Há tempos se ouve falar das potencialidades do turismo no litoral do Piauí. Muitas tentativas no sentido de alavancar o setor foram tentadas ao longo dos anos, a maioria de iniciativa do poder público. Algumas vezes, os mais esperançosos tiveram um vislumbre de que o crescimento contínuo e sustentado da atividade era uma realidade, com fortes fluxos de visitantes e investimentos constantes. O tempo, porém, se encarregou de mostrar que o problema era bem mais complexo do que se imaginava.
Em 2007 o lucro estimado do setor de turismo brasileiro foi de R$ 184 bilhões, segundo a WTTC. No Brasil, turismo ainda é coisa de amador, conforme critérios do “Estudo da competitividade do turismo Brasileiro”, publicado pela UNICAMP em 2007. O país ainda está no quarto grau de competitividade.
Aqui no Piauí nos deparamos com uma grande incógnita. Poucos dados estão disponíveis acerca do turismo no Estado do Piauí. A Piauí Turismo – PIEMTUR, estatal responsável pelas políticas do setor no Estado, sofre do mal da falta de memória, havendo pouco ou nenhum registro das atividades turísticas desenvolvidas antes do ano de 2002. A biblioteca foi desativada e o acervo encontra-se espalhado por diversas secretarias de estado, inacessível, ou simplesmente desaparecido. O que se sabe é o que é de conhecimento público: que há dois grandes destinos turísticos no Estado, a Serra da Capivara e o litoral.
O litoral piauiense é o menor do Brasil, com somente 66 quilômetros de extensão. Compõe-se dos municípios de Parnaíba, Luís Correia, Cajueiro da Praia e Ilha Grande. As praias são de grande beleza cênica, predominantemente planas, de areia firme e águas mornas, temperatura de amena a quente, ventos constantes e mais de 300 dias de sol por ano.
Devido à falta de dados históricos, quase tudo que se sabe acerca do fluxo turístico da região se deve a testemunhos dos habitantes locais e dos próprios turistas, além das observações realizadas pela Polícia Militar do Piauí durante operações de apoio ao turismo. Como tais dados derivam de coletas destinadas a um fim específico, o planejamento de estratégias de segurança, elas não primam pela exatidão, estando então sujeitas a grandes margens de erro.
Em resumo, é realizada uma verificação visual de quantas pessoas por metro quadrado estão presentes num determinado local e multiplica-se pela metragem total. Eficiente para o fim a que a informação se destina, mas sem a precisão mínima necessária a investigações científicas. De qualquer forma, é a informação que está disponível. Dá conta de um fluxo médio de 60 a 100 mil visitantes nas épocas de alta temporada – Natal e Ano-Novo, Carnaval, Semana Santa e férias de julho, o que totaliza de 15 a 25 mil visitantes por dia. É evidente, porém, que a quantidade de turistas vem sofrendo uma queda acentuada na última década e meia.
O turismo no litoral teve seu auge em meados da década de 1990, durante a vigência do projeto do Governo do Estado através da PIEMTUR, “Piauí Amor de Verão”. Houve na ocasião um fluxo contínuo de investimentos na infraestrutura e na realização de eventos, com um grande esquema de divulgação em todo o Brasil.
Após essa era de ouro, constata-se claramente a tendência de declínio na última década e meia, com o fechamento ou a decadência de hotéis, resorts, clubes, restaurantes e bares. Há uma clara mudança do eixo turístico do Piauí para destinos vizinhos, como o Ceará, alvo de investimentos constantes e de enorme atratividade. Some-se a isto a mudança de geração dos visitantes. Segundo a Prefeitura de Luís Correia, cerca de 30% das residências localizadas nos bairros principais da cidade e 40% no distrito de Coqueiro da Praia são casas de veraneio pertencentes principalmente a famílias de Teresina.
Outro fator é a já tradicional deficiência de infraestrutura pública. Já é esperado que em toda temporada haja sobrecarga e eventual colapso no fornecimento de água, energia elétrica e combustível. Em algumas ocasiões até de alimentos básicos, como o pão. Enquanto países mais desenvolvidos e certas regiões do Brasil se dedicam a criar novos produtos turísticos, o litoral do Piauí ainda patina nos problemas mais básicos e elementares.
No que diz respeito à infraestrutura privada, a rede hoteleira das quatro cidades do litoral, que conta com cerca de 1.200 leitos, juntamente com as centenas de casas de veraneio, além dos restaurantes e bares, tem plena capacidade para abrigar um grande afluxo de visitantes. Por que então o turismo no litoral piauiense não de desenvolve em todo o seu potencial?
Um turismo sustentável no litoral piauiense não é uma utopia. Ela depende somente de articulação política, seriedade e perseverança dos agentes, e, principalmente, respeito à identidade cultural da região, ao acervo histórico e ao frágil equilibro das atrações naturais.
Por Trabulo Jr
Cidadeverde.com
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