A poetisa Luiza Amélia de Queiroz Brandão, pediu em um de seus poemas, para ser sepultada à sombra de uma gameleira.
Foto: Blog do Colégio Nossa Senhora das Graças
Sepultada no Cemitério da Igualdade, o seu pedido não pôde ser atendido. Contudo, tempos depois, de forma misteriosa, uma gameleira rebentou de dentro de seu túmulo, em circunstâncias desconhecidas. Tornou-se uma magnífica árvore, de verde vivo, reverberante e de copa exuberante. É uma encantadora gameleira, que dá sombra e beleza ao jazigo da poetisa.
Em seu notável livro “Personalidades atuantes da História de Parnaíba – Ontem e Hoje”, a professora Aldenora Mendes Moreira assinala:
“Luíza Amélia conseguiu ler os principais autores de sua época, superou as dificuldades do meio, acumulou vasto conhecimento, lutou contra a própria família, para melhor se firmar e para melhor garantir sua liberdade de expressão; marcou presença e conquistou espaço; única mulher a figurar no quadro de Patronos das Academias: Piauiense e Parnaibana de Letras, transpondo, assim, os degraus da imortalidade, com justiça, chamada: Princesa da Poesia do Piauí (...).”
Sem dúvida, deve ter enfrentado as incompreensões e preconceitos de familiares e contemporâneos, numa sociedade patriarcal, em que a mulher devia se restringir a prendas e afazeres domésticos, como também reconhece a professora Rosana Cássia Kamita, da Universidade Federal de Santa Catarina, na “orelha” do livro “Georgina ou os efeitos do amor e outros escritos inéditos – Luiza Amélia de Queiroz”, EDUFPI/2018, organizado por Algemira de Macedo Mendes e Daniel Castelo Branco Ciarlini:
“Ser mulher e escritora no século XIX foi um desafio aceito por Luiza Amélia e hoje temos a possibilidade de voltar aos seus poemas, e não apenas para que sejam lidos, o que por si só já valeria a publicação, mas para que possam ser pesquisados, avaliados e virem a ocupar o espaço merecido na literatura.”
Por muitos considerada a primeira e a mais importante poetisa do Piauí, ela tem feito parte de quase todas as antologias poéticas de nosso Estado. É citada em todos ou quase todos os livros sobre a história da literatura piauiense. Portanto, é uma alta personalidade literária de nosso estado, e merece todas as nossas homenagens e reconhecimento. Ela mesma fez a descrição de seu porte físico e dotes espirituais no soneto:
Nasceu na cidade de Piracuruca, em 26 de dezembro de 1838, filha de Manoel Eduardo Queiroz e Vitalina Luiza de Queiroz, mas passou a maior parte de sua vida em Parnaíba. Casou-se em primeiras núpcias, em 1859, com José Pedro Nunes, e em segundas, viúva, com Benedito Rodrigues Madeira Brandão, em 1888. Morou no célebre sobrado de azulejo, perto do Porto das Barcas.
Faleceu em Parnaíba, perto de completar 60 anos de idade, no dia 12 de novembro de 1898. Foi sepultada, como dito, no Cemitério da Igualdade.
Seu túmulo, embora sem luxo e sem ostentação, é uma obra de arte, um sóbrio mausoléu, que recebe a bênção da beleza e da sombra de sua frondosa e exuberante gameleira.
Texto extraído da crônica de Elmar Carvalho I Edição: Jornal da Parnaíba