Calculo que não existe
quem nunca tenha sido maltratado, tratado com deboche ou desprezo em repartição
pública quando necessitou de seus serviços. Porque se existe coisa pela qual
sinto mais raiva é a falta de compromisso de alguns funcionários públicos
quando em horário de expediente. Calculo que há de se contar nos dedos de uma única
mão alguém que tenha saído satisfeito pelo tratamento dispensado numa
repartição dessas, seja de prefeitura, estadual ou federal. A situação é
universal brasileira. Eu sou de opinião de que duas categorias não se combinam:
funcionário público e jornalista.
Causa admiração o
sujeito que fica correndo atrás de concurso público pra isso e aquilo e que
depois de aprovado, convocado a prestar seus serviços e recebendo certinho todo
santo mês seu salário, se dana a maltratar o seu patrão, justamente aquele que
vai necessitar por instantes de sua atenção. Admira ainda mais o sujeito que
sabe que serviço público, o próprio nome diz, é uma atividade de prestação de
serviços obrigatória por parte de governo ao cidadão que paga impostos. O
funcionário público ali atrás de um guichê ou de uma mesa de repartição é o
governo prestando seu serviço.
Agora é decepcionante
pra mim e pra milhares de pessoas que comungam esta opinião ver um sujeito
chegando todo dia ao seu local de trabalho deliberadamente fora do horário ou
atrasado, carregado de problemas domésticos e querer que o cidadão que está
necessitando às vezes de um pequeno esclarecimento, uma dúvida menor, uma
informação mais simples, ficar sendo jogado de um canto pra outro feito uma
bola de futebol enquanto o relapso fica a fazer coisas sem utilidade nenhuma e
o que é pior, sem nenhum constrangimento.
Conheço funcionário
público que atravessa a cidade religiosamente todo que é santo dia com uma
agendinha debaixo do braço, entra na repartição e ali fica todo o expediente
sem dar maiores explicações a que veio. Pergunte a ele onde está o chefe, se
ele ou outro funcionário pode dar explicações sobre este ou aquele documento, um
processo, como agir sobre aquela situação ou determinação legal. Ele
simplesmente vai dizer que não sabe, não tem autoridade e nem é de sua
competência, não ouviu falar, está esperando ser informado, somente o chefe
pode falar e por aí vai. Findo o expediente ele faz o percurso em sentido
contrário julgando que teve um dia estafante.
Irrita saber que um
sujeito desses prestou concurso público pra se dar bem na vida, ter uma
estabilidade de salário líquido e certo todo mês, férias, gratificações,
licenças pra isso e mais aquilo, créditos facilitados, enquanto o trabalhador
da iniciativa privada nem alcança metade desses direitos. Irrita saber que um
funcionário público desses muitas e muitas das vezes acha de levar pra
repartição onde fica o dia inteiro sem fazer coisa nenhuma, seus problemas
pessoais como se a clientela, que é a população, tivesse obrigação de ficar fazendo
parte desses problemas e agüentando seu mau humor.
E quantas e quantas
vezes certamente você que está lendo este artigo chegou numa repartição e
procurou atendimento e ao invés de encontrar um funcionário prestativo, rápido,
bem informado sobre aquele assunto e disposto a lhe ajudar, ao contrário,
encontra um que está é lendo revista, escarafunchando no facebook ou passeando
de mesa em mesa vendendo produtos da AVON e da HERMES. Já presenciei dentro de
uma repartição federal o funcionário desligar o telefone somente pra não ser
incomodado. E mais grave: indo trabalhar de ressaca. E pra esconder seu
lastimável estado ficou de óculos escuros o dia inteiro! Outra vez presenciei
funcionária, também de repartição pública federal, entrar na sala e em menos de
vinte minutos ir embora alegando estar doente.
Imagem ilustrativa |
Pior é aquele
funcionário público que sempre passa a impressão de estar realmente ocupado.
Mas se você prestar bem atenção o sujeito está apenas fazendo tipo. Finge que
está analisando processos, consulta a legislação nos manuais e na internet,
levanta e vai tomar um cafezinho e beber água, atende um colega mais à frente, liga
pra alguém pelo celular, enfim um ator de primeira. Mas não se iluda. Por trás
de toda aquela verdadeira máquina que nunca para dentro da repartição pode
estar um tremendo de um farsante. Desses que acha de sair durante o expediente
pra buscar filho em escola ou antecipar a sexta-feira no bar da esquina da
repartição.
E bonito pra nossa cara
que somos o patrão dele. Mas ele acha que não tem patrão porque tem um emprego
público que lhe dá estabilidade. E na maioria das vezes o chefe dele é o
primeiro a dar mau exemplo: nem pisa na repartição, entra e sai à hora que bem
entende, transforma a sala de trabalho numa extensão de sua casa com todos os
seus problemas e por aí vai. E um sujeito desses passa a vida toda reclamando
que não tem aumento de salário, que está cansado, estressado, que não vê a hora
de se aposentar ou tirar uma licença. No fim, quando consegue a tão sonhada
aposentadoria descobre que não fez nada de extraordinário. Mas passou seu tempo
de serviço todo dormindo.
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor
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