6 de set. de 2013

Independência depois da ressaca.

Quando a gente era estudante do curso primário, aprendeu que no dia 7 de setembro de 1822 o príncipe português dom Pedro, regente da colônia, estando em viagem de Santos, no litoral paulista, para o Rio de Janeiro, deu no caminho de cara com o carteiro do paço de São Cristóvão, que levava cartas de sua mulher, a princesa Leopoldina e de seu conselheiro, o babão José Bonifácio de Andrada e Silva recomendando, diante da situação, que se tomasse uma providência em relação ao futuro do Brasil.
Com o tempo e a gente saindo mais adiante e tomando conhecimento de outras histórias e geografias vai se dando conta de que a coisa foi bem diferente. E essa história do Brasil realmente é mesmo interessante e rica. E se a gente larga a juntar as peças aí é que a coisa fica boa de ouvir e discutir em roda de conversa.
Na Parnaíba, uma das mais importantes vilas da colônia no distante Piauí, havia um princípio de baderna e já se sentia cheiro de carniça na esquina da rua Caramuru com Pinheiro Machado. Alguns estudantes de colégios do centro da cidade e da avenida São Sebastião já marchavam em direção ao Mirante, onde ficava o campus da Universidade Federal.
Alguma coisa precisava ser feita e logo, porque corria risco de ter depredação do patrimônio, principalmente na praça da Graça e no Bar Carnaúba. Já havia tropa enfileirada inclusive nas imediações da rua Itaúna, pronta pra abrir fogo em caso de alguém mais afoito tentar invadir o gabinete do prefeito. O clima realmente era de muita apreensão.
Contam hoje os historiadores, esse pessoal da esquerda, os descontentes porque não pegaram uma boquinha no governo de Pedro I, que ele fez toda aquela encenação no meio do caminho, às margens do riacho do Ipiranga em São Paulo, com direito a sair na internet, numa foto belíssima tirada pelo blogueiro Pedro Américo, que depois de uma noitada e tanto na casa de uma tal de Domitila, que pelas fotos que a gente viu era bem gordinha e feinha de dar dó. Com tanta mulher bonita no Brasil, iguais essas da televisão e modelos, o príncipe achou graça justamente naquela.
O príncipe, que segundo seus biógrafos, era mais valente que siri dentro de uma lata ou Lampião quando se acordava de ressaca de tiquira feita ali no Magu, nem pestanejou: terminou o que estava fazendo, abotoou as calças, chamou seus puxa-sacos, asseclas, a tropa de choque, os peemedebistas e petistas da comitiva pra uma conversa ao pé da mangueira. Depois de ler as cartas e ouvir alguns deles, que de mão na boca ainda tentavam falar alguma coisa, o príncipe ainda com um bafo de onça disse que aquela situação era insustentável.
Mal se sustentando nas pernas, procurando os óculos de sol que havia comprado na praia de Ubatuba, ali onde o Clodovil tinha uma casa, chamou o carteiro e pagou uma descompostura daquelas ali no meio de todo mundo. Não é de hoje que a corda só quebra do lado do mais humilde funcionário público, aquele que cumpre fielmente seu dever. Os puxa-sacos do PMDB e do PT caíram na gargalhada vendo o chefe dar um cagaço no coitado do carteiro. Ele ficou ali roendo as unhas e assuntando toda aquela presepada. Pensava consigo: um dia eles me pagam.
No futuro, dizia consigo, vou atrasar a correspondência deles e fazer greve de não sei quantos dias só pra ver eles pagando multa da conta de luz, de água e do carnê do Paraíba!
Enquanto isso a rapaziada da comitiva ainda continuava rachando o bico na risada. Teve um que, devido ao sol forte chegou a providenciar um chapéu pro príncipe. Os historiadores também contam que este chapéu, feito pelo pessoal da Ilha de Santa Isabel, lá dos Tatus, foi comprado numa barraca do Piauí Sampa e seria levado de presente pra princesa Leopoldina, uma alemã que mal falava com o marido, quanto menos com a criadagem.
Passava o tempo todo vendo televisão, principalmente a Ana Maria Braga e a novela das oito, Amor à Vida. A coitada ficara no Rio de Janeiro agüentando aquele tal de José Bonifácio, com aquela conversa comprida de mineiro. Um saco, aquele velho. O chapéu era uma espécie de agrado, um mimo, pra ela passar um pano, esquecer as escapulidas dele lá pras bandas de Santos.
Depois de ler as cartas, rasgar algumas delas e cuspir longe, Pedro subiu no cavalo, ao que hoje se sabe emprestado de um assecla que tinha uma portaria gorda no Palácio de São Cristóvão, puxou a espada e procurou os óculos que estavam com outro assessor, o de número três. Feito todo esse rito, chamaram o blogueiro Pedro Américo e ordenaram que registrasse o grande momento. Agora estava realmente proclamada a independência do Brasil. O carteiro ainda procurou saber com o príncipe como era que ficava a questão da diária. Nem o príncipe nem ninguém da comitiva falou mais nada.
Lá no Piauí, mais longe que nem Timon, um tal de Simplício Dias da Silva e outros figurões, se meteu a proclamar a independência do Brasil. Ora vejam! Saiu na porta de casa e chamou a criadagem, as raparigas, os puxa-sacos e obrigou todo mundo a se ajoelhar nos caroços de milho. Até hoje eu me questiono como é que naquele tempo, com as comunicações geograficamente tão difíceis, pois não tinha telefone, nem e-mail, facebook, as chamadas redes sociais, e a notícia chegou à praça da Graça em pouco mais de um mês. Impressionante!
Pra vocês verem que a fama da praça da Graça como ponto de fofoca não é de hoje! Quem desobedeceu foi enterrado até a altura do pescoço e obrigado a assoviar o hino da Parnaíba inteirinho. Muita gente não agüentou e pediu penico. Muitos morreram e ali mesmo foram enterrados. Até hoje, acreditem, ainda tem formigueiro bem de frente da matriz.
E deu tempo pra um tal de Fidié subir de Oeiras, lá no Deus me livre, até aqui passando por cima de paus e pedras e ainda tendo dado uma parada em Campo Maior de onde levou uma pesada de carne de sol pra temperar o feijão de dona Maria. Só que não voltou pra casa. Dona Maria, a prendada mulher do português, até hoje espera a tal carne de sol. Mas lá em Campo Maior teve foi uma briga de cacete e de foice. Acabaram foi quebrando a cabeça dele. Fidié foi preso e ainda perdeu a carne e um liquidificador de segunda mão que havia comprado por vinte meréis lá na feira do troca-troca em Teresina.
Em Santos, voltando pro Rio de Janeiro a turma saiu cantando e comemorando pelo meio da campina o grande feito do príncipe português. Uma independência feita assim depois de uma farra de vinho e certamente muita mulher pelo meio onde certamente houve uma farta distribuição de cargos e exigências de salários, comissões e outras falcatruas não podia mesmo ter dado certo.
O Brasil está aí, verde e amarelo, tem futebol, estádio novinho em folha pra Copa do Mundo de 2014, carnaval, cheio de vícios políticos, molecagem de toda ordem, corrupção no meio da canela. Ninguém acredita mais nas instituições e na autoridade, porque a autoridade é a primeira a ser o mau exemplo, principalmente a classe política. Não dá pra acreditar numa independência dessas!

Pádua Marques
E jornalista e Escritor

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