A imagem do Piauí

Finalmente podemos dizer que, pelo menos temporariamente, o Estado do Piauí adquiriu visibilidade nacional. Já era esperado que o caso Fernanda Lages ganhasse repercussão País afora. Não somente pela forma brutal como se deu sua morte, nem tampouco por ter ocorrido num prédio público federal, mas pelo insucesso de linhas investigativas divergentes; informações inconsistentes e desencontradas; troca de acusações entre autoridades. Situações que, em minha opinião, contribuíram para o conseqüente desfecho inconcluso da investigação oficial.

Haveria uma espécie de “briga de vaidades” entre Polícia Judiciária e Ministério Público? O fato é que se deixou transparecer um verdadeiro salseiro, que se volatizou nas diferentes mídias sociais. Chafurdo este, protagonizado por atores sociais públicos que deveriam tratar com mais celeridade, fatos, até então misteriosos, envolto à morte dessa moça. Até o presente momento não se fisgou “peixinho” ou “peixões”; nem tampouco foi responsabilizado criminalmente “figurinha” ou “figurões” da sociedade. As únicas certezas que temos: uma família dilacerada e uma sociedade estarrecida.

Mas, a recente notoriedade do território piauiense não se resume ao caso Fernanda Lages. Não nos esqueçamos da mulher que fora eletrocutada numa movimentada avenida da zona leste de Teresina; dos casos de corrupção envolvendo políticos de 51 municípios; da batalha campal travada entre manifestantes e policiais, por conta da majoração das tarifas de transporte público da capital; do tragicômico furto de armas a uma delegacia do Município de Luis Correia; das incertezas sobre o futuro da ZPE e do Aeroporto Internacional de Parnaíba etc.

E agora, o mais recente dos acontecimentos: o incêndio ao prédio que abriga o Centro Administrativo Estadual. Esta é mais uma resposta que a sociedade exigirá.

Celeumas, frenesis, corrupção, incêndio, declarações incendiárias, mistérios, jogo de empurra etc. Este é o “calor” que nos últimos tempos emana desta sociedade. Não o calor típico da dinâmica climática nordestina, e sim o calor das emoções; de irracionalidades; de decisões e atitudes impensadas.

Em mais um ano para se celebrar o do Dia do Piauí, desejávamos que esta bela terra estivesse comemorando sua notoriedade nacional e ou até internacional, evidenciando única e exclusivamente suas belezas naturais, sua arte e seus artistas, seu povo trabalhador e acolhedor; sua gastronomia e tantas outras maravilhas.

Numa visão mais otimista e positivista, acredito que esta “fumaça negra” que na atual conjuntura encobre o Piauí, seja passageira. Que as belas e coloridas paisagens, que a esperança de progresso social, político e econômico voltem a fazer parte da rotina deste magnífico recorte territorial do Brasil.

Antônio P. de Araújo – Professor de geografia