O caranguejo-uçá, Ucides cordatus, destaca-se como um dos recursos mais explorados no Brasil, ocorrendo desde o Amapá até Santa Catarina. Na região Nordeste, o caranguejo-uçá é um importante recurso pesqueiro de elevado valor sócio-econômico, gerando emprego e renda para milhares de famílias que habitam zonas litorâneas.
A pesca do caranguejo remonta aos primórdios da história do Brasil, no entanto, os catadores costumam ficar à margem da participação de organizações de produtores e pescadores. As associações de catadores não atuam de forma adequada; a grande maioria dos catadores tem a pesca do caranguejo como único sustento, mas não possui registro-geral e, consequentemente, não podem adquirir a carteira de pescador, praticando o extrativismo na ilegalidade.
Muitos catadores são analfabetos e possuem renda mensal inferior a um salário mínimo, o que os leva àcondições precárias de habitação e higiene. Desta forma, torna-se necessário o desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao segmento, com o objetivo de reduzir a exclusão social das comunidades de catadores no Nordeste brasileiro.
Em relação às pescarias, a captura de U. cordatus sofreu redução em diversos estados brasileiros nos últimos anos. Atualmente, observa-se o declínio da atividade pesqueira nos estados do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco, de Alagoas e de Sergipe, e no norte da Bahia. Nos estados do Piauí e do Maranhão, onde a captura tem se mantido constante, observam-se indícios de sobrepesca, tais como: redução no peso e no tamanho médio dos espécimes capturados; aumento do esforço de pesca sem o aumento da captura e maior dificuldade na captura.
O colapso da pesca é comum em recursos pesqueiros que não possuem gerenciamento adequado. Em geral, o nível de exploração dos recursos pesqueiros está acima da capacidade máxima sustentável, sendo comum a falta de conhecimento dos aspectos biológicos e fatores ambientais que interferem na vida de tais recursos. Dessa forma, a exploração dos estoques torna-se insustentável e inviável do ponto de vista ecológico e econômico.
No Delta do Rio Parnaíba, ocorre um elevado esforço de pesca do caranguejo. De acordo com pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, por meio de convênio celebrado com a SEAP-PR, ocorre a captura anual de aproximadamente 20 milhões de caranguejos na Região e, o descarte sem nenhum aproveitamento, de aproximadamente 50% desses indivíduos devido à mortalidade entre a captura e o consumo. A Embrapa desenvolveu uma tecnologia que permitem reduzir as taxas de mortalidade durante as etapas de captura, manuseio, estocagem e transporte.
A tecnologia foi validada em parceria com a Cooperativa de Catadores de Caranguejo DELTA-UÇÁ de Ilha Grande-PI e, a sua utilização permitirá reduzir 95% da mortalidade dos animais, reduzindo o descarte. Com a adoção desta tecnologia, os pescadores poderão elevar o preço do produto devido a melhor garantia de que ele chegará vivo ao consumidor. Os comerciantes e transportadores, por sua vez, não terão prejuízos com a compra de animais que posteriormente seriam descartados.
Dentro deste contexto, a Embrapa Meio-Norte em parceria com a UFPI, UESPI, ITCP e ICMBio, desenvolvem um projeto financiado pelo CNPq, que busca assegurar a sustentabilidade da pesca do caranguejo-uçá capturado na Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba e áreas adjacentes por meio da transferência da tecnologia citada, auxiliando a solucionar gargalos do Arranjo Produtivo Local do Caranguejo e, através do estudos de aspectos da bioecologia da espécie.
Jefferson F.A. Legat
Pesquisador da Embrapa Meio-Norte
Por Carlson Pessoa
Eu sabia que o analfabetismo estava no meio desse misere todo. Temos entao que combater esse mal . Que as prefeituras comecem a fazer isso de forma mais eficaz.
ResponderExcluirParabéns pelo excelente trabalho e a apresentação.
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