Josenilton Lacerda - Eng Agronomo e Irrigante do Ditalpi |
Em Dezembro de 1998 foi entregue parte da primeira etapa do Perímetro Irrigado Tabuleiros Litorâneos com cerca de 600 hectares (lotes de pequenos produtores e técnicos) e em 2002 os demais 1800 hectares contemplando os lotes empresariais.
A 300 km de Parnaíba, em Setembro de 2001 o então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso pousava de helicóptero no município de Marco-CE para inaugurar o Perímetro Irrigado do Baixo Acaraú com toda “pompa e circunstância” que esse tipo de evento merece. Pois bem. Atualmente aquele perímetro público de irrigação, mesmo com a conhecida limitação de água do Ceará, já conta com cerca de 3.200 hectares de fruticultura irrigada, mesmo tendo sido entregue três anos depois, enquanto aqui nos Tabuleiros Litorâneos, mal conseguimos passar de 600 hectares cultivados. Alguns detalhes intrigam um reles mortal como eu.
Em 2004, de forma pioneira e inovadora, um grupo de irrigantes fechou contrato com a empresa americana Nutrilite Amway do Brasil, sediada em Ubajara-CE para cultivo e fornecimento de 50 ha acerola orgânica com certificado internacional. Naquele ano fomos o segundo perímetro irrigado dos 36 do DNOCS a conseguir a titulação dos lotes. Hoje já são 230 hectares com acerola, 500 postos de trabalho diretos gerados. Ano passado a empresa expandiu 450 hectares em vários locais do Nordeste. Só uns vinte para Parnaíba. Motivo: falta de capacidade financeira dos produtores dos Tabuleiros Litorâneos para expansão. Só em 2009 é que o Baixo Acaraú plantava seus primeiros pés de acerola orgânica. Daqui a mais um ano terá a mesma área do Tabuleiros Litorâneos com a fruta. Mas o abacaxi, a laranja, o mamão, o melão, só para citar algumas culturas já diversificavam a base de produção daquele perímetro e não oferecem a mesma garantia que temos aqui, pois lançam seus produtos a oscilação de preços e as incertezas de mercado nacional e internacional, risco que não temos com a nossa principal cultura.
Então o que separa o DITALPI do DIBAU, além dos 300 km de distância? Alguns detalhes. Apesar da reconhecida capacidade empreendedora dos irrigantes e empresas hoje instaladas nos Tabuleiros Litorâneos, o Estado, no sentido mais amplo da palavra, continua com uma tímida presença. O acesso ao crédito bancário por essas bandas é tão difícil que desanima qualquer empreendedor acostumado com a questão e espanta de vez qualquer neófito. No baixo Acaraú o Banco do Nordeste, por exemplo, já aportou de 2001 a 2011 algo em torno de 58 milhões de reais em financiamentos para irrigantes empresariais, técnicos e pequenos produtores. Ou seja, R$ 18.125,00 por hectare cultivado, um valor bastante razoável para a fruticultura irrigada.
No Tabuleiros Litorâneos, com regularização fundiária plena, com predominância de fruticultura orgânica com contrato (uma raridade nesse meio), parceria com diversas instituições públicas e privadas, esse valor chega na casa de 1,5 milhões, ou seja, R$ 2.500,00 por cada hectare cultivado. As regras são as mesmas, o banco é o mesmo, as culturas são as mesmas, os solos são os mesmos, as chuvas são as mesmas, a velocidade dos ventos é a mesma, a altitude é a mesma. Como pode o dinheiro, mola propulsora de qualquer processo de crescimento econômico, ser utilizado no Ceará e no Piauí ficar estocado pela mesma instituição? Estamos satisfeito com nossos indicadores sociais e econômicos? Estamos vivendo o pleno emprego?
Boa parte dos empreendedores dos Tabuleiros Litorâneos tem que se virar nos agiotas para tocarem suas plantações, ao mesmo modo dos produtores de café do século XVIII, a juros exorbitantes e comprometendo a viabilidade do negócio e fazendo com que nossos vizinhos cearenses ocupem o espaço que estamos deixando vazio. É preciso que, de forma rápida, se remova as “forças ocultas” que impedem igualdade de condições e ações no acesso ao crédito. Temos numa direção do Banco do Nordeste um legítimo parnaibano, o Dr. Luis Carlos Ewerton, comprometido, desejoso de mudança, há . importante esforço de agentes locais, mas as coisas não andam. Os números falam por si e demonstram que há muito mais coisas que nos separam que esses 300 km.
Josenilto Lacerda Vasconcelos
Eng. Agrônomo, Irrigante nos Tabuleiros Litorâneos
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