Por:Pádua Marques(*)
Quando eu era menino, filho que sou de família numerosa, minha mãe tinha sempre o cuidado de todas as tardes nos dar o banho, nos pentear um de cada vez e com o maior cuidado nos deixar prontos pra chamada hora do café. E depois quando a noite vinha chegando, quando, ainda não havia televisão em Parnaíba, a gente se sentava na calçada em frente de casa e com alguns amigos ficávamos até por volta das nove horas a contar as famosas histórias de Camões, Trancoso, adivinhações ou quando alguém mais dado a peraltices se punha a contar histórias de macaco.
Terrível mesmo era quando alguém do grupo na má intenção de ver a debandada pro fundo da rede passava a contar histórias de assombração e de alma. Passado algum tempo, que não era muito, pouco restava do grupo de crianças alegres e mansas.
Ninguém ficava encompridando conversa sabendo que dentro de mais algum tempo haveria de mergulhar no findo de uma rede e no escuro. E nós crianças daquele tempo tínhamos medo dessa hora terrível da meia-noite, hora que a gente grande dizia ser a hora das almas descerem ou saírem de onde estavam pra puxar nossos pés e nossos chambres ou passar mingau na nossa cara.
Mas volto ao início pra lembrar o quanto é importante pra uma cidade feito a Parnaíba, principalmente agora, estar limpa e bem de feição quando passamos mais cedo ou mais tarde a receber gente de fora. Da mesma forma que minha mãe fazia quando tínhamos visita, fosse de amigos, parentes ou de nossas madrinhas, aquelas senhoras sempre elegantes e perfumadas que vinham pra nossa casa comer de nossa comida no domingo. E me lembro dessas poucas vezes porque a impressão que causamos na visita sempre foi a promessa de voltar outras vezes.
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Porque a cidade é a nossa família ampliada, desse tamanhão, feito um quintal imenso. E se estivar limpa, asseada, com tudo funcionando ao tempo e a hora, sem causar qualquer tipo de constrangimento na dona de casa e repulsa na visita até que dá gosto ouvir que ela vai voltar. E me ocorre lembrar que certos equipamentos ditos e próprios da atividade turística em Parnaíba, casas de diversão, pontos comerciais, sejam grandes ou pequenos, desde lanchonetes e até restaurantes ainda não se deram conta de que é preciso mudar pra melhor pra poder ser mais atraente aos olhos de quem vem de fora.
Pra muitos de nós parnaibanos até que pode parecer familiar ou exótico comer um churrasquinho regado a cerveja numa esquina qualquer da Guarita ou no grosso do bairro Piauí, servido na calçada sem a menor sem cerimônia e falta de higiene, no meio da noite e daquela fumaceira toda de deixar esfregando os olhos. Mas aos olhos de quem nos visita em muitas das vezes não é nada engraçado ou original. Assim como não deve ser nada atraente o turista se deparar numa lanchonete ou restaurante com gente, homens ou mulheres usando a mesma toalete, aquela coisa improvisada, feita de caixa de papelão.
Agora bonito pra nossa cara depois de alguns dias a gente ler num jornal ou revista de grande circulação que apesar de nossas praias serem ainda as mais exóticas e limpas de todo o litoral brasileiro a nossa hospitalidade está abaixo de zero e de pó de traque. E porque assim acontece é porque ainda achamos que ninguém se importa com aquilo que vê. A gente tem essa mania de achar que no improviso vai ser original, autêntico. Mas não é nada disso não a partir de agora. Devemos ter consciência de que a cada dia estamos querendo ou não sendo vistos e admirados, comentados e avaliados pela mídia especializada, artistas, intelectuais e gente acostumada a viajar pelo mundo. Gente que conhece, come e bebe coisa que presta.
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Vamos acabar com esse negócio de tentando justificar a pobreza de nossa casa vamos relaxar na aparência. Nada justifica ponto comercial sujo. Nada justifica motorista de taxi com a camisa imunda, sem asseio do corpo e muito menos garçom com má aparência, colarinho desalinhado, as unhas mais parecendo as de um cachorro e cheirando a pinga. Nada justifica um atendente de lanchonete vir servir o cliente com um pano que passa no balcão no ombro que mais parece aquele de limpar a privada. Vamos nos dar o brilho necessário pra que a visita não fique decepcionada com a nossa casa.
Portanto é hora de repensar nossa aparência aos olhos de gente de fora. Vamos acabar de uma vez por toda com os improvisos. Essa coisa do de qualquer jeito, com casca e tudo. E não é somente em relação aos estabelecimentos que vendem alimentos, meios de locomoção, hospitais, escolas, supermercados, shopping centers e outras atividades. É também nossa forma de tratar as pessoas. Vamos tratar as pessoas, seja lá quem e de onde venham, com elegância e urbanidade. O turista não vem tirar nada de nossa casa. O turista não vem até nós pra ser hostilizado, seja lá de que forma. Ele vem pra nos conhecer e saber como somos interessantes e sabemos ser felizes.
(*)Pádua Marques é jornalista e escritor
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