Levantamento inédito feito pela Repórter Brasil revela que 493 municípios, ou seja, 1 em cada 5 que fizeram testes encontraram esses produtos acima do limite de segurança pelo menos uma vez entre 2018 e 2020. Teresina está na lista.
Diferente dos sintomas imediatos e já conhecidos após o consumo de água contaminada por coliformes fecais, a presença contínua desses produtos aumenta o risco de doenças crônicas que podem ter consequências silenciosas a longo prazo, como problema no fígado, rins e sistema nervoso, além de aumentar o risco de câncer.
São Paulo, Florianópolis e Guarulhos estão entre as 75 cidades com o alerta máximo: locais onde a água apresentou esse problema de modo recorrente nos três anos analisados. Os maiores riscos à saúde estão justamente no consumo contínuo dessas substâncias acima do limite.
As informações foram obtidas do Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano), do Ministério da Saúde, que reúne os resultados de testes feitos pelas empresas e instituições responsáveis pelo abastecimento de todo o país. Os dados foram interpretados pela Repórter Brasil, com a ajuda de técnicos especialistas, e podem ser consultados por cidade na página do especial Mapa da Água.
Os subprodutos surgem da reação de substâncias que podem estar na água, como algas e esgoto, com o cloro ou outro desinfectante. Entretanto, o processo de tratamento é essencial, pois impede a propagação de doenças que podem ser fatais, como cólera, giardíase, disenteria e febre tifóide.
“O risco é realmente quando o monitoramento mostra que, durante anos, a água está com o valor elevado desses produtos, porque tem um efeito cumulativo que pode trazer consequências a longo prazo”, afirma Valter Pádua, professor do departamento de engenharia sanitária e ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Dos cinco subprodutos monitorados no Brasil, trihalometanos e ácidos haloacéticos são os que mais aparecem acima do limite. Esses grupos são classificados como “possivelmente cancerígenos” pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“É uma encruzilhada. A gente não pode deixar de usar cloro, porque o risco de ter um surto de tifo ou cólera é muito sério. Por outro lado, você não pode usar cloro demais, não pode ter essa produção de produtos secundários [outro termo para os subprodutos da desinfecção] em alta concentração, pois isso também pode gerar um risco das pessoas desenvolverem câncer”, pontua Paulo Barrocas, professor e pesquisador do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da Fiocruz.
O Ministério da Saúde determina limites considerados seguros para cada um dos subprodutos monitorados na água, a fim de evitar o aparecimento de doenças na população. As instituições responsáveis pelo abastecimento (empresas, órgãos públicos ou outros grupos) devem realizar os testes para verificar a presença dessas substâncias e a sua concentração na água de 2 a 4 vezes por ano.
A norma brasileira determina que, em caso de testes acima do limite permitido, a população deve ser avisada, de forma transparente e clara, sobre os riscos que estão correndo e sobre as medidas que serão adotadas pelos responsáveis para solucionar o problema. Em nenhum dos municípios apurados pela reportagem isso aconteceu: São Paulo, Guarulhos e Florianópolis.
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Ao 180, a Águas de Teresina se manifestou sobre o caso:
A Águas de Teresina destaca que realiza monitoramento constante da qualidade da água que é distribuída na casa dos teresinenses. Por ano, são realizadas mais de 120 mil análises para o controle dessa qualidade, a partir de coletas realizadas em 120 regiões estratégicas da cidade, a partir dos Pontos de Controle de Qualidade (PCQs). Além disso, a empresa contrata semestralmente um laboratório externo para atestar os resultados.
O mais recente relatório de ensaio, emitido em setembro de 2021, atestou que a água distribuída aos teresinenses atende aos padrões de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Portanto, o dado indicado em reportagem do portal Uol, referente a estudos entre 2018 e 2020, não condiz com informações atuais sobre a qualidade da água na zona urbana de Teresina. Dos 1.066 testes feitos naquele estudo, menos de 0,1% difere dos resultados analisados recentemente.
A Águas de Teresina reforça que a água distribuída na cidade é própria para o consumo e não gera nenhum risco à saúde das pessoas. Anualmente, a empresa emite relatório de qualidade da água a toda população, deixando transparente todos os parâmetros avaliados, tais como cloro, cor, turbidez, ph, entre outros. Em 2021, a concessionária realizou diversas melhorias para ampliar ainda mais a eficiência dos processos, entre elas está a modernização dos seus três Laboratórios Operacionais.