3 de ago. de 2013

Ex-catador de caranguejo de Ilha Grande que vai se formar em Turismo fala sobre sustentabilidade

Houve tempos difíceis em que o jovem Adilson Castro saia de casa todos os dias para se embrenhar no manguezal e praticar o ofício penoso de catar caranguejos em buracos na lama para melhorar um pouco o lucro, escasso lucro, que seus pais conseguiam com a venda do crustáceo para os atravessadores. Mas hoje ele só aparece nestas circunstâncias nas narrativas em forma de slides das palestras que apresenta quando é convidado a falar das muitas experiências acumuladas de 2006 para cá.
Experiências que mudaram a vida dele e já operam mudanças ainda pequenas, mas significativas, na vida de outros nativos da Ilha Grande, onde ele desenvolve atividades comunitárias e de empreendedorismo. Adilson mostrou que é possível romper a maldição determinista que acorrenta milhares de jovens brasileiros à sorte dos pais. Correu para os estudos, passou no vestibular e, hoje, está prestes a concluir o curso de Turismo na Universidade Federal do Piauí, campus de Parnaíba. Tem uma agência, a Ilha Turismo, especializada em passeios ecológicos, e participa de entidades como a associação Ilha Ecotur, entre outras iniciativas voltadas ao protagonismo de pessoas como as mesmas origens dele.
Adilson Castro é um dos participantes do curso de extensão universitária Comunicação e Turismo Sustentável, que acontece no Delta Park Hotel desde quinta-feira e encerra neste sábado. Numa das dinâmicas com grupos ele falou de como atitudes podem fazer a diferença na vida de quem nasceu num ambiente onde as oportunidades são escassas à vista da maioria, mas perceptíveis para olhos mais atentos de pessoas inconformadas. Falou mais ainda das experiências que incluem, mesmo paulatinamente, nativos da crescente cadeia de negócios turísticos na região através do treinamento destas pessoas para o trabalho de condutores de turistas pelos locais mais bonitos da maior ilha do Delta do Parnaíba, onde moram.
Além dos resultados sociais, Adilson disse que o principal avanço tem sido na direção da sustentabilidade, uma vez que passam a ter uma melhor consciência ambiental. Há exemplos de pessoas que antes devastavam a mata do delta para reduzir a carvão e que hoje ganham até mais, trabalhando como condutor, uma ocupação inferior à de guia turístico, mas compensável pela experiência prática. Mas Adilson reclama que os condutores, mesmo treinados, encontram dificuldades para serem absorvido pelas agências de turismo locais. Ainda falta, segundo ele, a conscientização sobre o assunto.
Nas ações de qualificação da mão de obra turística dos nativos e de apoio às atividades profissionais e empresariais que empreende, Adilson disse que vem contando com o apoio permanente do Sebrae e, em algumas ocasiões, de entidades como a Aliança Mandu. Do poder público, ele reclama. “Já apresentamos alguns projetos, mas não conseguimos apoio”, diz. Ele concorda que existe um  desinteresse dos moradores de Parnaíba pelo que existe além da Ponte Simplício Dias. Outra assertiva que ele diz estar de acordo  é a de que os parnaibanos não valorizam, suficientemente, as manifestações locais e nem tem o sentimento de pertencimento em relação às riquezas que estão dentro da Ilha Grande de Santa Isabel.  Mas faz um balanço positivo e encorajador para continuar com as iniciativas que prometem dias melhores para os moradores de Ilha Grande de Santa Isabel.
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F. Carvalho, do www.a24horas.com
acesse24horas@gmail.com

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