5 de ago. de 2013

O cemitério dos elefantes brancos.

Jornalista Pádua Marques
Estava eu certa vez numa agência de viagens tratando de acertos sobre uma excursão pela América do Sul quando um cartaz me chamou a atenção. Era o anúncio de viagens para a África, mais propriamente ao Quênia, país, assim igual aos outros do continente, conhecido e reconhecido pela sua rica fauna. Eu bem que poderia ter matado minha curiosidade nos cartazes sobre a América do Sul. Mas o cartaz sobre a África, muito bem ilustrado, trazia fotos belíssimas de manadas de elefantes, girafas, crocodilos e leões descansando naquele tórrido calor das savanas, bem como costumamos ver nos filmes e documentários pela televisão.
Fiquei imaginando que, bem que no Brasil, mais precisamente no Nordeste, se poderiam criar empresas, agências de viagens e turismo para promover excursões pela enorme quantidade de obras do governo que estão inacabadas, foram abandonadas pela falta de vergonha e pela esperteza de empreiteiras, governadores e prefeitos e que acabaram com o sonho de centenas e até milhares de homens, mulheres e crianças, principalmente naquelas que prometiam levar a mesa farta, atendimento médico, água e escola para o sertanejo.
Eu nem vou encompridar conversa porque sei que todo mundo tem perto de si um exemplo dessas atitudes irresponsáveis de governantes, sejam prefeitos, governadores, superintendentes, deputados, senadores e presidentes da República. Basta falar de uma dessas obras para que todo mundo se lembre que tem uma na memória, longe ou perto de casa, numa data próxima ou remota de sua vida e que acabou não servindo para coisa nenhuma, exceto para encher a burra de alguns espertos.
O Piauí ao longo de várias décadas criou uma verdadeira savana onde jazem ou pastam centenas de elefantes brancos, espécie que a zoologia talvez até desconheça a origem, mas que aqui encontrou um habitat extraordinário para se desenvolver e procriar e que ao mesmo tempo chama a atenção pelo tamanho de alguns exemplares. Engraçado, o Piauí, que até outro dia era conhecido pelo Parque Nacional da Serra da Capivara, agora também pode ser conhecido e reconhecido internacionalmente como Parque Internacional dos Elefantes Brancos.
Logo o Piauí, este Piauí, também conhecido como único lugar do mundo onde tem calango, aquele réptil também conhecido por carambolo, parente distante do crocodilo e do jacaré e que na minha infância, aqui nesta Parnaíba, era alvo predileto de nossas caçadas de baladeira pelas matas ralas do Carpina. O Piauí tem ao longo do tempo uma manada e tanto de elefantes brancos, muitos até já enterrados pelas dunas, cobertos pelas urtigas e o mata pasto. E de tanto ver esses bichos extraordinários nem mesmo as crianças se admiram mais. E assim continua chegando até nossos dias e perto de nossas casas estes animais corpulentos e caros, obras e mais obras por acabar.
Elefante branco com nome de escola, elefante branco com nome de companhia prestadora de serviços, elefante branco com nome de empresa que ninguém sabe a finalidade, elefante branco com nome de aeroporto, de porto, de mercado de matadouro, de parque de exposições, vila olímpica, elefante branco com nome de ponte, de pista, de rodovia, de posto de saúde, elefante banco com nome de hospital para isso ou aquilo.

Um grande cemitério desses animais imensos e fantásticos e que segundo os estudiosos tem uma memória extraordinária em plena América do Sul, no Brasil, no Nordeste, no Piauí. E aí eu volto ao cartaz publicitário sobre o velho continente africano, o Quênia, tão distante de nós e tão difícil de chegar lá, com suas manadas de elefantes. Sinceramente, ainda não estamos no top de linha do turismo, de besta que somos!

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