19 de dez. de 2010

Pregador do Papa fala sobre a união matrimonial

II Domingo do Tempo Comum

Isaías 62, 1-5; I Coríntios 12, 4-11; João 2, 1-11
No Evangelho do 2º Domingo do Tempo Ordinário é o episódio das bodas de Caná. Que quer dizer-nos Jesus aceitando participar de uma festa nupcial? Sobretudo, desta maneira honrou, de fato, as bodas entre o homem e a mulher, realçando, implicitamente, que é algo belo, desejado pelo Criador e por Ele abençoado. Porém, quis ensinar-nos também outra coisa. Com sua vinda, se realizava no mundo esse desposar místico entre Deus e a humanidade, prometida através dos profetas, sob o nome de "nova e eterna aliança".
Em Caná, símbolo e realidade se encontram: as bodas humanas de dois jovens são a ocasião para falarmos de outro desposório, aquele entre Cristo e a Igreja que se cumprirá em "sua hora", na cruz. Se desejamos descobrir como deveriam ser, segundo a Bíblia, as relações entre o homem e a mulher no matrimônio, devemos olhar como são entre Cristo e a Igreja. Busquemos fazê-lo, segundo o pensamento de São Paulo sobre o tema, como está expresso em Efésios 5, 25-33. Na origem e centro de todo matrimônio, seguindo esta perspectiva, deve estar o amor: "Maridos, amai as vossas mulheres como Cristo amou a Igreja e se entregou a si mesmo por ela".
Esta afirmação - que o matrimônio se funda no amor - parece hoje dar-se por esquecido. Nas transformações somente de até pouco mais de um século, se chegou ao reconhecimento dele, e todavia, não em todas as partes. Durante séculos e milênios, o matrimônio era uma transação entre famílias, um modo de preservar a conservação do patrimônio ou a mão de obra para o tragalho dos chefes, ou uma obrigação social. Os pais e as famílias eram os protagonistas, não os esposos, os quais freqüentemente se conheciam somente no dia das bodas.
Jesus, segue dizendo Paulo no texto dos Efésios, se entregou "a fim de apresentar-se a si mesmo sua Igreja resplandecente, sem que tenha mancha nem ruga, nem coisa parecida". É possível, para um marido humano, imitar também neste aspecto, ao esposo Cristo? Pode tirar as rugas de sua própria esposa? Claro que pode! Há rugas produzidas pelo desamor, por ter sido deixados em solidão.
Quem se sente ainda importante para o cônjuge não tem rugas, ou se as têm, são rugas distintas, que acrescentam, e não diminuem a beleza. E as esposas, quem pode aprender de seu modelo, que é a Igreja? A Igreja se embeleza unicamente para seu esposo, não para agradar a outros. Está orgulhosa e é entusiasta de seu esposo Cristo e não se cansa de render-lhe louvores.
Traduzido ao plano humano, isto recorda as noivas e as esposas que sua estima e admiração é algo importantíssimo para o noivo e o esposo. Às vezes, para eles, é o que mais conta no mundo. Seria grave que lhes falta receber jamais uma palavra de apreço por seu trabalho, por sua capacidade organizativa, por seu valor, pela dedicação à família; pelo que disse, se for um homem político; pelo que escreve, se for um escritor; pelo que crê, se for um artista.
O amor se alimenta de estima e morre sem ela. Porém, existe uma coisa que o modelo divino recorda, sobretudo aos esposos: a fidelidade. Deus é fiel, sempre, apesar de tudo. Hoje, o que se refere à fidelidade se tem convertido em um discurso escabroso que já ninguém se atreve a fazer. Sem embargo, o fator principal do desmembrar de muitos matrimônios está precisamente aqui, na infidelidade. Há quem não negue, dizendo que o adultério é o efeito, não a causa, das crises matrimoniais. Acontece a traição, em outras palavras, porque não existe já nada com o próprio cônjuge.
Às vezes isto será considerado certo; porém muito freqüentemente trata-se de um círculo vicioso. Trai-se porque o matrimônio está morto, porém o matrimônio está morto precisamente porque se começou a trair, talvez em um primeiro tempo, somente com o coração. O mais odioso é que muitas vezes é que, aquele que trai, faz recair no outro a culpa de tudo e se faz a vitima. Porém, voltamos ao episódio do Evangelho, porque contém uma esperança para todos os matrimônios humanos, até os menores. Sucede, em todo matrimônio, o que ocorreu nas bodas de Cana.
Começa no entusiasmo e na alegria (cujo símbolo é o vinho); porém este entusiasmo inicial, como o vinho em Caná, com o passar do tempo, se consome e chega a faltar. Então, se fazem as coisas já não por amor e com alegria, mas sim por costume. Cai sobre a família, se não se presta atenção, como uma nuvem de monotonia e de tédio. Também destes casais se deve dizer: “Eles não têm vinho!”.
O relato do Evangelho indica aos cônjuges uma via para não cair nesta situação, ou sair dela se já está dentro: convidar a Jesus para as próprias bodas! Se Ele está presente, sempre se pode pedir que repita o milagre de Cana: transformar a água em vinho. A água do acostumar-se, da rotina, da frieza, no vinho de um amor e de uma alegria melhor que a inicial, como era o vinho multiplicado em Cana.
"Convidar Jesus para as próprias bodas" significa honrar o Evangelho na própria casa, orar juntos, aproximar-se dos sacramentos, tomar parte na vida da Igreja. Nem sempre os dois cônjuges estão, em sentido religioso, na mesma linha. Talvez, um dos dois é fiel e o outro não, ou ao menos não da mesma forma. Neste caso, que convide a Jesus para as bodas daquele dos dois que lhe conhece, e que o faça de maneira – com sua gentileza, o respeito pelo outro, o amor e a coerência de vida – que se converta rapidamente no amigo de ambos. Um amigo de família!
Edição Onésio Junior/Blog do Pessoa 

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