6 de out. de 2013

Berço d'eu Menino de Diego Mendes Sousa


O POETA DIEGO MENDES SOUSA NASCEU NA PARNAÍBA, LITORAL DO PIAUÍ.
 

(Porto das Barcas)
 

(Pedra do Sal)
 
      Berço D’eu Menino
 
                  Para João Paulo dos Reis Velloso
                 (Eviterno representante da Parnaíba)
 
Hoje que sou galho
uma tremenda raiz 
puxa-me os pés
 
trilhas alagadas 
nas ventiladas areias
do berço d’eu menino
 
sou um rio no curso
onírico
andando na quentura
da tarde 
 
Espero as estrelas
marinheiras da noite
 
vindo
como um susto
apressado
 
no alento folheado
do meu coração
 

(Solar da Poeta)
--------
Sei que a hora é de implosão
Minh’ avó,
na noite da saudade
 
a cordilheira se desespera
é o drama do perder
na velocidade do tempo
 
        (que não irá retornar 
         na secular trama
         da árvore desgarrada
         como pássaro distante da ilha)
 
posto na imagem de teu sorriso
mais íntimo de minha lembrança
 
Sei que a vertigem tombou
meus olhos repletos de lágrimas
recolhendo o desejo do rever 
teu rosto
nos prados varridos
pela vida
(tão triste tão perdida)
 
sem elos
         que fazem
a comunhão do destino
 
Essa dor se completa infinita
como um colosso intraduzível
em seu eco 
sem identidade
 

(Guará do Delta do Parnaíba)
 
Agora que sou mar
um oceano naufragado
de águas salgadas
 
Penetro 
no chão
abismal 
do grito
da terra
 
no escuro 
fundo
da linguagem
de Deus
 
Ele!
  • que predestinou
o sofrer ardente
 
o passo contrário
dessas ilusões
inteiras
de âmago
invadido
 
 
o choro
cantante
 
e sempre
errante
 
Já que sou rio
vou ligeiro
atrás dos mistérios
magos
 
que me querem
alado
como um anjo
ausente
 

(Catedral da Parnaíba)

Mas a composição
do meu turbulento
sangue
evoca
o amor da Musa
na tempestade
dos raios 
afundando 
barcos 
carregados
de óleos 
escorregadios
 
Só eu sei
amar 
sem morrer
porque
Amar
é uma armadilha
certeira
nos frutos
carcomidos
da beleza
 
Minha poesia
         quer 
a permanência
no ar
solitário
desse céu
extremamente
azul
         da cidade
donde
venho
 
de dunas
peregrinas
e de guarás 
bravios
 

(Igaraçu - braço do Rio Parnaíba)
 
Nasci nos braços do Parnaíba
no negrume de uma rua
onde minha mãe
semeou
seu gemido
eterno
 
desde então
o sol contempla
meus apertados
olhos
no espetáculo
do mundo
angustiado
nas fugidias
pedras
da balada
sonora
de meu
choro
audível
ainda 
no instante
dessa
glória
fagulhada
de memória


(Estação Ferroviária da Parnaíba )
 
Aqui
a passagem
dos dias
é tufão
em silêncio
 
um corredor
de partida
para
a longa
aventura
dos segundos
inarredáveis
de um viajor
e seu pergaminho
de couro envelhecido
 

(Caranguejos do Delta do Parnaíba)
 
Os cajus são alianças
de carne e pecado
castanha de brancura
voraz 
na pele
do jardim descampado
da aurora

(Cajus da Parnaíba)

(Cajueiro de Humberto de Campos) 
 
Os caranguejos
saem para o mangue
em rotina suja
aos fantasmas
do mar


(Parnaíba é pincelada por Xananas)

Aos Poetas
luzem
a cor 
(vibrante das xananas)
e o ritmo
contínuo
de ir (para os lados
               da praia inominada)
 
Caju e caranguejo
almas de todo ser
        vivente 
que deseja
o mesmo porto
durante a voragem
do medo
debandado
das raízes
em evidência:
 
a morada dos caranguejos
escudos de pau
e casca
do tronco
deste sal
epifânico
e purificado
de nome
 
POEMA DE DIEGO MENDES SOUSA
 

(Vista panorâmica da Parnaíba)
 
Diego Mendes Sousa é autor de DIVAGAÇÕES (2006); METAFÍSICA DO ENCANTO (2008); 50 POEMAS ESCOLHIDOS PELO AUTOR (2010, EDIÇÕES GALO BRANCO); FOGO DE ALABASTRO (2011, COLEÇÃO MADRUGADA); CANDELABRO DE ÁLAMO (2012).


 
(Pedra do Sal, única praia da Parnaíba)

Fonte: Proparnaíba 

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