Por:Pádua Marques(*)
Vou começar pelo fim porque pelo começo todo mundo faz. E logo eu que detesto fazer do jeito que todo mundo. Pois muito bem. Esta semana, no sábado, como é de meu costume, saio eu de minha casa pra dar um passeio pelo centro de Parnaíba, o centro histórico, começando pelo Armazém Paraíba do “seu” João Claudino, na avenida Presidente Vargas, Mercado da Quarenta, praça da Graça com a Banca do Louro e aí eu me detenho mais na igreja de Nossa Senhora da Graça. Lá eu paro e rezo. Rezo e peço a Deus e a aquele meu parente, que nos livre de tudo e quanto é tipo de mal.
Dificilmente eu pendo pros lados do Complexo do Porto das Barcas. É que é meio contramão e, cá entre nós, até que mete medo em qualquer vivente. Mesmo que tenha a melhor das intenções e esteja armado. Mas é na praça da Graça que eu e todo mundo acaba encontrando os amigos de sempre e aqueles amigos que faz tempo não aparecem. Mas vou cortar caminho entre os belos e agora bem cuidados canteiros entre a Banca do Louro e a igreja de Nossa Senhora da Graça pra uma conversa com os santos, que nesses tempos de decisões difíceis são ainda quem nos ouvem.
Mas eis que estava eu ali contrito a rezar quando de repente ouvi um tropel de vozes e pelo apuro do ouvido era coisa de menino. Não deu outra. A igreja estava sendo invadida por mais de seis deles. Meninos e meninas, já de tope, assim coisa de entre sete e dez anos, taludos, sem vergonha de nada e de ninguém. Passaram a correr por dentro da igreja e a tentar mexer nos objetos mais à mão e até nos santos, subindo nos bancos e no púlpito, fazendo pulitrica como se estivessem na aldeia. Eu vendo que o rapaz que estava de vigília, ali aboletado nem havia se mexido tomando providência resolvi por minha conta tomar pulso de autoridade.
Mas que latumía é essa? Eles deram aquela de, nem escuto a zoada da mutuca. De onde estava larguei a reza e dei uma bronca bem dada. Mandei que se retirassem na mesma pisada em que chegaram. No meu tempo de menino era coisa de chamar e dar um coque bala em cada um. E bem dado. Até os santos me vendo assim de repente sair dos trilhos da paciência ficaram surpresos. São José e Santa Teresinha ficaram mais brancos que tapioca feita de goma fresca. Expliquei pros dois santos que alguém precisa nesta cidade tomar pulso de certas coisas porque se cair em mão de desordeiros nunca seremos uma sociedade organizada.
Imagem ilustrativa
Eu acho que eles entenderam. Mas que Deus me perdoe. Deu raiva em ver aquilo prestes a acontecer. Nossa cidade está e mais precisamente o centro velho, tomada por desordeiros, malandros, ladrões crianças e jovens abandonados e faltos de juízo. Toda sorte de gente. De dia é ruim e piora à noite. Mete medo a muita gente entrar num templo pra rezar. Vai que está rezando e entra um ladrão? Rouba você e até o santo. Já imaginou a situação ver São José sendo ameaçado e xingado tendo que meter a mão no bolso pra tirar o apurado da esmola e entregar assim, de mão beijada, sem mais nem menos pra um bandido? Nem dá pra sair gritando e pedindo socorro porque não tem com quem deixar o menino Jesus.
Mas agora é o começo da outra história. Faz tempo que o governo do Piauí leva todo ano pra São Paulo a nossa produção industrial, riquezas minerais, artesanato, enfim, o que se acha interessante e que possa atrair investimentos. É coisa ainda do tempo do primeiro governo do Wellington Dias, do PT e que teve continuidade com o Wilson Martins, do PSB. O chamado Piauí Sampa tem a duração de uma semana num dos espaços de compras mais caros da capital paulista, o Shopping Eldorado, em Pinheiros.
A proposta ambiciosa de levar pros paulistas nossa produção primitiva ao que parece não vem despertando interesse depois de muitos anos. A economia paulista é muito complexa e seletiva. Os empresários ali estabelecidos, isso é natural no capitalismo que praticam, são excessivamente pragmáticos. Eles e do que eu conheço deles, não se impressionam com estimativas e projeções a perder de vista, principalmente de regiões pra eles consideradas de pouco peso dentro do PIB brasileiro como é o caso do Piauí. Todas as cidades da região metropolitana de São Paulo economicamente dão de 10 a 0 em nós e é pra essas economias que os empresários têm os olhos voltados.
Eu particularmente acho que este evento anual deveria já a essa altura ter entrado noutras praças atraentes da economia brasileira. Minas, Brasília, Rio Grande do Sul, Paraná. Principalmente o Distrito Federal, onde está a maior colônia piauiense. O Piauí precisa crescer e eu sei disso. Mas ficar insistindo mostrar essa reserva pra um único pretenso mercado principalmente neste momento de inquietação política e econômica, é no mínimo ter visão limitada. O Piauí precisa primeiro se equipar com todas as ferramentas: porto, aeroportos, estradas, energia elétrica segura e barata, menor burocracia pra poder sair de casa. Igual quando a gente sai pra balada: gasolina no carro ou na moto, documentos, dinheiro e telefone pra contato.
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