24 de fev. de 2014

DESERTO DE CIDADANIA

Chega-me de Parnaíba O Bembém, com que a inteligência e o verdadeiro espírito de parnaibano do Benjamin nos brinda a cada mês e nele encontro a notícia de que o Prefeito Florentino Veras, com o apoio unânime da Câmara de Vereadores, pretende eliminar o Jardim dos Poetas, em tão boa hora criado por Paulo Eudes, quando à frente da Municipalidade.

                                 Praça dos Poetas

Lamentavelmente, esse dirigente já começa a nos dar motivos de decepção quanto ao que dele esperávamos, porque pode existir coisa mais triste e menos indicativa de amor à cultura e às coisas do espírito do que destruir uma praça dedicada à intelectualidade, para dar lugar a imóvel comercial, numa clara demonstração de que à direção da cidade importa mais o dinheiro?

Outra atitude que causa desgosto é a dos órgãos que se afiguram representantes da intelectualidade da terra – Academia Parnaibana de Letras, o Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba, como a recém fundada Academia de Ciências, Letras e Artes, cujo protesto não foi expressado formalmente, como se esperava, pois até pelo disposto nos seus Estatutos, lhes é imperativa uma saída da inexplicável omissão, a não ser que eles devam ser usados, apenas, em certos casos.
Quanto à mídia parnaibana, com honrosa exceção feita a O Bembém, parece ter outras preocupações mais importantes – embora naturalmente não condizentes com os interesses da cidade e do seu povo – essa também tem se mantido em atitude de completo alheamento ao assunto, por razões que, embora nem tão difíceis de entender na atual conjuntura, certamente não se coadunam como o dever maior do jornalismo, que é o de aclarar os fatos, a qualquer preço e tendo como único objetivo a verdade, doa a quem doer, inclusive porque é ele a voz dos que não a têm.

Mas, e os poetas que lá mereceram destaque aos seus versos, - pelos quais lançaram aos ventos os cantos de amor, paixão e sofrimento -, assim como os que tal honra não tiveram; todos os poetas, por que se calaram, primeiro ao desprezo pela Municipalidade votado ao seu Jardim e, agora, à triste pretensão do atual Prefeito? Não se estão sentindo alcançados com isso? Não lhes dói ver a sua inspiração varrida assim para a poeira do esquecimento, como coisa inútil, inservível? Ah! Se meu amigo e poeta Guido Vaz estivesse ainda entre nós, dele partiria, com certeza, o grito de protesto contra essa ignomínia que intenta praticar quem, mais do que ninguém – porque escolhido pelo povo – teria de lhes louvar e prestigiar as estrofes.
Por outro lado, segundo informações recentes, o IPHAN não emitiu ainda parecer sobre essa pretensão, apesar de já ter sido consultado, confirme informação dada a Bembém, pela sua Superintendente, publicada em dezembro de 2013. Então, se o seu parecer é indispensável, como puderam os vereadores e o prefeito elaborar e fazer votar aquela Lei, antes de ter ele sido expedido? E haverá possibilidade de concordância daquele Órgão, mesmo ao arrepio das disposições legais? São perguntas que aqui ficam.

Mas, para terminar, uma triste constatação: em Parnaíba, a cidadania perde feio o embate com o monetarismo e vale mais construir galpões ou vilas comerciais do que ocupar espaços com literatura -  que nada rende, supõem, pelo visto, os que elaboraram e aprovaram  coisa tão lesiva e tão triste assim, para o reino da cultura e da espiritualidade de nossa terra.

E, à feição do simum, que varre implacavelmente as tórridas areias do Saara, aí o cifrão fustiga o campo das ideias, tudo levando de roldão.

Lamentavelmente, extremamente lamentável, inclusive para os nossos pretendidos foros de cidade civilizada.

Por:João Maria Madeira Basto

Fonte:Jornal "O Bembém"
Edição:Bernardo Silva

Um comentário:

  1. DESERTO DE IDEIAS. Louvo o artigo do caro amigo Madeira Bastos e reforço a necessidade de se criar mais espaços para nossa cultura. Que tal se fossemos ao Sr. Prefeito para reinvidicar que essa mesma praça tivesse um lugar mais condigno com a sua reprensentatividade? Por exemplo, na Beira Rio, naquele terreno acrescido de marinha, onde pastam bois e cavalos? Estaria bem disposta e feericamente iluminada e bem fornida de uma galeria de livros e outra obras de arte para nos parnaibanos e visitantes que diariamente a frequentam. Também poderia ser em alguma área do canteiro central da Av. São Sebastião. Amigos, reparem bem, aquela área ali est totalmente fora do circuito de lazer da nossa urbe. A noite e fins de semana não passa uma viva alma por ali ( a não ser a dos nossos queridos poetas já mortos a reclamar do abandono!). De antemão já faço o compromisso de dar essa ideia ao nosso Prefeito. Espero o coro de todos os que tenham compromisso com a nossa cultura!

    ResponderExcluir

Comente essa postagem

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...