Vou usar uma linguagem
de senzala, aproveitando a onda das comemorações do Dia Nacional da Consciência
Negra, pra tratar de uma coisa que julgo da maior importância pra o Piauí neste
momento: vou mexer no cozido enquanto a panela ainda está quente. Faz pouco
menos de quinze dias que aqui na Parnaíba foi realizado pela primeira vez o
Salão Internacional do Humor, evento grandioso, importante, do mais alto nível
cultural e economicamente falando, turístico. Evento que desde o início deveria
ter sido apoiado pelos sucessivos governos.
Ocorre aqui fazer
algumas considerações sobre esta iniciativa do Alberto Piauhy em trazer o
evento da capital Teresina pra essa ponta do mapa piauiense à beira do Oceano
Atlântico aonde faz tempo o governo tenta concluir um porto que teve começo e
ao que parece não terá fim. O evento tem um nome pomposo, Salão Internacional
do Humor do Piauí, na sua trigésima edição. Ao que parece a coisa não vinha
recebendo o merecido apoio na capital e seu obstinado fundador e organizador
achou de achar que Parnaíba seria o porto seguro.
Acontece que quem é
vivo e calejado sabe que um evento desse porte, e todo mundo que esteve na
praça Mandu Ladino viu, requer uma linha de recursos financeiros, logísticas e
parcerias pra se realizar e a praça empresarial de Parnaíba é mais segura com
dinheiro do que sacristão com saco de esmola de missa, mais desconfiada que nem
matuto contando moeda em estação de trem ou aposentado guardando dinheiro. Vi o
Albert pedindo ao prefeito Florentino Neto que da próxima vez, já prometida pra
o ano que vem, que fale com esses donos de supermercados, lojas de artigos
importados, revendedores de carros e motocicletas, postos de gasolina.
Que Florentino convença,
pelo amor de Deus, esses homens de que, patrocínios e apoios a eventos desse
porte podem ser abatidos na declaração de imposto de renda ou algo parecido.
Que o prefeito parnaibano, tão solícito e presente em tantos e todos os
eventos, meta na cabeça dura desses homens que um salão desses, traz divisas, abre
oportunidade de negócios, transforma a região num potencial turístico e é muito
bom pra produtos e serviços. Mas ao que parece o Albert Piauhy não andou tendo
muita sorte dessa primeira vez entre os empresários parnaibanos. Ou então
esteve falando o tempo todo em javanês.
Tenho certeza, tão
certa de quem um dia vai morrer que o Albert Piauy deve ter ouvido muito dos
empresários de Parnaíba coisa do tipo: “o chefe tá viajando e só com ele”,
“volte depois”, “tem não”, “as vendas estão dando mal pra pagar os funcionários”,
“esse mês não entrou nada”, “isso é lá com a prefeitura e o governo”, “esse
negócio é com o filho dele” e por aí vai. O pobre deve ter se sentido a pior
das criaturas naquele deserto de ignorância e vendo que as portas ao que parece
se fechavam todas à mesma hora.
Mas se faltou como
sempre falta conhecimento e ousadia aos empresários parnaibanos pra situações
desse porte em apoiar ou patrocinar um evento que traria dividendos à pobre
economia piauiense em Parnaíba, outra ausência foi notada, pelo menos por mim:
a dos estudantes, principalmente aqueles do curso de Turismo. Vi poucos,
pouquíssimos mesmo. Estavam lá como turistas, não como alunos de um curso que
tinha e tem tudo a ver com o evento. Perderam uma oportunidade e tanto em
aprender a trabalhar com a cultura sendo combustível pra a atividade que eles
pretendem ter como profissão.
Mas onde estavam estes
estudantes de turismo e outros dos cursos de letras, pedagogia, direito,
história, por exemplo, naqueles cinco dias do Salão Internacional do Humor do
Piauí, na praça Mandu Ladino? Estavam alegres e cheios de prosa em rodadas de
cerveja, cada um jogando com um celular de última geração e falando bobagens a
alguns quilômetros de distância, na sempre efervescente avenida São Sebastião.
Mal se deram conta de que perderam uma oportunidade única de estarem convivendo
com os maiores cartunistas e chargistas, escritores, jornalistas e outras
categorias intelectuais, inclusive de outros países.
O certo mesmo é que o
30º Salão Internacional do Humor do Piauí, evento que somente tem igual em
Piracicaba, São Paulo, veio pra Parnaíba correndo atrás de patrocínio e apoio,
tanto empresarial quanto de seus estudantes e dos veículos de comunicação.
Recebeu a promessa de que, ano que vem a prefeitura será mais presente com a
logística. Mas em relação à classe empresarial voltou com as mãos abanando. Não
poderia ter sido diferente. Admirava era se tivesse saído alguma coisa da burra
desses homens. Quanto aos estudantes, estes deram as costas e assim mais uma
vez um evento que foi feito pra eles e com a cara deles acabou dando pena de
ver.
E vendo o mau resultado
da presença de público no Salão Internacional do Humor do Piauí nesta primeira
vez em Parnaíba me ocorre lembrar um dito entre uns parnaibanos que conhecem
esta cidade e seus cantos escuros: quando você vê um artista, seja lá de que
categoria que seja vindo fazer temporada nesta cidade, pode esperar que ele
está em fim de carreira! É uma pena e não deveria ser assim. Bem que eu
particularmente desejo que este evento recente do salão seja o início de um
novo tempo e não o seu, como se dizia entre gente letrada, o seu canto do
cisne.
Pádua Marques
Jornalista e Escritor
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