20 de out. de 2009

LEITOR: Carta sobre os cegos endereçada àqueles que enxergam

A cidade de Parnaíba, que começou a se formar no início dos anos 1700, reuniu ao longo dos seus primeiros dois séculos, exemplos de amor a terra, vindo de seus filhos. Do início, com a invasão dos portugueses, esse exemplo vem do índio Mandu Ladino. Com grande amor a terra, ele e seus companheiros se sacrificaram em defesa do chão em que viviam seus ancestrais há milhares de anos, chão herdado de Deus.

Outro grande exemplo, vem de Simplício Dias da Silva, um raro exemplo de um natural de uma pequena vila do Brasil colonial, nascido rico no século XVIII, que viajou pelo Mundo e não teve dúvidas, voltou para viver aqui e participar efetivamente da construção de sua terra.

Com o passar dos tempos, a vila virou cidade, foi crescendo e aventureiros de outras paragens aportaram neste chão, e como não tinham vínculos maternos com esta terra, a única preocupação foi formar grandes fortunas, facilitados pela fabulosa situação geográfica de Parnaíba. Esses abastados não se preocuparam em dotar a cidade de uma bandeira, nem de um hino, elementos cívicos primários capazes de despertar amor a uma terra ou a alguma causa, de unir um povo.

Parnaíba só passou a contar com uma bandeira e um hino depois de 1963. O importante era o livro caixa, ou alguma ação que os privilegiassem na vida social. Assim, a nossa Parnaíba do século passado criou filhos acostumados a olhar somente os próprios interesses e de seus familiares, sempre cegos em relação ao coletivo.

O parnaibano não foi educado a ver a sua terra como enxergava o Mandu Ladino, ou o Simplício Dias da Silva. Saíam para adquirir conhecimentos nos grandes centros e por lá ficavam, e ficavam cegos em relação a terra que os patrocinou no ganho de algum diploma.

Alguns, ao visitar Parnaíba, esperando encontrar a cidade que tinham como deles, não conseguem ver e admitir a mudança, e refutam, desaprovam a nova cidade.

Mas, no novo tempo e na nova era, os parnaibanos parecem estar finalmente criando olhos para o bem da cidade, e dificilmente os cegos de outrora, terão novas chances. Na gestão pública de Parnaíba, não terão mais vez os cegos que não assumem cargos, mas que tomam posse, se apropriam do que é público. Assim, infestam a cidade de placas alusivas a eles mesmos, ou a parentes próximos, nomeiam ruas, praças, prédios que levam seus nomes, verdadeiras pirâmides para o seu eterno nome e ego. Não permitem desenvolvimento de projetos que não os promovam, mesmo que elevem o bem comum.

Os cegos maquinam sempre em favor próprio, ou a favor de sua turma de partidários e ignóbeis de última hora, como se a cidade ainda não tivesse cruzado o Século das Luzes, onde o despotismo foi condenado junto com os reis cegos, mas cegos pelo poder absoluto.

Os cegos desprezam o povo parnaibano, condenam sua cultura que há pouco quase sumiu: como exemplo – o bumba-meu-boi, e sendo cegos, não podiam e nem podem perceber a sua beleza. Assolam o nosso patrimônio histórico, o que para eles não tem o menor valor.

Riscam dos livros de história o nosso precioso passado, pois, para esses cegos, o período da Parnaíba grandiosa é somente o período deles. Devastam e são negligentes com o nosso capital natural: como exemplo – a Lagoa do Portinho. Gostam de assumir lugar de destaque nas instituições, transformando-as em escada para sua projeção social, desprezando o fim para quais estas foram criadas.

Como não enxergam, as suas ações são pintadas à sua maneira na sua mente insensível, sempre tentando ludibriar até os que enxergam.

Para os cegos de olhos remelados, não existia e nem existe o povo parnaibano, mas somente suas famílias que as consideravam e consideram de primeira linhagem.

Resta saber se nós míopes de hoje, os parnaibanos de agora, queremos ser curados e se realmente vamos mudar, querer enxergar nitidamente, colocando Parnaíba na sua rota verdadeira, rumo ao futuro grandioso da cidade que tem a força do seu mar – o Oceano Atlântico. E isso, só se faz com trabalho, muito envolvimento e respeito.

(Carta Sobre os Cegos endereçada àqueles que enxergam – é título publicado por Denis Diderot, em 1749).

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