Década
de 60, anos de chumbo, o país mergulha na mais triste página de sua história.
Com o golpe militar de 64 inicia-se o período de uma ditadura que reprimiu as
liberdades individuais, causou morte e dor a milhares de famílias brasileiras.
Prisões injustificadas, tortura, desaparecimento, exílio e morte marcaram este
período fúnebre.
Jovens
idealistas e conscientes foram protagonistas de uma história de luta e
resistência contra aquela política ditatorial do regime militar. Combateram a
repressão. Entre tantos ilustres brasileiros estavam lá Chico Buarque, Caetano
Veloso e Gilberto Gil. Lembro aqui destes ícones por que eles protagonizam hoje
um debate que vai no caminho inverso do defendido àquela época.
Ironicamente,
eles, além de outros artistas brasileiros engrossam a fileira dos que se
manifestam contra a lei que trata da publicação de biografias não autorizadas.
Para
entender: pela proposta o escritor pode publicar uma determinada biografia sem
a autorização expressa da pessoa. Eles defendem que seja obrigado submeter os
escritos à apreciação prévia do biografado para autorizar ou não a publicação.
Seria
censura exigir que o autor primeiro submetesse à apreciação da pessoa? É
preciso que haja um cuidado ao se publicar informações sobre o que quer que
seja, ou sobre quem quer que seja. Mas, quanto a esses abusos, temos um aparato
de leis trata de mecanismos que podem ser acessados caso alguém se sinta
difamado, caluniado, insultado, enfim, prejudicado de alguma forma.
Figuras
públicas terminam por pagar o preço da fama pelo assédio vivido e em muitos
casos perdem completamente a sua privacidade, isso é fato. Porém, não se devem
justificar quaisquer mecanismos que nos leve de volta a censura, em qualquer
medida. Isto é perigoso! Nada justifica a retirada da liberdade de expressão,
nem mesmo o fato de ter esta privacidade violada, nem tampouco o fato de se ter
no meio da imprensa profissionais anti-éticos e corruptos, nem todos são assim.
Logo, censurar, poder-se-ia prejudicar os bons profissionais e o registro de
fatos históricos importantes ao conhecimento da sociedade.
Na
ditadura militar tivemos uma forte censura, presos políticos, tortura e morte,
mas por outro lado foram desenvolvidos mecanismos de contraposição despertando
sentimentos de solidariedade, confiança, sonhos e utopias coletivas que
suplantaram o regime. Hoje, cicatrizadas muitas feridas e outras tantas ainda
abertas, convivemos com um regime de aprimoramento da democracia onde não se permite
retirar as conquistas já estabelecidas, a exemplo o direito à liberdade de
expressão.
Que
diálogo podemos travar pela historicidade dos fatos, aproximando esses dois
momentos (ditadura e democracia) vividos pelos mesmos atores sociais,
contradição? Chico, Gil e Caetano que lutaram contra a supressão dos direitos
individuais, agora defendem a censura?
Acredito
na defesa do direito à verdade dos fatos, isso sim merece uma discussão
responsável. Sabe-se que o homem/mulher público(a) pode sofrer achincalhe e outras
formas de situações de constrangimentos pautados na invencionice. Assim,
contrario-me também à futrica, à fofoca e ao voyeurismo desenfreado que assola certo tipo de mídia, altamente
rentável, especializada na exposição da intimidade, do espetáculo proporcionado
por fatos muitas vezes criados com o fito de vender a notícia, a
(des)informação.
Nihil humani a
me alienum puto (nada
do que é humano me é estranho)!!!
(*)
Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.
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