Ao que tudo indica, o simples ato de respirar ou falar pode propagar o novo coronavírus. É o que declarou um alto responsável científico do governo americano nesta sexta-feira (3), em um momento em que a Casa Branca se prepara para recomendar o uso de máscaras a toda a população.
A transmissão da Covid-19 pela expiração pode ser a explicação procurada durante os últimos meses para compreender a alta capacidade de contágio do vírus, já que pessoas assintomáticas seriam responsáveis por grande parte da propagação da doença. Até o momento, os cientistas haviam confirmado a transmissão da Covid-19 através de gotículas de saliva expelidas pela boca ou pela coriza nasal, mas jamais pelo ar liberado na expiração.
O diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas, Anthony Fauci – conselheiro do presidente americano, Donald Trump, sobre a epidemia – afirmou nesta sexta-feira ao canal de televisão Fox News que "o vírus, na verdade, pode ser transmitido quando as pessoas estão apenas falando, além de quando tossem e espirram".
A afirmação de Fauci é baseada em resultados de pesquisas científicas realizadas nos Estados Unidos que consideram que a Covid-19 também é propagada quando o ar é expirado pelas pessoas.
"Os atuais trabalhos de pesquisa defendem a possibilidade de que a SARS-CoV-2 possa ser transmitida pelos bioaerosóis gerados diretamente pela expiração", escreve o presidente do comitê sobre as doenças infecciosas emergentes, Harvey Fineberg, em uma carta em nome de acadêmicos e cientistas americanos.
O especialista cita quatro estudos e sublinha que outras pesquisas seriam necessárias para a compreender o verdadeiro risco de contaminação da Covid-19 através da expiração. Se já se sabe que o vírus está efetivamente presente na respiração, ignorava-se, até o momento, que essa poderia ser uma via importante de transmissão.
O que dizem as pesquisas sobre o assunto
Em um estudo, pesquisadores da Universidade do Nebraska encontraram amostras do código genético (RNA) do coronavírus onde pacientes estavam isolados. Eles lembram que detectar essas partículas não é equivalente a encontrar o vírus inteiro.
Além disso, pesquisadores da Universidade de Hong Kong observaram recentemente que a utilização de máscaras reduziria a quantidade de vírus expelida pelos doentes, embora o teste tenha sido realizado com outros vírus e não com o SARS-CoV-2.
Já pesquisadores chineses colheram, em Wuhan, epicentro da pandemia, amostras do coronavírus no ar em diversos hospitais da cidade. Eles descobriram, por exemplo, concentrações elevadas da Covid-19 nos banheiros e salas onde os profissionais da saúde retiravam seus equipamentos de proteção.
Diante dessas novas evidências, autoridades sanitárias americanas se preparam para anunciar a utilização de máscaras em uma escala nacional.
"Não acredito que será obrigatório", afirmou Trump na quinta-feira (2). Em Nova York, o prefeito Bill de Blasio já pediu que os moradores cubram os rostos ao saírem nas ruas.
(Com informações da AFP)