Sociologo Fernando Gomes |
Os protestos que ganharam as ruas em nosso país e ainda ecoam como um
grito contra um desgoverno em vários níveis da esfera federal, estadual e
municipal, excetuando-se raríssimos(as) representantes, coloca o poder público
na guilhotina. A sociedade não suporta mais tanta incompetência aliada a uma
corrupção desenfreada. No que pese o fato de vivermos uma democracia, onde
escolhemos nossos representantes, pergunta-se: se o governo é ruim de quem é a
culpa?
Vivemos um momento importante para a consolidação da democracia
brasileira. Tenho dito que esta não se deseja apenas para discursos de que aqui
temos a liberdade de escolher nossa representação política, de forma “livre” e
direta.
Precisamos participar mais, além de votar. A possibilidade de
participação da sociedade nos processos de decisão através da exigência de
transparência, moralidade e justiça poderá garantir o prosseguimento de ações e
políticas públicas mais eficazes, uma vez que poderá sujeitar o governo ao alto
custo político da decisão de interrompê-las. Por isso, é necessário mais
participação popular e que esta resulte em pressão para que haja mais vontade
política, pautada nos anseios populares.
Entendendo-se por “participação popular” a luta ou a exigência de uma
coletividade para transformar ou alterar o rumo de um determinado processo
social, econômico, tecnológico ou científico, através da vontade social, por “vontade
política” entenda-se o desejo de uma determinada autoridade político-administrativa
de promover as alterações de rumo do mesmo processo.
Assim esse conjunto de atitudes, trabalhos e preocupações deve ter como
objetivo fazer com que a participação da sociedade se torne vontade política
para operar as transformações necessárias não apenas à sua sobrevivência, mas à
melhoria na qualidade de vida. Muito se fala, e sempre de maneira crítica,
sobre a vontade política de quem está no governo, esquecendo-se igualmente de
que esta é fruto da vontade social.
Ora, somos nós, eleitores, que votamos naqueles que hoje nos
representam. É bem verdade que uma parte da sociedade, marginalizada pelo
sistema vil que não lhe permite ter as condições mínimas de dignidade humana,
termina por se submeter às práticas de corrupção ativa e passiva em período
eleitoral. Esforços já foram empreendidos pela Justiça Eleitoral no sentido de
coibir tais crimes, como exemplo a Lei Nº 9.840, porém ainda insuficientes
diante à “modernidade” das estratégias de compra do voto.
Precisamos entender que nós eleitores somos também vistos pelo poder público
como contribuintes, muito pouco como cidadãos. Exigir o devido respeito pelo
protagonismo e na verdade como o grande patrocinador da máquina estatal que
somos, cabe-nos exigir que aqueles que são “escolhidos” cuidem corretamente dos
nossos recursos. E, que eles possam atuar de forma em favor do público, em
especial aqueles mais desprotegidos, é o grande desafio.
E para que se compreenda todo o campo de abrangência dos processos de
decisão, faz-se necessário reconhecer os papéis, nosso e dos agentes, e a
composição das forças dentro do processo global, sem o que torna-se
praticamente impossível a mudança desejável. No atual modelo de acomodação da
sociedade (espera-se esteja no fim) estaremos a reproduzir as mazelas que estão
sendo expostas e reclamadas por todos os cantos deste país. É preciso mudar,
não queremos mais assim, como se tem visto historicamente neste País, o
estabelecimento de muitas políticas públicas descontinuadas e descomprometidas
com o futuro da nossa sociedade.
Parece complicado, mas não é. Nós temos o poder. Nem nos damos conta que
temos. Quem nos representa está, muitas vezes, cuidando de interesses pessoais
e de pequenos grupos. A hora de acordar chegou!
Por Fernando Gomes (*)
(*)
Fernando Gomes, sociólogo, cidadão, eleitor e contribuinte parnaibano.
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