quando trata da situação de desespero de moradores da zona rural de Parnaíba, mais precisamente dos povoados da Baixa da Carnaúba, Olho D’Água, Quilômetro Doze e vizinhança. A vereadora foi até esses povoados, segundo contou, no final de semana, por ocasião do Dia das Mães e o que mais encontrou foi mãe com a mão na cabeça sem saber de onde tirar água pra dar banho, lavar calça do marido, cueiro cagado e fazer o de comer dos meninos.
Neta castelo Branco, como mulher, nordestina, piauiense e certamente dona de casa, embora tenha atividade urbana, sabe do que está falando. Não queira saber o que é uma mãe de família colocar os pés dentro dos chinelos e ainda de camisola ficar coçando a cabeça sem saber de onde vai tirar uma gota sequer que seja de água pra começar o dia. Não queira saber uma dona de casa olhar pros quatro cantos da casa e não encontrar uma gota d’água pra lavar um copo, fazer um chá de erva-cidreira e até mesmo afinar o caldo do feijão pra depois sair distribuindo entre os culumins.
E essas mulheres da zona rural de Parnaíba não conhecem uma realidade diferente que não seja sofrimento por anos e mais anos. Pedem pouco. Que quem de direito dê um jeito nessa pendenga. Não é mole não senhor! Imagine agora o caboclo, pedreiro, carroceiro, mecânico, enfim, seja de que ocupação que seja, vir lá da Parnaíba no sol quente e em cima de uma bicicleta e quando chega em casa não tem uma gota de água pra tomar banho. Lá vai aquele miserável, que já passou o dia inteiro levando carão e toda sorte de cobranças do patrão, ainda ter de puxar num poço toda a água que necessita pra esfriar a cabeça!
Pobre sofre. E se for pobre e morar na zona rural, no mato, como se diz aqui na minha terra, aí tá lascado! Porque governos e mais governos passaram e não consideraram a zona rural como terra que tem gente. Mas pra que aquela gente quer energia elétrica, água encanada, linha telefônica, estrada pavimentada? Escola, posto de saúde, supermercado, farmácia e tantos outros benefícios sociais e típicos da urbanidade? Políticos e governo vão lá naquele meio de mundo em época de eleição fazem uma horinha, prometem mundos e fundos e depois nunca mais.
Pois está faltando dar uma satisfação pra essa gente da zona rural de Parnaíba. Não deve ser brincadeira a professora, dona Conceição ficar assuntando com a cara pra cima naquela praça da Baixa da Carnaúba, cercada de alunos, sem saber como dar água praquele monte de meninos. Não deve ser fácil pra dona Eliana, mãe de família, ficar pagando do pouco que ganha do Bolsa Família, quatro ou cinco reais por um galão de água num caminhão-pipa. Sim, porque na Baixa da Carnaúba, Quilômetro Doze e outros povoados devem ter mulheres que se chamam Conceição e Eliana. Assim como tem um lugar que se chama Olho d’Água.
(*)Pádua Marques é jornalista e escritor
FONTE:JORNAL "TRIBUNA DO LITORAL"
FONTE:JORNAL "TRIBUNA DO LITORAL"
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