7 de out. de 2013

Piauí 2050: e as nossas cidades o que estão pensando?!

Fernando Gomes, sociólogo
Participei outro dia de um Fórum de discussão sobre o futuro que queremos para o Piauí nos próximos 40 anos. Ideia louvável do governo do estado, pois somos um dos poucos filhos desta nação que não tem um plano de desenvolvimento estratégico. Foi dito lá que “nosso Estado é o que mais cresce no Nordeste e a grande transformação desejada exige estratégias bem definidas e integradas, capazes de estabelecer diretrizes que alcançam não apenas os próximos anos, mas também as próximas décadas”.

Perfeito, mas precisamos ter alguns pontos de reflexão nessa empreitada. É preciso entender que os problemas que o Piauí enfrenta, vão além de uma cultura oligárquica e predatória que se apropria do público como privado, estão conectados a um modelo de desenvolvimento regional e nacional que nos mantém à margem de todo o progresso econômico e social.

Secretário Cesar Fortes faz a apresentação do Plano de
 Desenvolvimento Sustentável - Piauí 2050  o futuro
que a gente quer
Nos últimos meses, o país celebrou orgulhoso, a redução das desigualdades sociais, com destaque para a diminuição da extrema pobreza. Mas, o que é ser“extremamente pobre”? Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, o conceito de pobreza extrema é caracterizado pela população com renda per capita de até um quarto de salário mínimo. O Piauí, por exemplo, se orgulha de ter um dos melhores desempenhos de redução do número de famílias que saíram desta lastimável condição humana.

Esses dados, embora concretos, são fundados na elevação do padrão de vida em função dos programas de transferência de renda do governo federal. Apesar do crescimento econômico notório das últimas décadas, permanecemos injustos e concentradores de riqueza.

Vice-governador Zé Filho durante a apresentação do Fórum
É preciso pensar nosso estado pela lógica de um modelo de desenvolvimento que se atreva a incluir os excluídos pela porta da oportunidade de distribuição justa das nossas riquezas. Não somos pobres, estamos pobres. E, isso faz uma grande diferença. Faz-nos pensar nesse momento em algumas indagações pertinentes: quem se apropriou de nossas riquezas? Quem ainda se apropria? Uma pequena parcela da sociedade que mantém o controle político e econômico do estado. Enquanto isso aumenta o contingente de pobres e dependentes da ação paternalista que humilha e degrada a condição humana.

Sair da condição de ser um dos estados que, proporcionalmente, mais recebe recursos federais dos programas sociais e que esse montante promove um impacto positivo na economia local é um desafio. Que, não se repita o erro de querer desenvolver ações que permitam essas famílias se auto sustentarem somente  após esse ato de tirar os pobres da extrema miséria. Concomitantemente, dever-se-ia promover a melhoria do quadro social via investimentos em serviços públicos, como saúde, educação, segurança, transportes, geração de emprego e renda, etc.

Parnaibanos atentos a explanação do plano
“Vozes da seca” uma composição de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, em 1947 já profetizavam: “Uma esmola a um homem que é são ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”. E, como continua atual! Queremos celebrar um Piauí que substitua o recebimento de elevadas somas em programas de transferência de renda por recursos federais a serem aplicados em políticas públicas que melhorem a qualidade de vida das pessoas efetivamente, através de obras estruturantes, melhoria dos sistemas de saúde e educação...

O Brasil é a 7ª economia do mundo, porém amarga a 129ª posição em infraestrutura, serviços de água e esgoto das cidades em padrões africanos, precaríssimos serviços de saúde e educação que revelam os contrates que se deseja chamar a atenção para o modelo de desenvolvimento que se quer para o Piauí. No ranking da educação da UNESCO o país está em 80º lugar de 127 países. Não adianta ter elevação do PIB se as desigualdades se ampliam, se a maioria da população não desfruta de uma vida digna...

As desigualdades sociais revelam que há um hiato enorme dos indicadores que servem para apontar a qualidade de vida no Brasil comparada com o Nordeste, maior se torna quando se compara entre o Nordeste e o Piauí. A raiz do problema é uma só: gestão ruim, com aplicações dos recursos públicos de forma equivocada e recheada de desvios da sua finalidade.

Reconhecer tudo isso já é um avanço, discuti-lo, mais ainda. É preciso que haja compromisso dos gestores públicos não só estaduais, mas e, principalmente, dos gestores municipais. Enquanto se fala em planejamento, estudos de viabilidade, zoneamento proposto pelo estado, os municípios sequer despertam para a necessidade de participação. Deveriam acompanhar a mesma balada.

Falar e pensar um Piauí 2050 sem envolver os municípios piauienses é um tiro no pé. Senhores prefeitos pensem também a “sua” cidade para 2050, que tal?

Concluo me valendo do pensamento do economista indiano e Prêmio Nobel da economia em 1998, Amartya Sen, “a vida empenhada no ganho é uma vida imposta, e evidentemente a riqueza não é o bem que buscamos, sendo ela apenas útil e no interesse de outra coisa”. Mas diz ainda o pensador grego que “ainda que valha a pena atingir esse fim para um homem apenas, é mais admirável e mais divino atingi-lo para uma nação ou para cidades-Estados”.

Por Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

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