13 de fev. de 2011

Desprestígio à docência


Neste início de século XXI o espaço geográfico mundial segue remodelando-se. Prevalece à supervalorização do “capital intelectual”. Num período articulado pelo meio técnico-científico-informacional, em que as manifestações do saberes estão em voga, sem sombra de dúvida, a representatividade docente, da pré-escola ao ensino superior, deve ser prestigiada e aclamada de forma incontestável.
Como assíduo internauta visitante de portais e blogs jornalísticos, destaco o relevante papel dos meios de comunicação do Piauí –, ativos militantes da causa educacional no Estado. Em outra ocasião tive a oportunidade de mencionar neste espaço democrático de opinião a importância da mídia como aliada na luta por justiça social e cidadania.
Sem apelar para o discurso ufanista, creio que enaltecer a figura do incansável professor é ato de responsabilidade social e de reconhecimento público ao grande protagonista de significativas transformações humanas. Sem os mestres não será possível levar adiante o projeto de construção de um mundo nobre e solidário E o magistério no Brasil não pode continuar sendo desprestigiado e relegado a patamares inferiores. Não se pode comparar o professor a uma porção de sal – útil e barato. No meu entendimento, a atividade docente merece lugar de destaque entre o seleto grupo de notáveis profissões existente em nosso país.
Tenho acompanhado a disputa fenomenal em concursos Brasil afora. Cidadãos de todas as idades e níveis de conhecimento, que almejam ingressar no serviço público sejam nas áreas federal, estadual ou municipal. E o interesse pela carreira docente é cada vez menor. Certamente a questão salarial é fator preponderante que não se restringe a uma ou outra região brasileira. Em praticamente todas as unidades da federação o professor de escola pública é mal pago e pouco valorizado. Acredito que se a situação não mudar, os cursos de licenciatura no país estarão com os dias contados ou, pelo menos, o graduado em educação migrará maciçamente para diferentes campos de atuação.
Em relação aos concursos públicos, para efeito de comparação entre carreiras profissionais, acompanhei no ano de 2009 dois certames realizados no Piauí, um do Governo do Estado, destinado à carreira de delegado de polícia civil e outro, do Município de Teresina, para o cargo de professor. É impressionante! Os valores descritos nos respectivos editais da época apontavam uma diferença salarial entre as duas categorias, de aproximadamente dez vezes, comparando-se as remunerações iniciais de delegado – R$ 7,1mil e a de professor municipal – R$ 743,42. Quais são as justificativas, se é que elas existem, pra explicar tamanho contraste salarial entre educadores e profissionais de segurança?
Hoje, governos investem maciçamente em (re)aparelhamento das polícias; na construção de presídios; em especialização e treinamento policiais etc. Algo, sem dúvida, relevante para a integridade territorial e promoção da justiça. Lembremo-nos também dos elevados custos para se manter um presidiário, que depende de remédio, alimentação, alojamento etc. Um ser humano que deveria ter vida dura nos presídios –, sujeitar-se a uma rotina diária de trabalho no sentido de gerar recursos para sua própria subsistência. Em contrapartida, aplicam-se recursos insuficientes na educação pública brasileira. De norte a sul do país existem escolas precárias; docentes pouco qualificados; salários e planos de carreira que não correspondem com as expectativas profissionais etc. É preciso aumentar consideravelmente os percentuais aplicados na educação, oriundos do PIB – Produto Interno Bruto.
Esta é uma pequena amostra da realidade de um país que pouco se importa com a educação de seu povo. Fomos duramente criticados no Fórum Econômico Mundial-2009, oportunidade em que foi divulgado relatório de competitividade das nações e desempenho educacional. Figuramos mal no cenário internacional quando o quesito é qualidade de ensino.


Antônio Pereira de Araújo
Professor de Geografia – Brasília-DF

Um comentário:

  1. Aproveitando a deixa, gostaria de registrar minha indignação.

    Esse ano, no Estado, alguns professores estão aceitando turmas de outras disciplinas para fechar sua carga horária, por exemplo, aceitam turmas de filosofia e arte para fechar a carga horária e/ou permanecer no mesmo colégio. Acontece que tanto os profissionais dessas áreas, como os professores substitutos dessas disciplinas são seriamente afetados. Gostaria de saber por qual motivo, professores de outras disciplinas podem assumir uma turma de arte e pedagogos especialistas em arte não podem. Já que no próprio curso de Pedagogia-Magistério paga-se uma disciplina chamada "artes em educação".
    A formação do cidadão não é feita somente pelo aprendizado de disciplinas base, como português e matemática. Para ser bem breve, enquanto a filosofia desperta o senso crítico, a busca de conhecimento; a arte também tem sua contribuição, vai além da pintura e do "desenho livre", a arte é importante para conhecemos nossa própria história, pois mesmo antes da linguagem a arte já existia.

    Se a religião é o ópio do povo, a ignorância é uma benção: quanto menos se sabe, menos haverá contestação. Deve ser por isso que essas disciplinas que induzem a instigação são tão desvalorizadas e exercidas por professores sem habilitação.
    Talvez seja mais cômodo para demagogos e corruptos.

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