Esta semana iniciou o reality show da
Globo “Big Brother Brasil – BBB”. Em seu 14º ano o BBB segue o mesmo padrão
apelativo. A baixaria é o prato principal.
Por mais que se critique, esse gênero rende audiência e repercussão. O
BBB é o produto global que atende a esta demanda, a diferença é que na Rede
Globo até a baixaria passa pelo Padrão de Qualidade.
“Ver quem quer”. Até parece..., pois
aqui no Brasil as novelas e estes programas são a única fonte de lazer para uma
grande maioria da população.
O tema despertou minha atenção por
encontrar duas jovens falando do início do programa, quanta empolgação! “Tu viu
quem está no BBB?”. Futilidades à parte, encarei a conversa com naturalidade.
Não entendia os detalhes, pois não assisto ao programa. Impressionou-me como
elas estavam ligadas. Faziam comentários sobre a vida dos participantes,
projeções do paredão, críticas morais e éticas aos moradores da casa, uma
verdadeira análise comportamental. Digna de registro.
Fiquei refletindo sobre algumas
questões: como é influente a televisão e o quanto esse meio de comunicação é
mal usado; os ensinamentos banais e prejudiciais que são propagados; enfim,
sobre a síntese, alguém que controla tudo, manipula, influencia outros e mantém
uma grande massa alienada.
Como este é um ano de eleições fiquei
imaginando como seria a nossa sociedade se o grau de envolvimento que se dá
entre o público e o BBB fosse aplicado na mesma medida para a política.
Refiro-me à Política com “P” maiúsculo. Por certo, tudo seria diferente do que
assistimos hoje.
Coincidências à parte, parece que temos
muito em comum entre o reality show da
Rede Globo e a política tradicional. Refiro-me aqui a essa “politicagem” que
ainda tem grande espaço em nosso meio. O cenário político parece um grande BBB,
senão vejamos: uma elite de iluminados, previamente escolhidos, não se sabe ao
certo por quem, nem quais os critérios, mas que nos aparecem como os
“ganhadores”. E nós é quem escolhemos. Escolhemos? Pagamos um alto preço pela
escolha...
Não são somente as classes menos
letradas e abastadas da sociedade, que ajudam a eleger essas pessoas. Os
oportunistas de plantão e os sabidos de pouca cultura completam o time. Essa
maioria vota em legenda política sem jamais ter lido o programa do partido.
Vota em candidato sem analisar o seu caráter, sua formação moral, ética e
profissional. São os mesmos eleitores que gastam seu escasso salário num
programa que acredita ser de entretenimento e, que não perdem um capítulo
sequer do BBB para estar bem informado na hora de pagar pelo seu voto...
Um “paredão” recebe em média 29 milhões
de ligações telefônicas. Cada ligação tem um custo de trinta centavos de real.
Logo cada paredão arrecada mais de oito milhões de reais. Isso mesmo mais de R$
8 milhões numa só noite! Coisa de país rico. Nem o UNICEF (Fundo das Nações
Unidas para a Infância) quando faz o “Criança Esperança”, com um forte apelo
social, arrecada tanto dinheiro...
Mas o “x” da questão não é esse. É saber
que se paga por um entretenimento vazio, que em nada colabora para a formação e
o conhecimento de quem dele desfruta; mostra a ignorância da população, além da
falta de cultura dos participantes e, consequentemente, daqueles que só bebem
nessa fonte. São três meses de puro deleite de como ser falso, mentiroso,
leviano, infiel, hipócrita, canalha, com todos os derivados da falta de ética e
moralidade estando à mostra.
Programas como o BBB existem no mundo
inteiro, mas explodiram em audiência em países sub-desenvolvidos. O cidadão
acompanha a vida da casa, discute seus diálogos, costumes e brigas, além de
pagar para votar na eliminação de um bobão ou bobona qualquer... mas não se
lembra em quem votou na última eleição, nem por que votou...
Que eleitor é esse? Depois não adianta
dizer que político é ladrão, corrupto, safado, etc. Quem os colocou lá? Na sua
maioria, o mesmo eleitor do BBB!
O BBB é uma sigla que reflete, como
nenhuma outra, a prostituição de valores de nossa sociedade. Enquanto a
sociedade brasileira der audiência a esse tipo de patifaria televisiva, a
falência da família e dos valores morais e éticos não vão mais retroceder.
Não é revolta, nem desabafo. É
constatação mesmo!
Mas, nem tudo está perdido. Eis um
desafio: vamos lançar o “BBB da Política”. Isso mesmo, vamos vigiar os
políticos! Analise, discuta e forme opinião sobre o caráter dos candidatos.
Veja como ele se comporta em relação às demandas sociais; qual o patrimônio que
tinha antes de eleito e se o que adquiriu é compatível com sua renda; se gasta
bem o dinheiro público; se não emprega familiares (crime do nepotismo); se não
faz acordos inescrupulosos; se não compra votos; se respeita as leis; se tem
competência para o cargo que pleiteia, dentre outros critérios que você pode
adotar.
Vigie o cara. Caso ele não preste,
coloque-o no paredão e elimine-o!
(*)
Fernando Gomes, sociólogo, cidadão, eleitor e contribuinte parnaibano.
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