Já atravessei a ponte do
Jandira uma pá de vezes desde que estou no Piauí. Já me embrenhei outras tantas
vezes neste pedaço de fronteira aqui entre Parnaíba no Piauí e o Maranhão,
Araioses, Tutoia, Água Doce, Magalhães de Almeida, Brejo e São Bernardo,
somente pra dar nome a algumas cidades. E o pouco que vi dá pra imaginar o que
a gente vai encontrar mais lá pra dentro se tiver coragem de entrar.
Agora em fevereiro li matéria
publicada em portais e blogs onde o secretário de educação da terra de Sarney,
do reggae e do babaçu, se gabava de que o professor no Maranhão tem o mais alto
salário do Brasil. Isso pra um estado miserável, sem indústrias ou outras
atividades que gerem impostos. O governador metido a comunista Flávio Dino,
aproveitando a folia do carnaval aumentou no dia 27 daquele mês o salário para
R$5.750 pra um professor de 40 horas semanais.
No caso daquele professor
em início de carreira e com 20 horas semanais a baba é de R$2.875. Desde 2015,
tão logo colocou os dois pés dentro do Palácio dos Leões, Dino deu aumento
salarial pra categoria dos professores na base de mais de 30%. Quem disse se
gabando e estufando o peito foi o secretário Felipe Camarão. Dizendo assim
ninguém acredita, mas ao que parece o Maranhão anda nadando em dinheiro.
Qualquer pessoa que não
esteja com febre e ainda seja bom da cabeça percebe que alguma coisa está
errada. Muita esmola pra pouco milagre, como se dizia nos bons tempos de dona
Onorata, lá no bairro de Fátima. Onde é que pode uma coisa dessas? Um Maranhão
pobre, atrasado, hostil, com sua gente necessitando de um tudo, mas generoso
com seus políticos seculares e as suas famílias tradicionais.
O Maranhão de famílias dessas
que têm brasão na parede e tudo o mais, enriquecidas com o dinheiro público ou
explorando sua população miserável e analfabeta, pagando salário de alto
executivo a professor pra depois, passados dois, três meses não poder mais
cumprir a folha.
O Maranhão tem uma pobreza
e um atraso que derrubam feito catapora ou caxumba, melhor dizendo, a papeira,
em casa de pobre que tem muito menino. Uma pobreza e um atraso que contaminam a
região fronteira com o Piauí. Porque enquanto se paga mais de cinco mil reais
pra um professor de quarenta horas semanais se embrenhar no mato, os hospitais
de Parnaíba vivem cheios, atulhados de gente da terra do comunista por
correspondência Flávio Dino.
Eu tenho muitos amigos e
conhecidos que vivem na chamada semana corrida ou aos finais de semana saindo
de Parnaíba pra o interior do Maranhão levados por este canto de sereia chamado
de melhor salário do Brasil. Não é apenas estadual. Muitas prefeituras também
pagam salários a peso de ouro. É fácil imaginar a qualidade das instalações e
as condições de trabalho que um professor, depois de passar em média quatro
anos com a bunda sentada numa cadeira, formado em pedagogia, letras, filosofia,
enfermagem, nutrição, fisioterapia e direito vai encontrar de Maranhão adentro.
É fácil imaginar a
situação de um professor em início de carreira, saído da Parnaíba, doido pra
ter um carrinho ou uma motocicleta, tendo que se sujeitar a percorrer
distâncias enormes pra dar aula naquele fim de mundo. Correndo feito maluco e tendo
que gastar mais da metade dos cinco mil reais somente com combustível, hospedagem,
roupas, calçados, alimentação entre outros, pra chegar numa sala de aula em lugares
distantes, mal localizados e pouca clientela estudantil.
Toda sorte de
dificuldades. Escolas improvisadas em casas de taipa, casas cobertas com palhas
de babaçu e falta de transporte de qualidade. Enquanto isso outros setores
produtivos vão sendo esquecidos ou colocados de lado. Estradas, pontes, rede
elétrica, abastecimento de água, hospitais, delegacias, esses equipamentos que
geram a curto prazo conforto à população. E ainda há quem diga que a situação
está melhorando pra justificar uma medida dessas!
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor