6 de abr. de 2014

ZÉ FILHO: Um discurso para reflexão

Na transmissão do novo governo, o que mais chamou a atenção do público e da classe política foi o discurso proferido na Assembléia Legislativa pelo governador Antônio José de Moraes Souza Filho.

Sincero e fiel às suas origens familiares, Zé Filho iniciou pontuando que estava ali decidido a mostrar sua personalidade influenciada pela lição dos pais: “Deles colhi a certeza de que o melhor caminho é o da ética e o maior legado é o da honradez. Por estes ensinamentos, peço permissão a todos aqui presentes para registrar, nesse momento especial, minha eterna gratidão ao meu pai, o deputado Antônio José de Moraes Souza e à minha mãe, dona Mana”.

Quem assistia e ouvia um dos discursos mais graves da história política piauiense nos últimos tempos, percebeu que o novo governador não discursava naquele púlpito apenas para posar, aparentar ou servir de figura decorativa na substituição do titular, mas para fazer história e exercer na sua plenitude um direito que lhe fora garantido constitucionalmente: falar como governador do Piauí.

Após a primeira parte do discurso, dedicado à família e à sua trajetória política, foi direto ao assunto e, citando John Kennedy, deu o exemplo àqueles que tinham – e têm - vontade de dizer, mas faltava-lhes a coragem necessária: “Devemos ter em mente, sempre, aquilo que podemos fazer para melhorar o meio em que vivemos e nunca tentarmos nos servir deste meio para a grandeza própria.”

Um recado forte e dirigido para os que se servem do Piauí para tirar proveito próprio, para o enaltecimento particular sem causa. 

Em uma das pausas do discurso, o governador proferiu uma advertência para ser refletida: “Chega de tanta discórdia! O Piauí está acima de nós! Vamos lutar e vencer estas batalhas! Se estivermos e permanecermos unidos. Isso é o que peço”. A admoestação, claro, o preparou para que a parte mais importante do discurso, quando, em forma de escamação, desolação, desgosto, dissabor, confessasse que, “(...) de todas as lembranças que guardei em meus 44 anos, da que mais me lembrarei, até o ultimo dia da minha vida, será a do silêncio que vivi (...)”.

Um silêncio, todos sabem, imposto por aqueles que lhe “puxaram o tapete” na ânsia e na ganância desesperada e desequilibrada na busca e na conquista do poder a qualquer preço. Ele foi “apunhalado” traiçoeiramente! Humilhado e execrado porque queriam – como querem - “castrá-lo” o direito de ser candidato e concorrer ao cargo de governador. Tentaram cognominá-lo até de “sucata política”! Mas, como disse no discurso, preferiu o silêncio. Aquele ensinado por Augusto Cury, psiquiatra e escritor brasileiro, que louva: “o Silêncio é a Oração dos sábios”. Como se identificou no seu recôndito, no seu silêncio quase que sepulcral, obrigou-se a seguir à risca a máxima de Cury, segundo a qual “a maior aventura de um ser humano é viajar. E a maior viagem que alguém pode empreender é para dentro de si mesmo”.

O discurso de posse do governador do Piauí mostrou para todos nós que ali estava um cidadão magoado, um homem com uma cicatriz profunda, uma incisão, um estigma produzido – com ele mesmo disse – pelas críticas, pelos ataques, pelos pré-julgamentos e pelas injustiças assacadas contra ele. Para justificar a exasperação, o furor, o embravecimento, citou Roosevelt, de modo enfático: "O crédito cabe àquele que está na arena, com o rosto coberto de poeira, suor e sangue. Àquele que luta com valentia, aquele que erra e tenta, vez após vez, porque a vitória exige o maior esforço, a maior dedicação".

Assisti, ouvi e li o discurso. Brilhante, inquestionavelmente! Uma pérola para o momento político atual. São poucos os homens e políticos do Piauí com a grandeza, a coragem necessária e suficiente para, em público, confessar que foi “capaz de enfrentar toda forma de provação, enfrentar a todo tipo de sacrifício, suportar o fardo mais pesado... Tudo para assegurar o direito de ter direito a dar a minha contribuição na tarefa de construir um Piauí melhor. A verdade é que muita gente duvidou. A verdade é que muita gente lutou contra. Mas, também é verdade que estou aqui hoje, absolutamente pronto, para me entregar de corpo e alma à missão de conduzir o Piauí a um porto seguro”. 

Zé Filho foi, acima de tudo, provocado! Quem duvidou dele? Hoje, sabe mais do que ninguém quem são todos eles. Quem lutou contra ele? Agora, conhece todos os autores, atores e personagens do plano arquitetado para destroná-lo de uma candidatura iminente.

Reconheçamos, o discurso dele foi brilhante! Tanto que não se esqueceu de encerrá-lo com duas oportunas reflexões: a primeira, proferida pela primeira mulher eleita para liderar um país muçulmano, Benazir Bhutto, segundo a qual: "Pode-se aprisionar um homem, mas não uma ideia. Pode-se exilar um homem, mas não uma ideia. Pode-se matar um homem, mas não uma ideia"; a segunda, após permitir-se um grande abraço pelo Piauí, premiou-nos com a máxima ditada por Mahatma Gandhi: “Primeiro eles te ignoram, depois riem de você, depois brigam, e, então, você vence”.

O governador Zé Filho sabia - e continuará sabendo - quem o ignorava e quem o atacava. Enfim, quem riu dele e continua rindo. Mas, decidiu permanecer como que seguindo os passos traçados por Ana Lins do Guimarães Peixoto Bretãs, a grande poetisa Cora Coralina: "Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, que no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir." 

Sabe Deus como suportou e se controlou! Parafraseando Gandhi, inspiração para grandes nomes da história política mundial, como Churchill, Einstein e Martin Luther King, no seu desiderato, na redoma que lhe impuseram Zé Filho amargou a experiência e não teve escolha senão seguir a suprema lição: “controlar a ira e torná-la como o calor que é convertido em energia. Nossa ira controlada pode ser convertida numa força capaz de mover o mundo”.

Portanto, que seus bárbaros não se cansem por esperar, porque Zé Filho não falou de graça!

*Advogado
Por Miguel Dias Pinheiro*

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