Não foi difícil pra eu
descobrir outro dia o que motivou toda essa confusão entre o Brasil e os
Estados Unidos. Confusão que gerou inúmeros protestos pelo meio da rua, desde
Brasília até a avenida Pinheiro Machado, o centro financeiro de Parnaíba, mais
conhecida por Quinta Avenida e fez com que a presidente Dilma saísse daqui mal tendo trocado o pijama de bola e tomado o
café da manhã pra tomar satisfações com o presidente Barack Obama naquele
salão
cheio de espelhos em Moscou e
no meio de todo mundo. Dilma soltou os cachorros
no gringo.
Segundo se comenta ali
pela praça da Graça, ali mesmo pelo Bar Carnaúba, o americano tremeu nas bases
quando viu a brasileira se aproximando com as mãos nas cadeiras naquela
clássica posição de açucareiro. Deve ter ficado branco e com as mãos geladas
quando ela foi chegando e exigindo satisfações. A coisa só não ficou pior
porque ninguém entende esse tal de português que se fala no Brasil. Era só o
que faltava, os americanos bisbilhotando a correspondência da presidente e dos
principais executivos brasileiros sem ao menos terem idéia do que poderiam
encontrar. E tudo isso com a ajuda de um sujeitinho sem a menor graça, um tal
de Edward Snowder.
Antigamente os espiões
tinham, pelo menos no cinema, cara de mau e eram muito machos. Agora as coisas
são outras. Esse tal de Snowder, um analista de inteligência com aquela cara de
seminarista, mais branco que uma folha de papel e ao que parece, magrinho, o
tipo desses rapazinhos que passam a vida toda aos beijos e abraços com um
computador maquinando o que não presta, achou de revelar um grande esquema de
espionagem incluindo o Brasil. Ah, mas não prestou não! O magrelo, depois de
dar com a língua nos dentes, fugiu pra China.
Depois foi pra Rússia,
um país mais fechado que o cofre da prefeitura e lá passou a criar problemas.
Enquanto isso aqui embaixo o Brasil estava era sendo difamado, mais difamado do
que filha de pobre quando fica mãe solteira. Mas não foi por falta de aviso
não. Eu sempre achei que esse negócio de internet era coisa de americano pra
espionar o que nós brasileiros estávamos fazendo, de certo ou de errado. Onde
já se viu americano ficar sabendo tudo, assim sem a menor cerimônia, se o
sujeito saía de casa na sexta-feira a pretexto de ir à casa da mãe no Nova
Parnaíba e quando voltava pra casa, todo o bairro de Fátima estava sabendo era
de que estava na casa daquela?
Quem havia denunciado,
mostrado pela internet, assim ao vivo e a cores? Claro, os americanos. Era mais
que motivo pra presidente Dilma chamar o Barack Obama nas conversas. Chegou
assim no meio dos franceses, japoneses e russos e soltou o verbo. Não chamou ele
de americano. A coisa fedeu a chifre queimado, como se dizia no meu tempo. Foi
o que contaram na praça da Graça os altos analistas da ANVA, a temida Agência
Nacional de Analistas da Vida Alheia, representação de Parnaíba. Contaram com
riqueza de detalhes. Dizem que o presidente americano meteu o rabo entre as
pernas e saiu com a cara calçada de vergonha.
Eu tive o cuidado de
comprar uma lanterna dessas encontradas em lojas de artigos chineses ali no
Calçadão da Marechal Deodoro, dessas que custam até dois reais e saí fazendo
uma investigação por minha conta sobre o que poderia interessar tanto aos
americanos no Brasil e por extensão e na Parnaíba. Não tive muito trabalho. A
tarefa foi mais fácil do que enganar eleitor de quatro em quatro anos. Os
americanos querem é saber como é que um país como o Brasil agüenta ter tanto
roubo, enganação, corrupção, pouca vergonha, compra de voto, mulher pelada,
enriquecimento ilícito, tudo junto e misturado.
Os americanos até hoje
estão de mão no queixo, admirados com tamanha desenvoltura dos brasileiros,
principalmente de alguns políticos pra ações ditas desabonadoras. É uma Câmara
dos Deputados que livra da cassação um de seus membros condenado pela Justiça e
cumprindo pena em presídio. Mais adiante é um grupo de deputados do partido da
presidente Dilma, um ex-ministro do Lula, mancomunados com empresários em roubo
e desvio de verbas, escândalos envolvendo empreiteiras, multinacionais,
ex-governadores, prefeitos e por aí vai. A lista é longa e tentar nomear é pura
perda de tempo porque não tem diabo que dê jeito.
Aqui na Parnaíba a
coisa não é lá muito diferente. Escândalos e mais escândalos envolvendo
políticos, empresários, funcionários públicos, licitações, obras sem conclusão,
um mar sem fim de desmandos e torra de dinheiro pra dar em coisa nenhuma. E aí
ficam esses americanos procurando saber onde é a raiz de tanta pouca vergonha.
Como é que um país desse tamanho chega a ser tão importante lá fora ao ponto de
exportar jogador de futebol, construir estádios pra uma Copa do Mundo, que não
deve durar mais que vinte dias e esquecer milhões de brasileiros que não tem
neste momento uma gota de água no fundo do pote?
Como é que pode um país
desse tamanho e que tanta curiosidade causa lá fora, que não cuida de ter
hospitais, boas escolas, boas estradas, incentivos à iniciativa privada pra
abertura de postos de trabalho? Um país onde o governo massacra a classe
empresarial com uma carga excessiva de tributos, exigências e mais exigências,
onde falta moradia popular em algumas cidades e noutras o governo faz vistas
grossas pra gastar em uma quantidade incompatível utilizando o critério
político partidário e onde é mínima a presença da autoridade que garante a
segurança?
E aqui na Parnaíba,
essa Mississipi do Nordeste, “decadente e encantadora”, onde tudo falta, onde
tudo é de péssima qualidade, atendimento, comércio, serviços, rede hospitalar e
onde, só pra citar um exemplo, o terminal urbano fica embaixo de um pé de oiti
na praça de Santo Antonio e perto de uma caixa de picolé, realmente é um país
muito interessante pros americanos. Agora eu entendo porque a presidente Dilma
ficou enfezada com essa história de espionagem. Se os americanos conseguem o
acesso a esta fórmula mais secreta que a da Coca-Cola, a gente vai ficar pobre.
Mas eu tenho uma sugestão pra nossa vingança: a gente bem que pode colar um
chiclete no cabelo deles!
Pádua Marques
Jornalista e Escritor
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