14 de ago. de 2013

Nossa mãe Parnaíba faz 169 anos. Viúva e empobrecida.


Por:Antônio de Pádua Marques(*)
Todos nós homens temos duas mães. Aquela de carne e osso, a humana, a mulher, e a mãe que é a terra onde nascemos. Mas não vou falar da mulher agora. Deixo pra outra época. E mais eu que já perdi a minha faz alguns poucos anos. Vou falar de nossa velha e querida mãe Parnaíba, que faz esta semana mais um aniversário, 169 anos. E bem que esta velhice poderia ser mais alegre e sossegada. Mas a velha mãe de todos nós está viúva e empobrecida, com uns cacos de dentes na boca e que de tanto sofrimento e humilhações já faz um tempo que não se levanta da rede.
Parnaíba nasceu na beira de um rio e dona de fortuna. E assim como muitas mulheres de carne e osso, teve uma penca de filhos. E como toda mãe, viu muitos destes filhos saírem de casa pelo mundo em busca de boa sorte e fortuna enquanto outros, mais reservados e até tomados de medo, preferiram ficar segurando sua saia e ouvindo seus conselhos. Porque não existe maior fortaleza, abrigo maior e mais seguro do que a barra da saia de uma mãe. E muitos foram os filhos de Parnaíba, legítimos ou adotados que ficaram tentando de alguma forma crescer sem ter de abandonar a casa.
Mas como toda mãe de carne e osso, a mãe de terra Parnaíba também tem e teve filhos de toda índole. Tem e teve os filhos bons, os obedientes, mas teve os sonsos, outros ingratos, tantos e tantos desonestos, alguns esnobes, falsos, teve e tem os espertos e os oportunistas, os maluvidos, os buliçosos, os subservientes, os estudiosos, alguns mais caridosos, outros violentos e até aqueles que gostam de pegar no alheio. E a mãe ali, esperando todos eles voltarem pra casa, inocentes feito anjos de altar, tal e qual saíram um dia para procurar luz no mundo.
Porque a Parnaíba mãe nesses mais de 160 anos parece mais velha? Porque a mãe de terra Parnaíba, assim igual à mãe de carne e osso, está viúva, pobre e tantas e tantas vezes coberta de vergonha pelas peraltices e desordens de alguns de seus filhos, que ao invés de lhe trazerem sossego pra dentro de casa, trouxeram mesmo foi sofrimento. Sofrimento pelas besteiras que andaram fazendo e deixando fazer. Filhos que se juntando às más companhias lá fora acharam de praticar a gatunagem e vieram na calada da noite roubar a própria casa.
Porque se existe maior desgosto pra uma mãe de carne e osso deve ser o de admitir que um filho erra e traz vergonha pra dentro de sua casa. E olhe que são e foram muitos os filhos da “dona” Parnaíba que assim procederam. Porque foram muitos os filhos desta viúva empobrecida que se aventuraram em empreitadas duvidosas, Porque se existe maior contrariedade para uma mãe é de saber pela boca dos outros um malfeito de filho e não ter condições de contestar. E é isso o que acontece e aconteceu muito nesta Parnaíba de 169 anos.
Parnaíba chega ano que vem aos 170 anos. Para o que foi e de onde nasceu nada resta que lhe dê esperança. Pelo menos aqui pertinho de nosso tempo nada ou quase nada há de mudar. Porque em se tratando de uma cidade não se muda feição de um dia pra noite e nem da noite pro dia feito maquiagem em cara de artista. Mas ainda num futuro remoto, que certamente não estará mais ao meu alcance, outros homens verão e terão dias mais alegres, onde a fortuna alcance a todos. Uma Parnaíba cheia de oportunidades pra todos, sem a necessidade do império da injustiça e a maldita politicagem. E aí esta viúva que deve estar próxima do segundo centenário vai realmente poder sorrir e mostrar os dentes sem a necessidade de tapar a boca com a mão.

(*) Antônio de Pádua Marques é Jornalista e escritor
P.S:O artigo acima foi escrito especialmente para o Jornal "Tribuna do Litoral" (nas bancas nesta 4ª feira) que sairá amanhã em Edição Especial pelo Aniversário de Parnaíba(BS)

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