Das praias à Serra da Capivara, onde poderá ter nascido o homem americano e onde se encontra a maior coleção de figuras rupestres do mundo, o Piauí tem muito para oferecer aos visitantes, incluindo boa gastronomia, cultura e histórias inspiradoras. Ficam a faltar mais ligações aéreas para que consigamos chegar a este estado brasileiro facilmente. Até lá, vale como complemento de uma viagem ao nordeste do Brasil ou como ponto de paragem da Rota das Emoções.
DESCUBRA O PIAUÍ
1. Praias, desportos aquáticos e ecoturismo
2. As dunas, o centro e o Delta do Parnaíba
3. Turismo comunitário: mulheres empreendedoras do litoral do Piauí
4. A Serra da Capivara e a origem do homem americano
5. Quando ir e como chegar
1. Praias, desportos aquáticos e ecoturismo
Para quem férias são sinónimo de praia, sol e chinelo no pé, o litoral do Piauí pode ser uma boa opção. Cajueiro da Praia reúne os ingredientes para férias do género. Em Barra Grande, numa antiga vila de pescadores, encontrará uma animada e descontraída vida sem grandes aglomerados de gente.
À sua espera estarão praias com águas em tons cristalinos, alojamentos amigos do ambiente, restaurantes e pequenas lojas com artesanato local. Os amantes dos desportos náuticos encontram aqui um paraíso do kitesurf com potencial para a prática de outras atividades como stand-up paddle ou mergulho.
Para além das praias, Cajueiro da Praia goza de uma variada fauna e flora que contribuem para que seja visto como um paraíso ecológico. O município ainda abriga o Cajueiro Rei que é considerado o maior do mundo devido aos seus 8.810 metros quadrados. E não, o nome do município não nasce por causa desta árvore. Segundo o Turismo do Piauí, o nome do município deve-se a um pé de caju que deveria ficar numa ponta de uma praia e que serviria de referência para quem por ali passava.
Com um litoral de apenas 66 quilómetros, o menor do Brasil, o estado concentra na cidade de Luís Correia o maior número de praias das quais as mais procuradas são Atalaia e Coqueiro. Nesta cidade, existem hotéis e pousadas para diferentes gostos e bolsos, tal como restaurantes, cujas especialidades incluem peixes como pescada amarela, pargo e camurupim e, ainda, diversas formas de apresentação gastronómica do mais famoso crustáceo da região, o caranguejo-uçá.
Conjuntamente com o do Maranhão e o do Ceará, o litoral do Piauí integra a Rota das Emoções, na qual se destacam as atrações Delta do Parnaíba, Jericoacoara e Lençóis Maranhenses. Criada em 2005, a Rota nasce de uma iniciativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e do Ministério brasileiro do Turismo, juntamente com empresários do setor destes estados do nordeste, com o objetivo de promover o turismo na região e atrair mais visitantes para os mesmos.
2. As dunas, o centro e o Delta do Parnaíba
Ainda que não sejam tão extensos como os “lindíssimos” lençóis maranheses, os lençóis piauienses oferecem uma experiência semelhante devido à impressionante paisagem proporcionada pelas dunas de areia branca e fina, intercaladas pelo azul das piscinas naturais que se formam com as chuvas.
Os passeios de UTV são uma das várias opções que encontramos para explorar os lençóis. Os amantes de aventura e adrenalina podem optar por fazer skibunda ou sandboard. Existe a hipótese de se ficar só a relaxar junto, por exemplo, da Lagoa do Portinho, onde se pode igualmente mergulhar.
Para descobrir mais sobre a história do Parnaíba e a geografia do Delta, vale a pena visitar o centro histórico da cidade, o Museu do Mar e o Porto das Barcas onde não falta artesanato local, bares e restaurantes.
Imperdível será mesmo a revoada dos guarás, na Baía dos Cajus, uma vez que só ali verá aves desta espécie que se destacam pelo vermelho vivo.
Ainda que a revoada seja um espetáculo da natureza único e memorável, o passeio de lancha até lá também é enriquecedor por nos mostrar mais sobre a fauna e flora do Delta. Conforme a hora, pode incluir uma paragem na Ilha das Canárias para um saboroso almoço.
3. Turismo comunitário: mulheres empreendedoras do litoral do Piauí
Qualquer que seja a razão pela qual visitamos o litoral do Piauí, vale a pena reservar tempo para descobrir a Associação Trançados da Ilha e a Casa das Rendeiras que ficam na Ilha Grande. Ambos os projetos não só recuperam tradições da região como guardam histórias inspiradoras de empoderamento feminino e providenciam sustento a famílias da comunidade que, de outro modo, teriam que procurar trabalho fora da região.
“Casei-me aos 15 anos e pensava que era o marido que tinha que dar tudo à mulher. Aí veio a necessidade”, explica-nos Serrate Maria, 56 anos, que decidiu não ficar de braços cruzados face à situação. Assim, sentou-se com a vizinha para aprender o trançado da ilha e, tal como ela, passou a dominar a técnica que permite transformar a palha de carnaúba em belas cestas, utensílios para a cozinha, tapetes, malas, entre outros objetos.
O trançado viria a mudar a sorte de Serrate e de outras mulheres da região. “Acreditamos que não tínhamos que depender do marido e tivemos a chance de mudar de casa, comprar uma televisão, pedir um empréstimo”, comenta. “Eu fui aquela pessoa que aprendeu e foi em busca de mercado”, conclui.
Vinte e três anos após a sua fundação, a Associação criada por Serrate com a ajuda da Sebrae e do Artesanato Solidário, conta com a colaboração de 25 famílias da região. “Nunca nos faltam encomendas, graças a Deus. Nós estamos sempre a inovar”, revela a artesã que já conseguiu levar a cestaria da Ilha para países como Finlândia e Alemanha.
Nas proximidades, não muito longe, a cerca de cinco quilómetros de distância, cerca de 20 mulheres mantêm viva a arte da renda de bilros que foi trazida pelas portuguesas durante a época colonial. A técnica de cruzar fios têxteis sobre um pique (molde) e com a ajuda de bilros não só trouxe rendimento como abriu portas a estas artesãs no mundo da moda.
Hoje, para além de ser uma atração turística, a Casa das Rendeiras do Morro das Marianas conta a história de sucesso de uma arte que foi sendo transmitida de geração em geração e que chegou às passarelas do São Paulo Fashion Week.
No bairro Morro das Marianas, as rendeiras criam peças de vestuário, incluindo vestidos de noiva, acessórios e mantas. Quem quiser pode visitar a Casa, conhecer o processo de produção e conhecer a história destas mulheres de força.
4. A Serra da Capivara e a origem do homem americano
Para além das paisagens de tirar o fôlego, desfiladeiros e formações rochosas monumentais, o Parque Nacional da Serra da Capivara guarda a maior coleção de pinturas rupestres do mundo. Entre as várias figuras, destaca-se aquela que pode ser a cena de beijo mais antiga do mundo.
Estima-se que o Parque, localizado no sudeste do Piauí e com cerca de 130 mil hectares, tenha mais de mil sítios arqueológicos com pinturas e gravuras rupestres, algumas a retratar cenas do quotidiano, uma temática menos comum de se ver nas pinturas pré-históricas encontradas na Europa, que representam, na maioria, momentos de caça e animais.
Outros vestígios encontrados na Serra da Capivara, como pedaços de carvão e instrumentos de pedra, abrem mão à hipótese de o lugar ter sido povoado há mais de 30 mil anos. A hipótese é defendida pela investigadora franco-brasileira Niéde Guidon, cujo trabalho mudou o rumo de quem vivia na região. É graças ao trabalho desta investigadora que a Serra é hoje um parque protegido que gera também emprego para a população local.
A história e evolução da região, as origens da Terra e da vida, o processo de formação da Terra e a evolução dos mamíferos podem ser descobertos no Museu da Natureza. Inaugurado em finais de 2018, é um museu bastante interativo. Quem quiser pode experienciar voar de asa delta sobre a região através de um simulador que usa a realidade virtual.
Quer esteja em São Raimundo Nonato, a desbravar a Serra ou na Cerâmica da Serra da Capivara, vai, com certeza, ouvir falar de Guidon devido ao seu contributo para o desenvolvimento da região.
Para além de ter ajudado a criar o Parque Nacional, nos anos 1970, a arqueóloga, que completou 90 anos, em 2023, fomentou a construção de escolas, fundou a fábrica de cerâmica, incentivou o turismo e transformou donas de casa da área em “guardiãs” do parque.
Fruto do seu trabalho de investigação na Serra e das escavações, a arqueóloga colocou em causa a chamada Teoria de Clóvis que acredita que o Homo Sapiens teria chegado ao continente americano há 12 mil anos, pelo estreito de Bering. De acordo com a arqueóloga existem vestígios humanos de há 32 mil anos na Serra da Capivara.
Niéde Guidon dedicou as últimas cinco décadas da sua vida ao Parque e à região. Após a pandemia, e por motivos de saúde, pouco sai de casa. Deste modo, dificilmente se cruzará com a arqueóloga no parque ou em Raimundo. Ainda assim, se lhe suscita curiosidade, pode ficar a saber mais sobre o seu trabalho e tese da origem do homem americano no Museu do Homem Americano.
5. Quando ir e como chegar
De dezembro a março, esperam por temperaturas elevadas e dias ensolarados sendo um bom período para quem quer fazer praia. Por ser época de verão, nesta altura acontecem vários eventos no estado como, por exemplo, o Carnaval.
Segundo Giordanno Macedo, técnico de conservação do Parque Natural da Serra da Capivara, a melhor altura para visitar a Serra é entre janeiro e junho, contudo, a época de inverno, de junho a setembro, pode ser uma boa opção por oferecer temperaturas mais amenas.
A primavera (de setembro a dezembro) e o outono (de março a junho), épocas de temperaturas agradáveis, são boas estações para descobrir as cidades do estado complementando com o litoral ou com a serra.
Uma vez que ainda não existem voos diretos para os aeroportos dos estados do Piauí, a melhor forma será voar para Fortaleza, São Luís do Maranhão ou Recife (no caso de viajar para a Serra da Capivara) e conforme o destino apanhar um voo doméstico ou regional da Rota das Emoções.
O SAPO Viagens visitou o Piauí a convite do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e da VBRATA (Visit Brazil Travel Association)
Fonte: viagens.sapo.pt