29 de out. de 2010

Quando a religião interfere nas eleições presidenciais


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Bom dia Senhor Carlson.


Neste ano, o grupo parlamentar evangélico cresceu 50%: 63 deputados e três senadores foram eleitos no dia 3 de outubro. Pertencem a 14 partidos. A sua prioridades para 2011? Opor-se a um eventual projeto que descriminalize o aborto. Um texto de lei muito improvável, independentemente de qual for o resultado da eleição presidencial...

A campanha de alguns setores cristãos conservadores contra a candidata à eleição presidencial do partido no poder, Dilma Rousseff (que terá como adversário no segundo turno, no dia 31 de outubro, o candidato social-democrata José Serra), acusada de querer legalizar o aborto, coloca em evidência a forte influência política das Igrejas no Brasil.

A reportagem é de Jean-Pierre Langellier, publicada no jornal Le Monde, 27-10-2010. A tradução é de
Moisés Sbardelotto.

No país mais católico do mundo – 155 milhões de fiéis – as estreitas relações entre política e religião remontam ao primeiro dia da sua descoberta (1500), na primeira cruz plantada em seu solo, segundo o costume português, enquanto era dita a primeira missa. Espada e água benta misturadas, a serviço da colônia, do Império (1808) que se tornou independente (1822), depois da República (1889).

Na sua primeira Constituição republicana (1891), inspirada no positivismo, o Brasil proclama, 14 anos antes da França, a separação entre Igreja e Estado. A Igreja é então despojada de numerosos privilégios, particularmente da atribuição de financiamento público às suas escolas e aos seus hospitais. Irá recuperá-los em 1934, depois de um intenso lobby, sob o reinado do presidente Getúlio Vargas.

O Brasil é hoje um Estado laico, em que o poder da religiosidade popular autoriza a Igreja, em prazos eleitorais, a reafirmar os seus valores e os seus tabus – particularmente a interrupção da gravidez –, intervindo, se necessário, no debate público. Mas a Igreja Católica continua tendo, no seu interior, correntes politicamente diferentes. Uma dessas correntes continua sendo fiel à "teologia da libertação", que queria ser uma análise da "força histórica dos pobres", a partir de uma releitura dos textos bíblicos nas "comunidades eclesiais de base", lugares de educação popular, de catequese e de resistência. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva moldou o seu Partido dos Trabalhadores - PT e seu próprio destino político nessa família dos católicos de esquerda.

O surgimento, na metade do século XX, e depois a explosão das Igrejas pentecostais, majoritariamente conservadoras, alimentaram uma escala à direita no âmbito da moral sexual. Reunidas em 23 grupos diversos, as Igrejas evangélicas fizeram do Brasil o maior país pentecostal depois dos EUA. Representariam 20% da população, ou seja, cerca de 40 milhões de fiéis. Unem a um antigo devocionalismo protestante, fundado nas práticas de cura e de exorcismo, uma modernidade religiosa que coloca em primeiro lugar o fervor e o aspecto afetivo. Tendo surgido nos anos 80, o neopentecostalismo defende uma ideologia de sucesso social batizada de "teologia da prosperidade", por meio da qual os pastores, muitas vezes autoproclamados, prometem uma "felicidade imediata" às massas privadas de bens de consumo e convidadas a adquiri-los por meio de milagres a serem realizados.

Esse materialismo radical autoriza todos os abusos. Por exemplo: a Igreja Universal do Reino de Deus garante aos seus fiéis a abertura "das portas do Céu" ao seu favor. Com a condição de quem, antes, e durante anos, enriqueçam o tesouro de Deus dando à Igreja a décima parte da sua renda. Resultado: a Universal se tornou um império midiático e financeiro, cujo chefe, "o bispo" Edir Macedo é acusado de formação de quadrilha e de lavagem de dinheiro.

Mas as novas Igrejas também levam muitas vezes uma resposta calorosa e fraterna às famílias que pagam o seu "dízimo". Lá onde reina a pobreza, a violência, a prostituição e a droga, onde o Estado, muito ausente, não desempenha o seu papel em matéria de saúde e de educação, elas realizam uma rede de ajuda recíproca comunitária que oferece uma certa proteção baseada na confiança. Oferecem serviços, atividades lúdicas, amizades, contatos para um eventual trabalho. Em troca, difundem as suas indicações de voto, mais ou menos precisas. Até o "dízimo", destaca o politólogo Cesar Romero Jacob, desempenha um papel de integração entre os pobres que não conseguem pagar os impostos: "Sentem-se cidadãos em qualquer lugar".

Um estudo da Fundação Getúlio Vargas "desenhou" uma "geografia da religião" no Brasil: a força evangélica se manifesta principalmente nas periferias populares das grandes cidades. Lá onde a pobreza diminuiu, graças às intervenções sociais realizadas pelo governo Lula, a Igreja Católica ganhou terreno. O presidente Lula lembra que os evangélicos o "demonizaram" durante muito tempo: "Diziam que eu fecharia as Igrejas e mudaria a cor da bandeira nacional". Em 2002, finalmente dado por favorito, ele estendeu a mão à Universal, pronta a correr em ajuda à vitória e que, desde então, sempre o apoiou.

Neste ano, o grupo parlamentar evangélico cresceu 50%: 63 deputados e três senadores foram eleitos no dia 3 de outubro. Pertencem a 14 partidos. A sua prioridade para 2011? Opor-se a um eventual projeto que descriminalize o aborto. Um texto de lei muito improvável, independentemente de qual for o resultado da eleição presidencial. Não só Dilma Rousseff e Serra excluíram a idéia de legalizar o aborto, mas não ousam nem defendem abertamente o status quo, que autoriza o aborto em caso de estupro e de ameaça à vida da mãe. Preferem exaltar "o direito à vida", o slogan curinga usado pelos partidos cristãos.
Original de: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=37774

Abraço forte, extensivo aos seus familiares, ouvines e leitores.

Por Josef Anton Daubmeier

2 comentários:

  1. Não me deixou influenciar por isto, embora exista gente que se deixe influenciar pelo que fala seus gurus espirituais.
    Pior é voce ouvir candidatos despreparados como a cria do lula se intrometer em seara desconhecida e dizer besteira como:"a deusa nossa senhora" criando uma deusa na doutrina católica, são por estas informações que se conhece a verdadeira máscara que candidatos colocam para tentar ganhar votos de eleitores.Sabendo que a dilma é atéia, seria melhor que ficasse calada para não dizer tanta besteiras.
    Importa para mim é o conteúdo que apresenta o candidato e não sua religião, opção sexual ou origem. Unica coisa que realmente faço questão para definir votos que não seja candidato a reeleição, e nem petistas, sou um anti petista convicto; já fui petista de carteirinha mas diante das atitudes do pt no poder, desisti de vez deste partido de cinicos e corruptos!

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  2. De acordo com a cientista política da Universidade de São Paulo (USP), Maria do Socorro Souza Braga, o crescimento do número de evangélicos e a perda de fiéis da Igreja Católica no Brasil são dois dos principais fatores para o reforço da ligação entre religião e política.
    A professora, que desenvolve um estudo sobre os critérios de seleção dos partidos na hora de escolher seus candidatos, explica que o peso da religião na hora de um político entrar para um partido varia de acordo com a legenda, mas todas elas enxergam os religiosos como uma ÓTIMA FONTE DE VOTOS. "Depende do partido, mas na verdade o que importa é ter VOTOS. Como os evangélicos, por exemplo, são um dos grupos de inserção que cresceu muito, ter um evangélico enquanto parlamentar é importante porque ele tem uma base eleitoral muito forte, principalmente se ele ocupar cargos expressivos dentro da igreja à qual pertence", explica a cientista.
    "Se ele é um parlamentar oriundo de uma denominação ligada à teologia da prosperidade (aquelas que levam aos fiéis a mensagem de que podem ter uma vida melhor doando parte do salário como forma de receber algo em troca para melhoria de vida) ele vai ter uma base eleitoral ainda maior, principalmente se for aos partidos mais pragmáticos, que não estão muito preocupados com um programa mais consistente. Isso vale para os católicos influentes em sua Igreja também", afirma.

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