Pode parecer
somente uma questão semântica, mas não é. Porém, enxergar e ver guardam
diferenças essenciais e trazem uma tradução marcante na interpretação de um
contexto. Diferença há em olhar e enxergar, muitos olham, mas não enxergam. Ver
é conhecer ou perceber pela visão; olhar para; contemplar. Enxergar é perceber,
observar, entender. Como estamos vendo nossa cidade? Como a enxergamos?
Fiz esse
exercício ao participar na semana passada de um marcante evento promovido pelo
SEBRE, “I Salão de Turismo da Rota das Emoções” que reuniu aqui em Parnaíba
representantes dos 14 municípios deste importante circuito nacional que envolve
os destinos de Jericoacoara, Delta do Parnaíba e Lençóis Maranhenses.
Guardada a
importância do evento, tivemos os mesmos efeitos, defeitos e desfechos de
tantos outros bem planejados, mas que não trazem resultado prático naquilo que
se deseja intervir. Talvez pela pouca participação social. Discussões de tão
alta relevância deveriam ser mais trabalhadas a mobilização e a sensibilização
da sociedade para que frutificasse o hábito de contribuir na construção de
políticas públicas.
Vi uma palestra do prefeito de Parnaíba,
Florentino Neto, que discorreu a uma plateia diminuta (não foi só a dele,
vários momentos importantes com pouca presença) e tratou sobre o papel das
prefeituras piauienses no desenvolvimento regional da Rota das Emoções. Falou
de eficiência administrativa e fiscal, enaltecendo que o município de Parnaíba
está numa situação privilegiada, pois não há passivo trabalhista, contas
rigorosamente em dias, citou que faz processos licitatórios com transmissão em
tempo real o que assegura transparência absoluta dos certames.
Esses aspectos conferem à sua gestão
estar entre um dos poucos municípios brasileiros a ter condições de
investimentos. Bom, muito bom. Não parece é que esta realidade fiscal e
financeira se traduz em melhorias dos serviços públicos em nosso meio.
Parnaíba recebe mensalmente cerca de R$
19 milhões composto por receitas tributárias, patrimoniais, transferências
correntes de FPM, Saúde, FUNDEB, IPVA, ICMS, contribuições e outras receitas intra orçamentárias. Numa conta
rápida, passados 10 meses do atual governo soma-se algo em torno de R$ 190
milhões. E o que vemos e enxergamos de benefício à sociedade?
Estamos
vendo uma administração “zelosa e competente”, mas não se enxerga isso na
gestão. Ainda carecemos de transporte público de qualidade; comemos carne sem
inspeção sanitária; nossos jovens amargam a falta de uma política que os
identifique e valorize; praças e logradouros públicos sem cuidado; bairros periféricos sem serviços básicos de
saúde e educação de qualidade; dentre outras mazelas.
O município
está anunciando se habilitar para a gestão da política de meio ambiente, o que
vai lhe conferir a possibilidade de realizar os procedimentos de licenciamento
ambiental, aumentando ainda mais a receita própria. Parece ser este o
verdadeiro fim. Os requisitos necessários ainda não estão supridos, ou seja,
não temos um código ambiental, apesar do projeto tramitar há 3 anos na Câmara
Municipal; não dispomos de um Conselho Municipal de Meio Ambiente efetivo; não
temos um quadro técnico especializado e capacitado para tanto; não tem um fundo
constituído, assegurando-se recursos para a implementação das ações previstas
no próprio orçamento da pasta.
Vemos uma
coisa e enxergamos outra!!!
Um modelo que se vangloria dos feitos
apontados, mas que é incapaz de promover o bem-estar social. O que é prioridade
para este governo? A quem beneficiar efetivamente? Uma discussão que se perde
na falta de essência. Igual que a discussão sobre os massacres na Síria.
Enquanto se polemiza sobre o uso de armas químicas que provocou a morte de
cerca de 1.300 pessoas inocentes, não se discute que ao longo de toda essa
absurda guerra civil já tombaram mais de 100 mil sírios. O que é pior? Não se
trata de medir a forma de execução ou o medo das potências mundiais em
experimentar desta atrocidade, o que deve se buscar é a paz.
Logo, importante o município ter saúde
financeira, mas que cuide dos seus filhos!!!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor,
cidadão e contribuinte parnaibano.
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