Estive a um mês em Berlim, onde
nazismo e Guerra Fria são assuntos inescapáveis. Aonde quer que se vá, nunca se
perde a sensação de que a cidade está buscando uma forma de reparar seu nome
ante o mundo, depois de ter sido cérebro de uma máquina de extermínio e sede do
muro que separou amigos e famílias.
A culpa, palavra a que tantos
atribuem malefícios, pode ser uma força que molda a sociedade. Basta ver que a
população colabora nas "desculpas", sendo mais calorosa com turistas
do que a maioria das capitais européias. Berlim tem memoriais aos homossexuais
mortos pelo nazismo, um Museu Judaico com assombrosos corredores sobre exílio e
holocausto, museu da Alemanha Oriental e, mais recentemente, há uma mega-exposição
no Museu Histórico Alemão que pergunta como Hitler fez o que fez.
Mas a manifestação que mais me
tocou foram as Pedras de Tropeço: pequenas placas de latão fixadas nas calçadas
diante das residências de qualquer pessoa que tenha sido perseguida pelo
nazismo. Criadas pelo artista Gunther Demnig, elas lembram o nome da pessoa, as
datas de nascimento, deportação e morte.
Berlim não se nega a lembrar o
passado de violência e faz de cada vítima um mártir, uma pessoa que pode ter um
nome igual a seu, em vez de um dado estatístico às vezes duvidoso. São 20 mil
placas, em vários países da Europa.
Fiquei pensando quantas placas as calçadas do Rio teriam se fosse
lembrada cada vítima de bala perdida, arbitrariedade policial, enfim, desse
diálogo entre a violência social e contraviolência de Estado peculiar. De 2002
a 2005, foram 26 mil homicídios na cidade. Até você, leitor, poderia situar uma
placa perto de si.
Imagine se o Rio tivesse um Museu da Violência,
acessível, vistoso, ousado na arquitetura. Uma memória viva de crimes
emblemáticos, personagens históricos do tráfico, vítimas simbólicas e a
evolução não só do armamento do tráfico como também das políticas de confronto.
Imagens do ônibus 174, fotos de João Hélio e João Roberto, pedaços de
helicóptero derrubado e até "Faça um tour no Caveirão".
De mau gosto? Pode ser. Em
Berlim, uma exposição sobre Hitler já levanta questões contraditórias.
"Para que se lembrar disso?" É uma das mais frequentes. Bom,
exercitar a memória não leva todos às mesmas conclusões. Ruim é ignorá-la, ou
achar que museus têm sempre que ser espaço dedicado somente ao lado bom.
Autor do
texto: Márvio dos anjos – Editor do destak Rio
Acessado
por: Antônio Pereira de Araújo em 30 de março de 2011.
Com adaptações.
"Aqueles que não se lembram do passado estão condenados a repeti-lo." (George Santayana).
ResponderExcluirEm tempos antigos, governantes benevolentes tiveram a coragem de “proclamar seus próprios erros” e humildes ministros tiveram bravura suficiente para “carregar toda a culpa em seus ombros”. Grandes imperadores e sábios também se alegraram em aprender com seus erros – a capacidade de admitir os próprios enganos é uma virtude.
Hoje em dia, em nossa sociedade, muitas pessoas, especialmente os jovens, têm em comum um grande defeito: recusam-se a aprender com suas falhas ou a admitir seus erros. Por mais que os outros gentilmente os aconselhem, apenas justificam sua posição ou tentam, deliberadamente, encobrir seus erros, sem jamais admiti-los. Como poderão alcançar qualquer realização e progredir, se sempre se esquivam da culpa e se recusam a receber conselhos?