Por: Pádua Marques(*)
Dentro de mais alguns dias o vice-governador Antônio José de Moraes Sousa Filho, parnaibano, filho e sobrinho de políticos, assume o governo do Piauí em decorrência da renúncia do titular, Wilson Martins, que sai em campanha no momento oportuno tentando uma vaga no Senado. O que neste momento podemos dizer é de que o médico nascido nas brenhas da região de Picos encerra uma carreira política de poucos feitos, mesmo quando esteve ocupando cargos executivos. E que não foram poucos.
Wilson vai tentar ser mais um no ninho azul do Senado, que eu particularmente considero um depósito de políticos sem muita expressão e expectativa de vida pública, embora ali tenham poucos excelentes e atuantes senadores. Na linguagem de calçada e de ponta de esquina, o Senado é feito um armário onde estão agora guardados aqueles frascos de perfume que faz tempo ou nunca foram abertos e, portanto perderam a essência, mas que pelo formato exótico ainda enchem a penteadeira lhe dando a falsa ideia de riqueza da dona.
Com todo o respeito que tenho pelo médico Wilson Martins e sua família. Mas calculando o que fez e o que deixou pelo caminho, pouca coisa merece relevo nesta altura dos acontecimentos. Lembro e acredito que todos nós lembramos ainda de sua campanha pra governador, de norte a sul e de leste a oeste do Piauí. Ele prometeu mundos e fundos, transformações profundas dentro da máquina executiva. Pouco fez. E tanto faz como pouco fez numa altura dessas do caminho. O certo é que Wilson Martins vai ficar devendo e muito ao povo que lhe confiou o voto.
Mas como povo é bicho besta, feito boi de canga, que só serve pra levar pau no lombo, dentro de mais alguns dias, ninguém, digo sem medo de errar, mas ninguém mesmo há de se lembrar do ocorrido. A mesma coisa como briga em rua de subúrbio. Saindo do bate-boca pra uma puxada na peixeira ou uma mãozada na cara e logo mais ninguém fala mais nisso. O próprio tempo e as circunstâncias farão de Wilson Martins apenas mais um que passou e virou passado. Igual feito aqueles amigos de infância que a gente depois de crescidos tem a besteira de achar que continuam os mesmos. Ilusão.
O certo é que agora assume Zé Filho. E por ser parnaibano por aqui muito se espera dele e de quem ele a essa altura deve ter escolhido para seus auxiliares. E é coisa desde a praça da Lagoinha, Tia Maria, Bar do Zé do Santos, Bar Carnaúba, Tabocas, Barbeirinho, Banca do Louro, Sorveteria Araújo, Velha do Pano Sujo e demais pontos onde se concentram os maiores cientistas políticos da Parnaíba. Mas é bom que se diga pra depois não virem com aquela história de que a gente esperava mais e nada disso ocorreu. Antônio José de Moraes Sousa Filho não tem lá esses tempos de sobra pra fazer e acontecer não. Pelo menos em 2014.
O Piauí precisa e muito da criatividade, ambição, audácia, recursos, projetos, enfim, de todos os mecanismos necessários pra se manter em pé de igualdade e competitivo com os outros. Mas é bom que se diga também, com os pés no chão. Aliás, um pé no chão e o outro dentro do chinelo. Porque é muito ruim pra nós, o povo, acreditarmos em um político e em sua equipe e logo em seguida, na primeira eleição que tem ele por pura ambição abandona o que estava fazendo e deixa na mão e no meio da rua toda uma confiança depositada.
A gente espera que Zé Filho se cerque de bons secretários, pragmáticos, técnicos, saiba ouvir pra ser ouvido, tenha um projeto executivo atraente, responsável, sem rompantes de megalomania. Que pelo menos no pouco tempo até o final do ano a gente veja alguma coisa. Não temos certamente essa ambição de em menos de dez meses que o Piauí se transforme assim da noite pra o dia num mar de prosperidade. Mesmo porque na vida é muito difícil e até incômodo quando o camarada é pobre e assim por algum golpe de sorte de repente sai do atoleiro em que vivia. Digo isso materializando o Piauí. Pode até mudar a casca, mas o miolo vai ser o mesmo ainda por muito tempo.
Eu particularmente tenho consciência disso. Porque os piauienses e os parnaibanos já estão cansados de ouvir conversa mole. Nós já estamos mais que cansados de ouvir promessas que nunca são cumpridas. E pela lógica republicana Zé Filho não pode alimentar expectativas acima das possibilidades e da conjuntura de tempo e espaço político. É uma regra mais que prática. Pra encerrar esta conversa mais que enfadonha pra mim: vamos acordar amanhã e antes de tocar os pés no chão, com calma vamos procurar os chinelos. É assim que se começa um excelente dia de trabalho: com os pés no chão, mas calçados.
(*)Pádua Marques é jornalista e escritor
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