26 de ago. de 2013

Um homem dorme atrás da mesa.

Calculo que não existe quem nunca tenha sido maltratado, tratado com deboche ou desprezo em repartição pública quando necessitou de seus serviços. Porque se existe coisa pela qual sinto mais raiva é a falta de compromisso de alguns funcionários públicos quando em horário de expediente. Calculo que há de se contar nos dedos de uma única mão alguém que tenha saído satisfeito pelo tratamento dispensado numa repartição dessas, seja de prefeitura, estadual ou federal. A situação é universal brasileira. Eu sou de opinião de que duas categorias não se combinam: funcionário público e jornalista.
Causa admiração o sujeito que fica correndo atrás de concurso público pra isso e aquilo e que depois de aprovado, convocado a prestar seus serviços e recebendo certinho todo santo mês seu salário, se dana a maltratar o seu patrão, justamente aquele que vai necessitar por instantes de sua atenção. Admira ainda mais o sujeito que sabe que serviço público, o próprio nome diz, é uma atividade de prestação de serviços obrigatória por parte de governo ao cidadão que paga impostos. O funcionário público ali atrás de um guichê ou de uma mesa de repartição é o governo prestando seu serviço.
Agora é decepcionante pra mim e pra milhares de pessoas que comungam esta opinião ver um sujeito chegando todo dia ao seu local de trabalho deliberadamente fora do horário ou atrasado, carregado de problemas domésticos e querer que o cidadão que está necessitando às vezes de um pequeno esclarecimento, uma dúvida menor, uma informação mais simples, ficar sendo jogado de um canto pra outro feito uma bola de futebol enquanto o relapso fica a fazer coisas sem utilidade nenhuma e o que é pior, sem nenhum constrangimento.
Conheço funcionário público que atravessa a cidade religiosamente todo que é santo dia com uma agendinha debaixo do braço, entra na repartição e ali fica todo o expediente sem dar maiores explicações a que veio. Pergunte a ele onde está o chefe, se ele ou outro funcionário pode dar explicações sobre este ou aquele documento, um processo, como agir sobre aquela situação ou determinação legal. Ele simplesmente vai dizer que não sabe, não tem autoridade e nem é de sua competência, não ouviu falar, está esperando ser informado, somente o chefe pode falar e por aí vai. Findo o expediente ele faz o percurso em sentido contrário julgando que teve um dia estafante.
Irrita saber que um sujeito desses prestou concurso público pra se dar bem na vida, ter uma estabilidade de salário líquido e certo todo mês, férias, gratificações, licenças pra isso e mais aquilo, créditos facilitados, enquanto o trabalhador da iniciativa privada nem alcança metade desses direitos. Irrita saber que um funcionário público desses muitas e muitas das vezes acha de levar pra repartição onde fica o dia inteiro sem fazer coisa nenhuma, seus problemas pessoais como se a clientela, que é a população, tivesse obrigação de ficar fazendo parte desses problemas e agüentando seu mau humor.
E quantas e quantas vezes certamente você que está lendo este artigo chegou numa repartição e procurou atendimento e ao invés de encontrar um funcionário prestativo, rápido, bem informado sobre aquele assunto e disposto a lhe ajudar, ao contrário, encontra um que está é lendo revista, escarafunchando no facebook ou passeando de mesa em mesa vendendo produtos da AVON e da HERMES. Já presenciei dentro de uma repartição federal o funcionário desligar o telefone somente pra não ser incomodado. E mais grave: indo trabalhar de ressaca. E pra esconder seu lastimável estado ficou de óculos escuros o dia inteiro! Outra vez presenciei funcionária, também de repartição pública federal, entrar na sala e em menos de vinte minutos ir embora alegando estar doente.
Imagem ilustrativa

Pior é aquele funcionário público que sempre passa a impressão de estar realmente ocupado. Mas se você prestar bem atenção o sujeito está apenas fazendo tipo. Finge que está analisando processos, consulta a legislação nos manuais e na internet, levanta e vai tomar um cafezinho e beber água, atende um colega mais à frente, liga pra alguém pelo celular, enfim um ator de primeira. Mas não se iluda. Por trás de toda aquela verdadeira máquina que nunca para dentro da repartição pode estar um tremendo de um farsante. Desses que acha de sair durante o expediente pra buscar filho em escola ou antecipar a sexta-feira no bar da esquina da repartição.

E bonito pra nossa cara que somos o patrão dele. Mas ele acha que não tem patrão porque tem um emprego público que lhe dá estabilidade. E na maioria das vezes o chefe dele é o primeiro a dar mau exemplo: nem pisa na repartição, entra e sai à hora que bem entende, transforma a sala de trabalho numa extensão de sua casa com todos os seus problemas e por aí vai. E um sujeito desses passa a vida toda reclamando que não tem aumento de salário, que está cansado, estressado, que não vê a hora de se aposentar ou tirar uma licença. No fim, quando consegue a tão sonhada aposentadoria descobre que não fez nada de extraordinário. Mas passou seu tempo de serviço todo dormindo.  

Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor

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