Parnaíba é uma cidade que tem potencialidades para implementação de um desenvolvimento próprio, mas que patina na ingerência e incompetência da representação política e administrativa, há anos. Dentre essas potencialidades, as belezas naturais formam um complexo de atrativos turísticos sem igual. Com muito menos, outras regiões despontam com a indústria que mais emprega no mundo: o turismo!
Situação geográfica privilegiada, ponto equidistante entre as capitais Teresina, Fortaleza e São Luis, aeroporto “internacionalizado” com destaque para posição da nossa costa que mais se aproxima dos EUA e da Europa, malha viária de boa qualidade, aspectos socioculturais riquíssimos, mas afinal o que nos falta?
A bem da verdade ainda não tivemos o necessário planejamento para o setor com investimentos contínuos em uma política pública que melhorasse a nossa infraestrutura e o capital social (melhoria na prestação de serviços). Inegavelmente o estabelecimento de voos regulares permite um fluxo maior e mais cômodo a quem vem à cidade à passeio, serviço ou à negócios. É preciso investir na consolidação deste fabuloso destino turístico.
O Governo do Estado viabilizou as condições para a operacionalização da Azul Linhas Aéreas Brasileiras que iniciou a voar para Parnaíba em março de 2014. Porém, de lá até aqui há uma instabilidade, “áreas de muita turbulência” e pouca transparência. Nesse ínterim já se paralisaram as operações por duas vezes.
Muito recentemente, a Azul informou que está realizando ajustes em sua malha aérea. Por conta disso, a partir de 14 de fevereiro a companhia deixou de operar em Parnaíba. Esta decisão já havia sido tomada no ano passado quando em nota a companhia anunciou o encerramento das atividades em 5 de novembro de 2015.
Naquela oportunidade eu me manifestei através de artigo (http://www.phbemnota.com/2015/09/a-azul-o-desinteresse-vermelho-e-das.html), em setembro daquele ano. Após anunciar a suspensão de voos para Parnaíba, a Azul voltou atrás e manteve suas operações na cidade piauiense durante o período de alta temporada que foi de 17 de dezembro de 2015 a 14 de fevereiro deste ano. Reparem que coincide com o melhor período, ou seja, talvez não tenha sido pelas condições cobradas para a permanência dos voos. Interesse econômico?!
Passado este período ela encerrou as atividades. Estamos sem voo novamente.
Atualmente, nenhuma outra empresa faz linha para a cidade do litoral piauiense. O Aeroporto Internacional Prefeito Dr. João Silva Filho tem localização turística estratégica: fica entre os Parques Nacionais de Jericoacoara (CE), Lençóis Maranhenses (MA) e Sete Cidades (PI) e para completar a diversidade de atrativos naturais temos ainda o Delta do Parnaíba.
Por que a suspensão dos voos se ele é viável? Números da Infraero mostram que os voos desta linha têm uma ocupação de assentos considerável, o que desmistifica a ideia de inviabilidade econômica, além dos incentivos dados pelo governo estadual à empresa. Parece que falta “algo mais”...
Segundo a Diretora de relações Institucionais da Azul, Patrizia Xavier, em nota enviada ao Deputado Federal Paes Landim ela pede o apoio do parlamentar implorando: “O aeroporto de Parnaíba precisa de adequações e o Governo do Piauí está subcontratando a Infraero para tais ajustes e obras (...), até o dia 2 de fevereiro o Governo do PI ainda não tinha assinado nada com a Infraero (...) Precisamos dessas atividades para a manutenção da nossa operação nesse aeroporto e localidade (...), Aproveito para pedir-lhe encarecidamente que nos ajude com o contato com as autoridades do governo do PI para que tudo seja resolvido o quanto antes, garantindo nossa permanência por lá”. A imprensa local noticiou que em seguida, 11 de fevereiro, o deputado enviou cópia desse expediente ao Governador Wellington Dias e espera-se que as providências sejam tomadas!
A mitologia grega fala de Ícaro que voou com asas artificiais construídas por seu pai, Dédalo, a partir da cera do mel de abelhas e penas de gaivota. Antes de voar fora advertido para não se aproximar muito do sol, pois o calor poderia derreter a cera. Mas, ele deslumbrou-se com a bela imagem do astro rei e, sentindo-se atraído, voou em sua direção esquecendo-se das orientações de seu pai, talvez inebriado pela sensação de liberdade e poder. A cera de suas asas começou a derreter e logo caiu no mar Egeu.
Qual a verossimilhança que guarda este mito com os dias vividos na política local? Existe um “Rei Minos”? E “Minotauro”? E o “labirinto”? As nossas “asas” são postiças e coladas com cera? Elas nos proporcionam poder e liberdade? Somos livres? Quem nos aprisiona? Mais um convite à reflexão...
Os mitos nos ajudam a entender as relações humanas e guarda em si a chave para o entendimento do mundo e da nossa mente analítica. A mitologia grega, repleta de lendas históricas e contos sobre deuses, deusas, batalhas heroicas e jornadas no mundo subterrâneo, revela-nos a mente humana e seus meandros multifacetados. Atemporais e eternos, os mitos estão presentes na vida de cada Ser humano, não importa em que tempo ou local. Somos todos, deuses e heróis de nossa própria história.
O sonho da maioria dos parnaibanos não é voar, mas ver pessoas voando pra cá para aquecer a economia local. Não somos de cera, mas, em boa medida, a nossa representação política parece que sim. Que “os homens e as mulheres de cera” não interrompam esta possibilidade!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.