30 de set. de 2013

O Piauí e a década perdida de 1970, parte I.

Há cerca de uma semana, mais ou menos, o secretário de Planejamento, Cezar Fortes e o vice-governador Antonio José de Moraes Sousa Filho promoveram aqui em Parnaíba um encontro sobre perspectivas de crescimento econômico e social, o “2050: O Piauí que a Gente Quer”, pra elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável, o PDES. Então eu recordo de em 2010 uma matéria muito interessante escrita pra revista Histórica, do IHGGP tratando sobre este tema.
Lamentavelmente esta edição não chegou a ser publicada por falta de recursos, mas agora eu faço questão de que todos leiam este artigo-matéria e daí possam fazer suas observações. Esta matéria foi feita dentro de uma pesquisa exaustiva em jornais da época. Muitos assuntos hoje tidos e havidos como de vanguarda pro desenvolvimento do Piauí já eram alardeados e dados como certos. Pra se vê que não mudou muita coisa desde então.  O artigo começa assim:
“Na década de 1970 o Piauí teve nas mãos todos os equipamentos técnicos e políticos pra se desenvolver e não o fez. Aliás, fez pouco ou quase nada. Esta falta de experiência e ambição ou as duas coisas juntas o deixaram mais uma vez num estágio atrasado dentro do Nordeste, bem diferente de seus vizinhos, o Ceará, Pernambuco e a Bahia, que souberam tirar proveitos do governo militar de 1964 e atualmente estão pelo menos a grandes passos no desenvolvimento.
Toda esta mudança ocorreria em 1975 quando deixou o governo do Piauí o engenheiro Alberto Silva e assumiu no seu lugar o médico Dirceu Mendes Arcoverde, da região de Picos, um político praticamente desconhecido na região norte, até então a mais desenvolvida economicamente. Naquele tempo a indicação do governador era indireta, quer dizer, uma indicação natural de quem estava no poder ou com afinidades com o Movimento de 31 de Março.
O Piauí teve dezenas e até centenas de oportunidades pra se desenvolver mais que suficientes, mais até que outros estados. Era ministro da Secretaria de Planejamento da Presidência da República o economista piauiense João Paulo dos Reis Veloso, natural de Parnaíba, e Alberto Silva fora indicado pelos coronéis cearenses pra governar o Piauí, baseados na sua capacidade empreendedora como engenheiro de uma empresa de energia elétrica, no final da década de 1960.
O novo governador, Dirceu Arcoverde, imprimiu vontade própria tão logo entrou no Palácio de Karnak. Praticamente queria apagar as marcas do padrinho político e antecessor e deixar as suas. E assim o fez. Mas política à parte, o Piauí iniciava um período delicado na sua fraca economia porque estava agora desafinado com a ideologia dos militares, sendo presidente o general Ernesto Geisel. Na prefeitura de Parnaíba estava o emedebista Elias Ximenes do Prado, que havia derrotado o candidato de Alberto Silva, o arenista e deputado estadual Francisco das Chagas Ribeiro Magalhães.
O ano mais turbulento daquela década foi o de 1976 quando se realizaram as eleições pra prefeito. E foi neste período que as oportunidades do Piauí e de Parnaíba começaram a desaparecer. Dentro do panorama econômico de investimentos o Piauí iniciava assistindo e atravessando um período de escassez. O porto de Amarração em Luiz Correia, um sonho de mais de um século dependia agora da liberação de Cr$330 milhões pra o início das obras.
A Companhia Brasileira Hidráulica havia vencido a concorrência e os recursos dependiam somente de Reis Veloso, piauiense e parnaibano. No setor industrial era anunciado que a Fosca Indústria e Comércio, empresa paulista, único fabricante de fosfato bicálcico no Brasil havia mostrado interesse de explorar as jazidas deste mineral existente no Piauí. Na indústria salineira, a ESNISA, Empresa Salineira e de Navegação Igoronhon, estabelecida em Tutóia, no Maranhão, anunciava a necessidade de contratar 600 homens pra trabalhos braçais.
A Associação Comercial de Parnaíba, dirigida pelo empresário Marc Jacob, defendia a construção do porto de Amarração como peça pra atender a expectativa que se abria com a descoberta de jazidas de fosfato em Castelo do Piauí e São João da Serra. A produção seria algo suficiente pra ocupar 165 navios por ano, segundo cálculos do secretário de Indústria e Comércio, Bernardino Viana. O Banco do Nordeste do Brasil autorizava crédito de Cr$ 43,8 milhões pra compra de 105 tratores, duas perfuratrizes e outros implementos pro setor primário em Piripiri, Parnaíba, Campo Maior, Floriano, Canto do Buriti, São João, Bom Jesus e Corrente.

Ainda naquele ano de 1976 era criada em Parnaíba a Cooperativa dos Produtores de Cera de Carnaúba do Norte do Piauí, com o objetivo de congregar e estimular a produção desta cultura extrativista. Enquanto isso em Tutóia, no Maranhão, era realizada pela Eletrobrás a primeira experiência brasileira em larga escala pro aproveitamento da energia solar e eólica. Estudos do BNB mostravam que o Piauí deveria criar nos anos seguintes 90 mil empregos com renda anual de Cr$ 3 bilhões. Na região norte estava sendo esperada a visita de executivos do Banco Econômico. Havia a perspectiva de se abrir uma agência deste banco em Buriti dos Lopes, município grande produtor de arroz. 

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